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    Desfile de John Galliano para Maison Margiela é destaque em Paris
    Desfile de John Galliano para Maison Margiela é destaque em Paris
    POR Camila Yahn
    Maison Margiela

    Cena final do desfile de John Galliano para a Maison Margiela em Paris ©Agência Fotosite

    É Galliano ou é Margiela? É a pergunta que todo mundo da moda se fez após o desfile de estreia de John na Maison Margiela no prêt-à-porter, um dos desfiles mais aguardados de Paris.

    Tirando o fato de que muita gente torce por um grande retorno de Galliano, o assunto dá pano para manga pois, quando se trata de grandes estilistas em uma casa histórica ou amada, há uma grande expectativa no ar e a verdade é que também há uma onda de protecionismo em relação às marcas.

    Desculpe, mas como esperar que John Galliano “seja” Martin Margiela? Que um estilista do potencial criativo de Galliano simplesmente continue o que estava sendo feito? Logicamente é uma equação que faz sentido, mas é impossível que seja assim, ao menos nesse caso. Margiela já nem estava mais lá e as coleções eram criada por um time interno. Quer manter o mesmo caminho? Então um Galliano não é necessário. Agora, para criar um novo momento de uma marca que, de fato necessitava de uma injeção de energia, chama-se um gênio à altura, mas que chega com sua bagagem. E mesmo que ele entre o mais despido possível, seu olhar sempre terá uma compreensão diferente sobre aquela história e seus pilares.

    Seu esforço é visível. As roupas são mais contidas e a cartela de cores, enxuta. O desfile é bem editado e sua proposta é bem clara, oposto ao que Galliano fazia antes. De repente, um ser corcunda, quase uma versão fashion da bruxa da Branca de Neve, aparece na passarela. E mais outras ao longo da coleção. São feias, estranhas, emburradas e deliciosamente gallianescas. O que isso nos conta? Que o cara está vivo. Sua mente fantasiosa não foi apagada, tampouco desaparece por trás do rótulo de minimalista da Maison Margiela. Ela surge repentinamente, mas de forma brilhante. Repare que ele não fez isso através da roupa; usou apenas cabelo e maquiagem para dar vida a suas “musas”. Quem assina a beleza é a gênia Pat McGrath, “partner in crime” das antigas.

    Eu pulei da cadeira quando via esses looks. Tem um quê de saudosismo, saudade de uma época que se foi com ele e McQueen, os grandes teatros, os dramas, histórias bem contadas, as coreografias, atmosferas estranhas que levavam o público para um universo particular, além da moda. Hoje, com o mercado bem mais focado e as marcas sem poder fazer grandes extravagâncias, é natural achar que as maluquices de Galliano não têm mais razão de ser. Mas é justamente isso o que eu amo em John Galliano. E o dia em que ele resolver ser Isabel Marant, não me interessa mais.

    Agora imagina o contrário: e se em vez disso, ele mostrasse uma coleção 100% MMM, usando todos os códigos à risca. A gente não ia fazer uma cobrança inversa? Ué, mas cadê o Galliano aqui?

    O mesmo acontece com outros estilistas, que sofrem cobranças gigantescas por um equilíbrio perfeito entre duas estéticas.

    O caso mais radical se deu quando Hedi Slimane assumiu a Saint Laurent, símbolo da moda francesa. Que ousadia a dele fazer “roupinha” grunge, mudar o logo da grife, trocar Paris por Los Angeles e ainda bloquear jornalistas descontentes com as transformações. Quem não o odiou por um tempo põe o dedo aqui. O que Yves construiu em toda a sua carreira… puft! Virou apenas lembranças de um passado que não existe mais. Mas será que não é assim mesmo? Uma vez vi uma exposição do arquiteto Rem Koolhaas em que ele defendia a demolição de edifícios históricos para a construção de novos. Como se a gente achasse que um prédio antigo de Niemeyer não estivesse mais em condições para suportar as novas noções de praticidade e conforto e derrubasse para erguer algo mais moderno e atual. Foi mais ou menos isso que Hedi fez. Ele trouxe a marca para a energia do presente. Ignorou o peso da história e fez renascer uma nova Saint Laurent – goste ou não – com mais conexão com as consumidoras hoje. A enorme resistência do início deu lugar a uma febre que todo mundo está engolindo porque o mercado tem respondido bem. É YSL? Com muito esforço podemos encontrar alguns signos lá, mas é muito mais Hedi Slimane. Temporada após temporada, variações de uma mesma temática.

    Alexander Wang ainda está lutando. Suas coleções dividem opiniões. Não, ninguém morre de amores, apesar dos esforços e do bom gosto de Wang. Para ele, o mais difícil não é olhar para a história da Balenciaga, e sim fazer melhor do que Nicolas Ghesquière. Agora, nesta temporada de Inverno 2016, quando ele faz algo “bem Balenciaga”, com a silhueta arredondada, recebe críticas com citações a looks pesados e duros. Segundo o Style.com, Mary Blume, biógrafa da marca, destacou que as formas da Balenciaga eram pensadas para um corpo vivo, ávido e sempre em movimento, algo que Wang ainda não conquistou.

    Já o trabalho de Raf Simons é tão delicado e feminino, que parece fácil respeitar a história sem desrespeitar a si mesmo. Vale lembrar que dentro da própria Dior houve resistência ao seu nome, por parte até das costureiras. Mas ele ainda me parece a pessoa mais certa para conduzir a grife hoje. E com sua visão e sensibilidade, vai criando uma nova herança para a Dior, conectada aos princípios da marca, mas livre para impor seus desejos.

    Proteger ou renovar? Lembrar ou esquecer?  Criar ou repetir? Olhar para trás ou para frente? O fato é que o que nós esperamos de um estilista em uma maison hoje é confuso. Nem nós sabemos, já que receitas diferentes podem dar certo e, como diz o ditado, os opostos se atraem. Por mais distante que Galliano possa estar de Margiela, este desfile rendeu um bom Margelliano.

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