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    Demna Gvasalia e a apropriação do ordinário
    Demna Gvasalia e a apropriação do ordinário
    POR Camila Yahn
    A parceria da Balenciaga com a marca americana crocs / Agência Fotosite

    A parceria da Balenciaga com a marca americana crocs / Agência Fotosite

    Há menos de duas semanas, a Balenciaga causou um frenesi nas redes por conta do lançamento do tênis Triple S. Inspirado nos modelos mais confortáveis do que bonitos que vemos nos pés de nossos pais ou avôs, ele ficou entre o amo ou o odeio, mas a verdade é que muita gente, surpreendida por sua estética estranhamente comum, ficou sem saber se de fato gostava ou não.

    Essa mesma sensação se repetiu ontem no desfile de Verão 18 da Balenciaga, quando um par de Crocs (ahãm) surge na passarela ao final do show. Ao todo, cinco looks levavam Crocs com sola de 10 cm e em cores variadas. Dentro da bolha da moda, o assunto rendeu com muita gente chocada de ver um dos modelos de calçado mais associados ao mau gosto do mundo, na passarela de um desfile de luxo em Paris. “Cristobal deve estar se revirando no túmulo”, alguns diriam. Sim, certamente ele se revirou no túmulo de desgosto, mas não por conta das mudanças que Demna Gvasalia tem causado em sua marca, e sim pelo momento terrível pelo qual passa a Espanha, sua terra natal.

    De qualquer modo, temos que admitir que foi um movimento ousado. Teria essa colab aparecido em um desfile da Vetements, a surpresa seria menos impactante.

    É assim, se apropriando das coisas ordinárias, que Demna tem mudado a maneira como as coisas funcionam e como a moda pode ser enxergada. Demna traz a leitura do cotidiano para o alto luxo onde se encaixa a Balenciaga. Por que uma marca de luxo nos dias de hoje tem que ser conservadora, uma vez que ela está envolta em criatividade e inovação?

    Gvasalia usa alguns volumes e códigos que remetem ao DNA original de grife, mas a coleção é muito mais Vetements do que Balenciaga. “Queria ser mais Demna e menos Cristóbal desta vez”, disse à Vogue US. “Após algumas estações, me senti um pouco restringido pelas homenagens”. Isso é certo ou errado? Nenhum dos dois. Estamos falando da mesma mente por trás e de uma única maneira –autêntica – de ver o mundo. Demna não se veste de um personagem “chique” e elitista antes de criar para a Balenciaga. Um criador é o que é.balenciaga-dinheiro

    Assim, a coleção traz muitas outras peças consideradas mundanas, como a pencil skirt aka saia de secretária, tricôs com gola e barra de renda usados por cima de camisolas com aparência barata, camisas listradas, algumas que já vêm com a malha nas costas amarrada no peito. Os looks têm camadas e roupas anexadas umas nas outras. Trench coats costurados em jaquetas jeans, calças jeans feitas com vários pedaços de bolsos, camiseta com gola polo e peplum, muitas peças no tartan que imortalizou tantas criações de Alexander McQueen, outras em estampas de jornal (alô, Galliano!) e looks inteiros com prints de euros e dólares – dá-lhe ironia.

    Se é tão difícil criar algo novo na moda, a maneira como você faz e combina é o que configura novidade. No caso de Demna, ele usa o que é tido como mau gosto ou cafona para provocar e de fato, mudar a percepção que temos sobre o que é feio ou bonito. Ele nos traz para a vida real. Crocs é vida real. Imagina os olhares maldosos que alguém levaria ao entrar de crocs em um desfile… O julgamento do outro pelo o que ele veste é um dos comportamentos mais comuns (e feios) da nossa sociedade. Demna Gvasalia acaba mexendo com esses padrões que já estão enraizados, provocando questionamentos, tirando sarro dos nossos gostos e desgostos e chamando para um novo olhar. Por que a moda e o luxo devem ser eternamente associados a apenas um padrão de estilo?

    Para quem acha que Demna e Cristobal são tão diferentes assim, vale lembrar que o espanhol também foi um rebelde e vanguardista de seu tempo. Em 1957, ele se retirou da Chambre Syndicale de la Haute e decidiu não exibir sua coleção para a imprensa após já ter mostrado para clientes e compradores. Na época, o NYT publicou uma matéria com o título: “Confusão em Paris em torno das datas dos desfiles de verão”. Passaram-se 60 anos, mas a provocação soa familiar. Ou melhor, ela está de volta.

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