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    Nu com a mão no bolso
    Nu com a mão no bolso
    POR Redação

    via @luigi_torre

    2011/10/4833_beautiful_francois_sagat2“Quis fazer do meu corpo, a minha roupa”, disse ao FFW o modelo e ator pornô (premiado) François Sagat. O francês nascido no sudoeste da França veio ao Brasil para o 18º Festival Mix Brasil de Cinema, evento no qual dois de seus mais recentes _e comentados_ filmes foram exibidos: “L.A Zombie”, do diretor canadense Bruce LaBruce, e “Homem Ao Banho”, do francês Christophe Honoré.

    Ambos são filmes que atingiram _ou simplesmente ganharam sem qualquer preocupação com adequação_ status de cults do cinema gay, ou, no caso de Bruce LaBruce _numa meio que continuação de “Otto” e “Up With Dead People”_ do cinema homoerótico. Mas enfim, não é bem disso que gostaria de falar aqui. Mas sim da relação de Sagat com a moda.

    François de fato não é um estranho nesse meio. E não estou apenas falando de sua colaboração para campanha de verão 2008 de Bernhard Willhelm, clicada por Lukas Wassman. Aos 19 anos, no fim da década de 90, estudou no famoso Studio Berçot, em Paris. Foi de lá que partiu para uma série de trabalhos de assistência para nomes como Thierry Mügler, Nicolas Ghesquière, Givenchy, Paco Rabanne, Carine Roitfeld e V Magazine.

    “Era meu único sonho, desde que era muito jovem, por volta dos 11 e 12 anos de idade”, contou François. “Mas eu nem posso falar que tive uma verdadeira carreira na moda. Estudei por três anos e não cheguei nem a ficar dois anos no meio”. A frustração com a moda veio pela falta de reconhecimento e pouco retorno financeiro. “O dinheiro que eu estava recebendo não era o suficiente e estava cansado de ser um assistente-escravo. Eu era muito jovem e não estava sentindo retorno suficiente no que estava fazendo, sentia que precisava me provar algo, talvez tentar ser menos invisível – ou simplesmente não tive a paciência de esperar isso acontecer na moda”.

    “Aos 25 anos mudei meu ponto de vista, e estava me interessando mais por me metamorfosear, levar tudo para um nível mais superficial, menos poético, menos romântico”, explica François sobre os momentos que o levaram a migrar para a indústria pornô. “Estava focando tudo sobre minha carne, minha pele, meus músculos e a nudez – eu fui para o aspecto essencial e primitivo do meu ser”.

    Então podemos dizer que você fez do seu corpo a sua roupa? “A questão é exatamente essa, quis fazer do meu corpo minha roupa”.

    2011/10/4832_sagat_02Fotos de François Sagat para campanha verão 2008 de Bernhard Willhelm. Os cliques são de Lukas Wassman e as imagens foram inspiradas no ator pornô dos anos 1970, Peter Berlin © Reprodução

    Hoje François enxerga seu corpo meramente como uma mercadoria, algo plástico, mutável e adaptável às diversas exigências que surgem em sua vida. E por mais que certo moralismo social nos faça olhar para essa história com alguma tristeza, o fato é que ela é o mais puro reflexo de algo extremamente comum em nossas vidas: que nunca estamos verdadeiramente nus.

    Passei boa parte do meu tempo livre do ano passado somente com uma toalha amarrada no corpo, observando o comportamento de frequentadores de saunas gay na cidade de São Paulo. Era uma pesquisa para minha tese de conclusão de curso (o tal TCC) da faculdade de jornalismo, na qual eu partia do pressuposto que grande parte do sucesso desse tipo de estabelecimento se dá pela ausência de roupas _e por conseqüência, de todos os códigos e símbolos que carregamos com ela. Sem código, sem julgamentos, e um suposto lugar mais feliz.

    Ledo engano. Acontece que o corpo tornou-se um objeto de moda especialmente privilegiado nas últimas décadas. Tornou-se algo plástico que pode mudar constantemente para se adequar às novas normas à medida que elas surgem. Pense em figuras que fizeram do seu corpo sua identidade máxima como Amanda Lepore, Angela Bismarchi _já reparou como independente do que elas estão vestindo a imagem é quase a mesma, mesmo quando nuas?_ e mais ainda da artista performer Orlan, que no começou dos anos 1990 fez de seu corpo sua obra de arte. Na performance The Reincarnation of St. Orlan submeteu-se a uma série de cirurgias plástica para recriar traços de outras obras de artes, como o queixo da “Vênus” e Botticelli e os olhos de “Europa” de Boucher.

    “Na era pós-moderna, a configuração da identidade pessoal é, num sentido decisivo, um projeto corporal. Podemos observar que o corpo tende a se tornar cada vez mais seminal para uma compreensão de identidade pessoal”, escreveu Lars Svendsen em seu livro “Moda – Uma Filosofia”.

    2011/10/4839_lafaceDaí que a busca por nossa identidade começa essencialmente em nossos corpos. As roupas são apenas uma continuação dele. Tanto que nossa percepção do corpo humano é influenciada diretamente pela moda vigente em determinado período de tempo.

    Vem daí a noção de que o corpo despido, está também vestido. “Nossa percepção do corpo humano é sempre dependente das modas dominantes na época, e nossa percepção das modas é por sua vez dependente de como são apresentadas visualmente em pinturas, fotografias e outros meios”, explica Svendsen.

    Um dos melhores exemplos disso encontra-se no livro de Anne Hollander, “Seeing Through Clothes”. Nele a escritora mostra através de uma série de retratos nus como o corpo e a roupa mantém um diálogo que extrapolam as explicações fisiológicas. Na época em que os espartilhos eram amplamente usados, podíamos ver o espartilho ausente moldando o corpo nu. Barbatanas e anquinhas em vestidos davam origem a figuras nuas com cinturas finas e quadris amplos. “As roupas reescrevem o corpo, dão-lhe uma forma e uma expressão diferente”, escreveu Hollander.

    A nudez só diz alguma coisa quando em diálogo com as roupas, mesmo que imaginariamente ou secundariamente. Desde os anos 60, quando a busca pela juventude começou, as roupas foram ficando cada vez mais em segundo plano nas fotografias de moda. Hoje, muito mais do que apresentar a última calça de estação, busca-se mostrar uma imagem em que o corpo da modelo é o portador de valores simbólicos.

    Nas saunas isso fica evidente ao passo que, mesmo despido de suas roupas, os frequentadores continuavam agrupando-se de acordo com as regras que dividem os vários sub-grupos gays: barbies, bears, clubbers, etc.

    Hoje não existe nada que possamos chamar de corpo completamente nu. Este estará sempre vestido em razão de suas definições sociais. Removendo todas as roupas, não encontramos um corpo “natural”, mas um corpo moldado pela moda. Nas palavras de Lars Svendsen, “o corpo não é mais “natural” que as roupas que veste.”

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