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    Quando a moda quer ser arte, e a arte vira moda
    Foto de Cássio Vasconcellos feita sob encomenda para a Arezzo e inspirada na série “Viagem Pitoresca pelo Brasil”
    Quando a moda quer ser arte, e a arte vira moda
    POR Redação
    Foto de Cássio Vasconcellos feita sob encomenda para a Arezzo e inspirada na série "Viagem Pitoresca pelo Brasil"

    Foto de Cássio Vasconcellos feita sob encomenda para a Arezzo e inspirada na série “Viagem Pitoresca pelo Brasil”

    Quem só tem produto mas não tem conceito quer ser “fashion”. Quem tem produto, conceito e já tem status de marca de moda, quer provocar algo que vá além do prazer do consumo de algo belo, cool, sexy, bem feito. Quer ser “artístico”, ou pelo menos se aproximar de uma experiência que cause uma inquietação parecida com a de uma obra de arte.

    Raramente, porém, a moda consegue se colocar no mesmo nível da arte. Há quem diga o contrário mas, noves fora, a moda, como a arquitetura, está diretamente ligada ao caráter funcional do que produz, e essa funcionalidade já coloca ambas em outra categoria. Tecnicamente, portanto, arte é arte, moda é moda. E moda não é arte. Se há momentos em que um edifício, uma roupa ou um desfile são arquitetados de tal maneira que alcançam esse caráter de experiência artística? Sim, dá para encontrar muitos exemplos disso: há peças e desfiles de Rei Kawakubo (Commes des Garçons), Margiela, Hussein Chalayan, Alexander McQueen e mesmo Dior na época de Galliano capazes de evocar estranhamento, angústia, reflexões metafísicas, políticas e outras sensações que definem as artes visuais. Mas de maneira geral, as exceções são feitas para confirmar a regra, e o que a moda faz com mais frequência é se aproximar do universo artístico por meio de colaborações e parcerias que não transformam a moda em arte, mas a arte em moda. No pior dos casos, o olhar do artista vira um pastiche e da intersecção entre os dois mundos só sobra um produto comercial e uma sensação de fraude, ou “forçação de barra” (as análises são sempre subjetivas, mas os desfiles da Tod’s e de Kanye West transformados em performance de Vanessa Beecroft me parecem uma desvalorização da mensagem da artista, sem ganhos intelectuais para a moda, numa conta em que todos perdem). No melhor dos casos, esse encontro consegue preservar um traço importante da essência artística do colaborador e o que poderia ser apenas uma publicidade ou estratégia de marketing ganha uma sensibilidade especial, o que acaba de acontecer entre o fotógrafo Cássio Vasconcellos e sua colaboração para Arezzo e o que acabou inspirando esse post.

    Série "Viagem Pitoresca pelo Brasil", o mais recente projeto artístico de Cássio Vasconcellos, fotografado em florestas brasileiras com tema inspirado nas pinturas e litografias sobre o Brasil de artistas que chegaram ao País no século 19

    Série “Viagem Pitoresca pelo Brasil”, o mais recente projeto artístico de Cássio Vasconcellos, fotografado em florestas brasileiras com tema inspirado nas pinturas e litografias sobre o Brasil de artistas que chegaram ao País no século 19

    Importante nome da fotografia brasileira, famoso por suas séries aéreas e pela “Noturnos São Paulo”, que integra o livro “The World Atlas of Street Photography” (Thames & Hudson), com obras em acervos de instituições como a Biblioteca Nacional de Paris, Museu de Arte Moderna (MAM) de São Paulo e do Rio, MAC – USP, MIS (SP), Masp e Princeton Museum, Cássio fez uma releitura de sua série mais recente, “Viagem Pitoresca pelo Brasil”, em quatro fotos inéditas para a Arezzo, inaugurando o projeto Série Arezzo, curado por Giovanni Bianco, diretor de arte das campanhas da grife. Fotografada em florestas brasileiras do Rio, SP e RS, além da Amazônia, a série artística do fotógrafo se inspira nas litografias e quatros de pintores europeus que retrataram o Brasil no início do século 19, como Debret e Taunay. “São obras que fazem parte do nosso imaginário, que já vimos muito. Temos sorte, porque os artistas que vieram para cá eram muito bons”, diz Cássio.

    A conexão entre esse Brasil revisitado 200 anos depois sob o olhar da fotografia digital e uma marca de acessórios e sapatos femininos não parece assim tão óbvia, mas o artista conseguiu encontrar no que ele chama de sensualidade da floresta (“quando você pensa na floresta, pensa numa mulher, não?”, me pergunta, quase retoricamente, incitando uma relação que nunca havia me passado pela cabeça) o elo de ligação. “A mulher, assim como a floresta, é a origem de tudo. Acho que tem aí uma conexão, que também vem da sensualidade feminina e da floresta. Então colocar um sapato ou uma bolsa nesse contexto não me pareceu forçado, porque há um diálogo.”

    Inseridas entre as folhagens, com tratamento que dá aspecto de pintura em tons suaves quase impressionistas, as peças da Arezzo parecem se fundir ao cenário. Não assumem um caráter protagonista na foto e por isso não agridem e dão espaço para se pensar sobre o acessório como item de decoração do corpo feminino, fazendo uma analogia ao papel ritualístico de roupas e acessórios não só na sociedade contemporânea mas nas mais primitivas, como as dos índios brasileiros. Enfim, dão margem para se pensar em algo além da vontade de comprar um sapato novo, com um resultado híbrido entre arte e publicidade, e que, de qualquer maneira, acaba trazendo um raciocínio estético mais profundo e sofisticado do que o de uma propaganda.

    A performance de Vanessa Beecroft no desfile da Tod's para o Inverno 2016/17, apresentado em fevereiro passado

    A performance de Vanessa Beecroft no desfile da Tod’s para o Inverno 2016/17, apresentado em fevereiro passado

    O interesse da moda pela arte, claro, não é novo, e tem exemplos muito bem sucedidos no passado: o vestido Mondrian de Yves Saint Laurent dispensa mais explicações. Geralmente, as marcas se associam à arte para falar de si mesmas, das bolsas com estampas de Yayoi Kusama e Richard Prince na Louis Vuitton às exposições em grandes museus que fazem retrospectivas da história das grifes, de Jean Paul Gaultier e Louis Vuitton no Grand Palais  em Paris ao museu Silos de Armani, que exibe roupas e conta a trajetória de moda do estilista. Alessandro Michele, diretor criativo da Gucci, curou em Xangai uma exposição em que sete artistas interpretavam a noção do que é ser contemporâneo. Mas sua ação mais famosa é a #GucciGram, no Instagram, para que artistas criem obras com alguma referência ao universo da Gucci. Com a Fondazione Prada já é diferente: a grife de Miuccia escolhe temas, muitos com foco na relação com o feminino, para exposições que nada têm a ver com moda mas levantam discussões que acabam permeando questões abordadas pela marca em suas coleções.

    Entre tantas possíveis aproximações, há ainda a do papel da moda como mecenas da arte. Nessa categoria, o exemplo mais impressionante é o das marcas italianas que têm bancado restaurações de patrimônios artísticos históricos da Itália. A Prada, por exemplo, financiou a restauração do prédio da monumental galeria Vittorio Emanuelle II, em Milão; a Tod’s doou 25 milhões de euros para o Coliseu, em Roma; a Fendi se uniu à prefeitura de Roma para patrocinar as obras da reforma da histórica Fontana de Trevi, que voltou a funcionar no final do ano passado; no mês passado, a Valentino financiou a ópera “La Traviata”, no Teatro La Scala, com 15 apresentações esgotadas antes da estreia, que a transformou na apresentação de mais sucesso da casa desde sua abertura, em 1880. Nesta semana, a Ferragamo anunciou que patrocinará a restauração da fonte de Netuno, importante monumento de Florença.

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