Francesca Eastwood e a Birkin de R$ 200 mil que destruiu “em nome da arte” ©Reprodução
A Hermès hoje é considerada uma das marcas de luxo que ainda mantém uma aura de exclusividade, de ser algo de fato especial e único. Seus produtos não são produzidos na China e, mesmo atuando globalmente, muitas peças são feitas em uma escala menor, pois são envolvidas em processos artesanais.
E claro, a marca também é apoiada por seus ícones, as bolsas Kelly (homenagem à Grace Kelly) e Birkin (homenagem à cantora Jane Birkin; leia mais abaixo). Ah, os ícones…
Quantas histórias não ouvimos sobre eles. Seis anos de lista de espera por uma Birkin; Birkins que ultrapassam US$ 50 mil, celebridades que têm coleção de Birkins avaliadas em mais de US$ 200 mil e por aí vai.
Mas mesmo com todo o dinheiro do mundo, você entrava numa loja da Hermès e, se quisesse uma Birkin, saía de mãos vazias. Waiting list, baby. Essa exclusividade manteve a bolsa no topo da lista dos produtos mais desejados. Quanto maior a escassez, maior também é o barulho que causa.
Hoje, qualquer celebridade ou menina rica que se preze tem a(s) sua(s). Ficou famosa? Vai e compra uma Birkin que não tem erro. Então, se a Birkin é tão cara e difícil de conseguir, como elas aparecem nos braços de “tantas” mulheres?
Talvez elas não sejam mais tão especiais assim? É o que lemos na matéria “Has The Hermes Birkin Bag Lost Its Appeal?”, publicado no site da Forbes. O jornalista diz que, em Hong Kong e em Singapura, uma Birkin é tão normal quanto uma bolsa da Coach nos EUA. “Elas estão por toda parte e em todas as formas – das mais simples às adornadas com cristais”, diz o texto.
A loja Milan Station, em Hong Kong, que revende bolsas Birkin pelo dobro do preço ©Reprodução
Na Milan Station, em Hong Kong, uma loja segunda mão de bolsas de luxo, ele encontrou Birkins e Kellys ainda nas caixas, novinhas. Por conta de sua escassez, uma Birkin tem valor cada vez maior na revenda. Acontece assim: clientes compram direto na Hermès e vendem para essas lojas como a Milan Station, que as repassam por até o dobro do preço. “Temos um estoque de Birkins maior do que a própria Hermès”, disse um porta-voz da loja. Pagando duas vezes mais você já sai da loja com sua “it bag”. Só para quem pode. E parece que em Hong Kong muitos estão podendo.
A PR Olga Iserlis, de Singapura, diz que “como hoje todo mundo tem uma Birkin, cada vez mais as mulheres estão buscando bolsas com peles mais exóticas”.
Mas é claro que o declínio da Birkin ainda está longe de ocorrer, se é que um dia vai acontecer, o que é deixado claro pelo jornalista. “Ela representa sucesso, status e conquista. Mostra que seu dono faz parte do clube dos que podem pagar US$ 20 mil por uma bolsa. A Birkin é um lifestyle”.
O que torna a Birkin tão valiosa e escarça é o seu processo artesanal. Inteira produzida na França, é feita à mão por artesãos que passam por longos treinamentos antes de poder tocar em um pedaço de couro. Pode levar de 48 horas a duas semanas para ser finalizada, dependendo da customização. O valor e o tempo aumentam de acordo com o tipo de material usado. Então, as bolsas são enviadas para as lojas Hermès em quantidades limitadas e em cronogramas imprevisíveis, criando assim, um produto exclusivo.
Lady Gaga causou ao aparecer com um modelo canetado ao desembarcar no Japão ©Reprodução
A própria Forbes listou o modelo de crocodilo com 10 quilates de diamantes como uma das bolsas mais extravagantes do mundo, que chegou a ser vendida por US$ 120 mil em um leilão em Nova York.
Em 2010, um post no site She Finds, reproduzido em diversos veículos, entre eles o International Herald Tribune, dizia que a Hermès anunciou o fim da lista de espera para a Birkin. Vale notar que são bolsas discretas e sem logos estampados, mas ainda assim as mais reconhecidas e desejadas.
Quem usa? Muitas, quase todas. Entre elas, Kate Moss, Kelly Osbourne, Julia Roberts, Elle Macpherson, Lady Gaga, Rihanna, Lindsay Lohan, Sarah Jessica Parker, Naomi Campbell e Victoria Beckham, que tem uma coleção de cerca de 100 Birkins. Kim Kardashian também tem várias. Uma para cada clique.
No fim, é uma peça especial que está sendo banalizada pela forma como é usada. Lady Gaga pediu para o artista Terence Koh escrever sobre sua Birkin branca; já no modelo preto, ela colocou vários spikes pela bolsa inteira. Para uma celebridade desse nível a bolsa perde seu valor intrínseco. Tem gente usando Birkin até para ir à praia. Na academia que eu frequento, há Birkins jogadas no chão, ao lado dos aparelhos de musculação. Francesca Eastwood, filha do diretor Clint Eastwood, botou fogo na sua, que custou US$ 100 mil, em uma “performance artística”.
Quando nós deixamos de ver aquilo como algo especial, o produto perde seu encanto. Quer fazer um fashion statement? Rabisca sua Birkin! Customiza em casa. Pede pro seu amigo stylist dar um tapinha. Depois, se você não gostar, compra outra.
+ Como nasceu a Birkin
Jane Birkin: a original ©reprodução
Jane Birkin é uma cantora britânica que ficou conhecida não só por sua beleza e talento, mas também pelo seu relacionamento com Serge Gainsbourg, com quem teve uma filha, Charlotte Gainsbourg.
Há algumas versões sobre a criação da Birkin, mas a mais famosa, que também está no livro “Handbags, What Every Woman Should Know”, de Stephanie Pendersen, conta que Jane sentou-se ao lado de Jean-Louis Dumas, CEO da Hermès, em um voo de Paris para Londres. Ela havia acabado de colocar sua bolsa Kelly acima de seu assento, mas as coisas caíram e ela teve que ficar recolhendo e colocando tudo de volta. Ela então disse a Dumas que era difícil achar uma bolsa de couro que ela gostasse e que coubesse todas as suas coisas. Ele então perguntou como seria essa bolsa e em 1984, a marca lançou uma bolsa de couro preto para Jane. Jane Birkin diz que tem apenas um modelo e, em 2006, anunciou que iria parar de usa-la. “Amo minha bolsa Birkin, mas carrego tanta coisa que acho que é por isso que sofro de tendinite”.