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    Preconceito
    Preconceito
    POR Camila Yahn

    Foto do banco de imagens Shutterstock 

    Uma mulher negra entra em uma loja de bolsas em Zurique, na Suíça. Após ver alguns modelos, ela aponta para uma específica:

    “Por favor, posso ver aquela bolsa?”, pergunta.

    “Não, ela é muito cara”, responde a vendedora. “Mas posso te mostrar outros modelos.

    “Não, é essa mesma que eu quero ver”.

    “Não, você não quer ver essa bolsa, ela é muito cara e você não poderá comprar”.

    A bolsa em questão é uma Jennifer laranja, do Tom Ford, feita em pele de crocodilo, no valor de US$ 38 mil. A loja é a multimarcas de luxo Trois Pommes. A cliente, Oprah Winfrey. A vendedora, uma infeliz que agora é acusada de racismo e que detonou uma série de desavenças diplomáticas entre Suíça e Estados Unidos.

    A bilionária Oprah não foi reconhecida pela vendedora, que em seu pedido de desculpas, afirma que não faz a menor diferença se a cliente é famosa ou não. “Minha profissão é vender e se eu consigo vender significa que estou fazendo meu trabalho direito”.

    A bolsa da discórdia que Oprah Winfrey queria comprar ©Reprodução

    Racismo é algo intolerável. Quem decide se vai comprar ou não é o cliente e mesmo se não finalizar a compra, cabe a ele o direito de ver os produtos que quiser. E ver significa também tocar, sentir a textura, o peso, o cheiro. Nós experimentamos roupas, cheiramos perfumes, folheamos revistas e livros. Toda compra ou a intenção de antecede uma experiência com o produto, mesmo que breve.

    No caso de Oprah, todos se desculparam e, de racismo, o caso virou apenas um mal entendido. A vendedora disse que inglês não é sua primeira língua e que pode ter se expressado mal. Até o Departamento de Turismo da Suíça precisou interceder para que o país não passasse a ser alvo de revoltas e considerado um lugar preconceituoso. O fato é que foi reportado que o Governo suíço vai proibir que pessoas que pedem asilo político tenham acesso a locais públicos, como parques, livrarias e piscinas municipais.

    Yelena Isinbayeva, que deu declarações infelizes e depois voltou atrás ©Reprodução

    Outro episódio de preconceito muito recente envolve a campeã mundial russa Yelena Isinbayeva, que deu uma declaração na quinta (15.08) se colocando a favor da lei antigay aprovada em seu país. “Nós só vivemos com homens e mulheres, mulheres com homens. Nós nunca tivemos problemas na Rússia e não queremos ter no futuro. Talvez a gente seja diferente dos europeus e de outras nacionalidades”, ela disse. Após ter sido alvo de críticas, Yelena volta atrás com um texto que já ouvimos antes: “O inglês não é minha primeira língua, e acho que posso ter sido mal-entendida”. E finalizou: “Sou contra qualquer discriminação contra os gays em decorrência da sua sexualidade”.

    O arrependimento (ou ao menos fingir que se arrependeu) é a fina linha que separa radicais de não radicais. Jovem, bonita e um ícone em seu país, manter essa afirmação custaria caro a sua carreira. A questão é: Isinbaieva realmente se arrependeu? Você ser a favor ou contra algo é como um ideal. Dificilmente esses valores mudam. E o que aconteceria se ela tivesse mantido sua opinião? Muitos atletas já pensam em boicotar os próximos Jogos de Inverno, que acontecem na Rússia em 2014 (e a Copa do Mundo em 2018).

    A verdade é que a Rússia parece um país racista. Eu mesma vi uma cena triste em Moscou em plena Praça Vermelha. Aos finais de semana à noite, é onde a moçada se reúne para beber, paquerar, encontrar os amigos. Moçada 100% branca de olhos azuis. De repente uma turma de quatro jovens negros, vestidos com roupas esportivas, bonés e tênis, entra na praça. Para minha surpresa, os meninos russos, em bandos, partiram para cima imitando gorilas e macacos, no gesto e na voz. O pequeno grupo, vendo que seria impossível uma briga de quatro contra 200, simplesmente calou-se. Abaixaram a cabeça e continuaram andando. Vale registrar que minha passagem pela Rússia também teve bons momentos, como a visita a São Petersburgo, e que obviamente o racismo não é praticado por todos os seus cidadãos.

    O logo do grupo Gays Arianos Nacional-Socialistas: para rir ou chorar? ©Reprodução

    Tão absurdo e incompreensível é o movimento nazista skinhead gay. Isso mesmo: há o grupo Gays Arianos Nacional-Socialistas e ainda o GASH (Gay Arian Skinheads). Onde isso acontece? Na Rússia também, segundo li em uma matéria no site da Vice. “Estamos tentando limpar o mundo de pessoas desnecessárias que não são dignas desta terra”, diz um dos representantes do Gash. Meu Deus! E em todos os casos descritos aqui, estamos falando de pessoas jovens.

    Voltando ao caso de Oprah, a questão do racismo esconde outra loucura: como assim pagar R$ 70 mil por uma bolsa? E a questão aqui não é nem se a pessoa tem ou não dinheiro para isso, e sim a ganância sem fim que a indústria da moda infiltra na sociedade. Mas isso é tema para outra história.

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