Uma girafa na Zâmbia e as grutas mágicas nos arredores de Capri
Meninos italianos na escadaria em Capri e meninos na escola em Mwfue
Esse ano tive a sorte de fazer duas viagens para locais totalmente contraditórios. Primeiro fui à Zâmbia, na África, e duas semanas depois para um barco no Mediterrâneo, passando pelas ilhas de Sardenha e Capri, na Itália.
Mundos opostos? Passado e futuro? Vamos por partes.
Meninos na escola em Mwfue, Zâmbia
África. Um safári organizado pelos meus amigos Josh Rubin e Evan Oresten, fundadores do site Coolhunting.com de Nova York. Foi a primeira viagem organizada por eles, que são pioneiros no uso da expressão coolhunting. Além de conhecermos pessoas fantásticas e estarmos realmente cercados por animais – com leões e hienas nos assombrando nas noites dos acampamentos onde dormíamos – visitamos as comunidades locais, conversamos com crianças em uma escola e descobri um pouco sobre como é viver em uma cidade como Mwfue, na Zâmbia.
Cool Hunting: nosso grupo posando para uma foto na árvore
A capital da Zâmbia se chama Lusaka e quando estávamos aterrizando, a paisagem não remetia em nada à capital de um país. O cenário é muito árido. Tudo parece ser em tons de marrons e terra. De lá, voei para Mwfue, onde foi a nossa base. Nos hospedamos em um acampamento chamado Bush Camps, que tem uma sede com vinte quartos, aproximadamente, e mais alguns acampamentos separados com apenas quatro quartos cada um – sem energia elétrica – no meio do nada, literalmente.
Na cidade de Mwfue, fomos visitar a escola local e, no caminho, passamos por toda a comunidade. Parece que as ruas não têm nomes, as casas não têm água e as pessoas não têm informação. Quando falamos de África, pensamos que, em comparação ao Brasil, aqui também temos pobreza, mas o que eu senti de diferença é o acesso à informação.
Meninas se apresentando na escola
No Brasil, todo mundo tem Rede Globo e existem cidades muito avançadas. Na África, poucos países têm recursos. Na Zâmbia, existem apenas dois canais de TV, sendo que pouca gente tem eletricidade — logo, ninguém tem acesso. Nem nos acampamentos que ficamos – que eram super luxuosos – tínhamos energia elétrica.
Usávamos energia solar e era divertido ver a turma de coolhunters com os iPads e iPhones tentando escolher o que carregar, já que só podíamos carregar um aparelho por dia e tinha que ser enquanto o sol estava brilhando. Enfim, se começar a comparar com o Brasil vou precisar de dados, e a história que quero contar aqui é mais comportamental.
Conversei com meninos e meninas de 2 a 25 anos na escola. Metade dos alunos da escola que visitamos são órfãos e vivem em um alojamento na escola. Uma boa parte tem o vírus HIV, segundo me contou um dos responsáveis do Bush Camps. Todos muito doces e simpáticos, vinham conversar com o grupo, pediam nosso telefone e endereço – até agora não entendi por que, daqui a pouco vai aparecer um na minha casa – e tinham muita curiosidade, queriam saber de onde éramos e o que fazíamos. Quando disse que trabalhava com moda, um menino perguntou: “O que é moda? Como posso trabalhar com isso?”.
Fui me dando conta de que não existe indústria lá. As mulheres se vestem em tecidos amarrados como saias e camisetas. Existe uma falta de perspectiva muito grande. Não há conhecimento, nem possibilidades e nem referências. Aqui no Brasil temos tudo. Um menino brasileiro de origem humilde tem onde se inspirar e buscar inspiração. Lá não tem direcionamento.
Quando perguntei o que faziam no fim de semana, um dos meninos mais velhos respondeu: “Não podemos sair à noite por causa dos animais”. E aí eu me dei conta de que não existia separação de onde estavam as zebras e os hipopótamos e de onde a população morava.
Os animais são maravilhosos. Entendi tudo sobre moda safári. Você realmente precisa usar roupas caquis e verde militar o tempo inteiro. É ordem do acampamento para você se camuflar na paisagem. As zebras, leopardos e girafas são inspirações de estamparia toda temporada e são realmente lindas. Como o safári era cool, a estilista da Califórnia Geren Ford customizou jaquetas vintage com couro e camurça marrom e detalhes em verde para o grupo inteiro e o próprio Cool Hunting desenvolveu botas especiais com a Vintage Shoe Company e malas em parceira com a Tumi. Isso foi chique. Além de um fotógrafo da Pentax que nos ensinava a tirar fotos e os inesquecíveis bares de Veuve Clicquot no meio de rios que estavam secos pelo inverno local – com taças de cristal vindas de Paris.
Malas Tumi e botas Vintage Shoe Company, ambos em colaboração com Cool Hunting
Capri. Passadas duas semanas, voei para Olbia, na ilha de Sardenha, na Itália. À convite de um amigo que conheci na Zâmbia, passei quatro dias em um super iate high tech passeando pelas ilhas do Mediterrâneo, passando por Capri e terminando em Nápoles.
O lugar que mais gostei foi Capri. Capri é uma ilha com apenas 10km². Pode ser considerado um dos lugares mais charmosos do mundo com suas mini praias com cavernas naturais. Descobri que a ilha é um destino de verão europeu desde o século 18. Tem restaurantes e hotéis ultra charmosos e ainda por cima, um centrinho bem antigo com mini lojas da Chanel, Prada, Hermès, Missoni, etc. Lojas super pequenas, mas com produtos super exclusivos que os italianos e franceses enviam especialmente para essas locações. Capri ficou famosa no cinema dos anos 60. Me senti num filme de Godard. As ruas minúsculas só permitem um carro por vez e as motos quase se batem com os táxis em cada curva.
As mulheres ultra bronzeadas com cabelão jogado pro lado, mini shorts e joias. Os italianos super charmosos. A ilha tem história e você chega lá e automáticamente quer fazer parte daquilo.
Zâmbia e Capri. Em Capri não tem mais o que construir. Tudo é antigo e nada pode ser transformado. Na Zâmbia não tem nada e tudo pode ser construído. Como será que vai ficar nosso mundo no futuro?
Eu entendi a Angelina Jolie, Madonna, Sandra Bullock e tantas outras. Eu queria trazer os meninos para casa!
Vindo da Europa, sente-se a crise. Os jovens realmente não trabalham mais e vivem com incentivos do governo. O povo sabe viver bem. Desfrutam a vida e as cidades permitem isso, mas ao mesmo tempo, não se vê mais crescimento. O governo inglês apresentou seu crescimento econômico para 2012, que mesmo com as Olimpíadas, será 0%. Mas o povo está nas ruas curtindo e na Zâmbia ninguém sai à noite por causa dos animais à solta.
Quanto contraste! Consigo entender por que o Brasil é a bola da vez.
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Fotos por Jorge Grimberg, Kerrick James e Coolhunting.com