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    Big in Japan: a genialidade de Rei Kawakubo, Junya Watanabe e Jun Takahashi em Paris
    Big in Japan: a genialidade de Rei Kawakubo, Junya Watanabe e Jun Takahashi em Paris
    POR Camila Yahn
    Performance da Undercover por Jun Takahashi ©Agência Fotosite

    Performance da Undercover por Jun Takahashi ©Agência Fotosite

    Bastaram dois dias e três desfiles para a moda se curvar aos japoneses. Mostrados quase que seguidamente, Undercover, Comme des Garçons e Junya Watanabe causaram uma comoção; mexeram com o que há de mais profundo no coração de quem ama moda: o fogo, a paixão. Aquela coisa sem razão e que basta sem nenhuma explicação – no caso deles, o mais lógico é embarcar na história sem buscar porquês. Muitas vezes, o que se passa em suas mentes está aquém da nossa capacidade de compreensão, mas fala conosco de forma emotiva e nos arrebata.

    + Veja os desfiles de Comme des Garçons, Junya Watanabe e Undercover

    Quem esperava pela performance iluminada de Jun Takahashi para a Undercover? Forte e delicada; surreal e lúdica; uma aula de modelagem e styling, a narração uma história através de cores e formas. Jun dividiu sua apresentação em segmentos, como os aristocratas, os soldados, os rebeldes, a monarquia, encerrando o show com uma “rainha” com sua saia gigante, vermelha, construída como uma colmeia de abelha. As abelhas por sinal, apareceram estampando peças e também podem representar uma metáfora de estrutura de poder. Se a coleção leva o espectador para um outro mundo; a trilha não poderia ser mais contemporânea: Thom Yorke.

    Rei Kawakubo, a mulher que declarou “as regras estão na minha cabeça”, mostrou na Comme des Garçons o que pensa sobre o futuro da silhueta, com shapes exagerados, sem braços, que lembravam uma forma feminina – ainda que desmedida e absurda.

    Só deus sabe o que se passa na cabeça de Rei, a profundeza de seus mergulhos e como sua mente opera para alcançar resultados como este. Enxergar e entender um futuro que ainda não vemos.

    Desfile da Comme des Garçons ©Agência Fotosite

    Desfile da Comme des Garçons ©Agência Fotosite

    E Junya Watanabe buscou na essência do punk a inspiração para sua coleção, com personagens que pareciam uma mistura de Ziggy Stardust, Vivienne Westwood e Soo Catwoman (ícone da cena punk em Londres nos anos 70). Seres absurdos e incríveis cruzavam a passarela exibindo todo seu virtuosismo nos trabalhos de plissados, drapeados e formas tridimensionais.

    Costuma ser assim com os japoneses – mais ou menos desde os anos 80 quando Rei Kawakubo, Issey Miyake e Yohji Yamamoto surgiram e transformaram o mundo da moda. A moda ocidental era colorida e exuberante até que surgem modelos em sapatos baixos, roupas oversized, assimétricas e pretas, gerando controvérsia e entusiasmo. “Foi um momento revolucionário”, relembra Valerie Steele, uma das principais historiadoras de moda e diretora do museu do Fit (Fashion Institute of Techology) em Nova York.

    Esse impacto é potencializado quando o mundo está mais sensível ou difícil. Mas de onde vem essa genialidade, essa força, essa maneira de olhar o mundo? Penso que por terem traços físicos que os tornam muito similares, sempre houve uma busca por individualidade e assim, mais campo para a vanguarda. Tribos e subculturas são famosas no Japão desde os anos 60 e 70, bem antes das Harajuku girls. Essa expressão através da roupa e dos acessórios é comum e incentivada.

    Steele diz que no século 11 já havia uma sensibilidade de moda no país. “O conceito de ser up-to-date era muito importante para os aristocratas na corte”. A história então vem de longe e o Japão foi o primeiro país não ocidental que teve um grande impacto na moda global.

    Look de Junya Watanabe ©Agência Fotosite

    Look de Junya Watanabe ©Agência Fotosite

    Os três mestres Issey Miyake, Rei Kwakubo e Yohji Yamamoto surgiram de um boom industrial e econômico no Japão nos anos 60, quando artistas fizeram uma fusão da cultura pop ocidental com a tecnologia japonesa. Os designers japoneses experimentam com formas e materiais, muitas vezes fazendo o impensável. “Os japoneses não têm uma tradição de roupas ocidentais, então podem ser bem livres”, tenta explicar a designer Hanae Mori, hoje com 91 anos.

    Miyake recrutava para trabalhar com sua equipe pintores, escultores e artistas gráficos como Tadanori Yokoo e arquitetos como Tadao Ando. O que eles mostravam em Paris representava uma saída das convenções ocidentais de moda e design, desafiando noções antigas de beleza e gênero. “As roupas de Yamamoto simplesmente não mostram a forma do corpo de uma maneira convencional. Enquanto a maior parte das roupas destaca uma verticalidade natural, as de Yamamoto são quase horizontais”, disse um artigo do NYT nos anos 80.

    Rei Kawakubo construiu um império e é um ótimo exemplo de como criatividade, vanguarda e negócios podem ter sucesso juntos. Através de suas lojas Dover Street Market, ela apoia inúmeros estilistas jovens e com visões de moda nada simplórias. Ela dá suporte financeiro e de estrutura para o russo Gosha Rubchinskiy e tem Watanabe sob seu guarda-chuva.

    Essa maneira de pensar fez – e ainda faz – escola, tendo como um parceiro forte de ideais o Bunka College, de onde saíram Yohji Yamamoto, Junya Watanabe e Chisato Tsumori, da Sacai.

    Outros estilistas, como John Galliano e Marc Jacobs, grandes admiradores dos japoneses, passaram a explorar a desconstrução das roupas como exercício de investigação e estética. É a moda que não se curva. Do nosso lado, só nos resta ceder.

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