Por Victor Apolinário, colaboração para o FFW
Fotos: Arthur Oliveira
Para ouvir durante a leitura: SOUNDCLOUD
“Essa é uma porra de campo minado!” é com o pensamento do célebre etnógrafo urbano Mano Brown, presente na faixa “Fórmula Mágica da Paz”, que dou início a análise de âma(r)go(r) do Pertencimento e direciono o teu olhar crítico/emocional para a série fotográfica homônima: A Fórmula Mágica da Paz.
pertencer
Verbo
- transitivo indireto
fazer parte de; ser parte do domínio de.
Aplicação numa frase:
“era uma questão que pertencia à filosofia”
Abrimos o microfone em prospecto de intermediar novos formatos de vida, daquele jeitão, com inúmeras reticências que todo brasileiro faz com questões públicas. O corpo negro, gênero e recortes sociais tornaram-se segmento, finalmente. Estampamos alguns outdoors aqui e acolá. Vemos a menina dos olhos em algumas marcas, de forma escassa, mas temos. Em perspectiva, ainda somos uma micro fatia da pizza do giro capital, acompanhada da borda recheada do bom mocismo, com uma pitadinha – a gosto – de seriedade. “- Essa porra é um campo minado”.
Vivemos no campo do inimigo sem direito à abastecer os cartuchos e tampouco livres para chamar soldados de nossa rede de combate. Pow, pow e pow – em tiros contados. Permearam alguns bravos soldados em campos de guerra, porém solitariamente. Nos encontramos em acasos, nas reuniões de pauta. Ocasionalmente cruzamos histórias nas redes sociais, gravações de programas de tv, sessões de fotos para um veículo de moda e na amplificação da luta “patrocinada”, o tal lugar de fala em que nossa voz nunca foi de comando, por mais que fôssemos protagonistas.
“Quantas vezes eu pensei em me jogar daqui,
Mas aí, minha área é tudo o que eu tenho.
A minha vida é aqui, eu não consigo sair.”
“Eu tento adivinhar o que vc mais precisa, levantar sua goma ou comprar uns pano?”
Ao marginalizar os nossos CPFs em vivência pela busca do auto reconhecimento, perdemos sem motivos a experiência do sofrimento. Em sua mecânica mais simples, a vida já nos rouba um tempo absurdo e o convencer a si mesmo diariamente de um futuro promissor, impossibilita a experiência do choro. Ou dá ou desce. Ou é nota 15 ou você não tem chance de ser alguém. Artista? Jamais. Engole choro e come. Toma jeito de homem. Já falei que não pode abrir a porta sem pedir. Come na cozinha e quieto! Lambeu o prato? Boa noite e que Deus abençoe.
Particularmente, vivi poucas memórias de lágrimas, em público – principalmente.
Fui catequizado a servidão. Involuntariamente.
Como reza, engolimos o choro a seco. Não reconhecemos o gosto da lágrima. Isso se tiver sobrado alguma, talvez tenha. Talvez não.
“Eu sei como é que é, é foda parceiro, é a maldade na cabeça o dia inteiro.”
Alternamos as importâncias do ter. Marginais e fazedores de muros. Marcamos território com força, mas temos o direito ao choro.Temos o direito à fragilidade. E ao medo de ets, aquecimento global e passar no cursinho. Além de ter entrada livre em todo corredor de supermercado.
” Há! Demorou, mas hoje eu posso compreender, que malandragem de verdade é viver.”
Pertencer, dominar e disseminar: são essas as vontades de todo corpo marginal. Mudar a quebrada pra quebrada. Ser neutro. Ser rico. Ser médico. Ser bailarina. Ser proctologista. Ser compositor. Ser artista. Ser modelo. Ser dono de um loja de suplementos de tecnologia. Ser ele. Ser ela. Ser o – indivíduo. Ser pessoa. Ser leve. Ser pesado. Ser choro. Ser bom na esgrima. Ser ruim no basquete. Ser o pior dançarino e, por fim, SER PARTE DOMINADORA.