E aí quando todo mundo começa a se empolgar com o clima setentinhas-feel-good-vibe que o verão 2011 vinha tomando, Sr. Nicolas Ghesquière chega e coloca tudo de cabeça para baixo. Bebendo mais uma vez na fonte da cultura de rua, colocou na passarela tomboys futuristas com vestidos-jaquetas de couro de aspecto emborrachado, maxi estampas pied-de-coq, sapatos pesados tipo coturno e cabelos pretos à la rockabilly, revoltos e cheios de atitude punk.
Primeiro e último look da Balenciaga Verão 2011; tecnologia e visão ©Reprodução
No casting alguns nomes que geralmente vêm acompanhados do adjetivo “super”: Amber Valeta, Carolyn Murphy, Stella Tennant e (confirmando os boatos) Gisele Bündchen. Nelas, mais uma prova de toda maestria do estilista que hoje comanda a Balenciaga. Couros incríveis, em tratamentos jamais imaginados (tipo na forma de renda nas calças), craquelados brilhantes, paetês velados e mais uma infinidade de explorações têxteis praticamente impossíveis de distinguir por fotos.
Segundo notas da imprensa internacional, o ponto de partida foi o jogo entre superfícies opacas, com outras transparentes, brilhantes e refletoras. E daí o jogo de sobreposições que permeia quase todo o desfile. Seja na simples cobertura por camada de tecidos transparente como nos ótimos tricôs listrados com pequenas faixas translúcidas, ou então nas interessantes calças de modelagem bem masculina, com espécie de fecho triangular por onde passavam as barras das camisas.
Tem ainda um pouco daquele efeito de bricolagem da coleção passada _principalmente no bloco das saias com cintos de couro e camisas transparentes sem mangas_, porém agora dotado de uma certa irreverência punk.
Aquele mesmo atestado de Miuccia Prada e Raf Simons abaixo a caretice vêm aqui, na ótica futurista-tecnológica de Ghesquière. Modelos comumente chamadas de bombshell vinham extremamente masculinizadas e com imagem que chega a desafiar o olhar. Calças com proporções que fariam muitas mulheres torcerem os narizes, sapatos pesados, sem salto que achatam a silhueta, vestidos levemente largos, quase como um número maior. Aquele “desleixo” punk, só que perfeitamente controlado e trabalhado dentro do universo do estilista, responsável por transformar simples tecidos em materais do além.
E talvez, justamente por toda essa grandiosidade de visão, imagem e técnica, tudo isso possa parecer um pouco distante e frio demais _ainda que com roupas de aparência de certo modo simples. Diferente da Prada e da Jil Sander, onde a ironia e protesto contra a caretice parecem mais palpáveis, aqui o arsenal tecnológico é tamanho, que acaba levando essa mesma mensagem para uma espécie de espaço sideral _onde todos sonham em ir, mas nunca conseguem chegar.