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    Colunista traz as novidades do Copenhagen Fashion Summit, que abordou a sustentabilidade na moda
    Colunista traz as novidades do Copenhagen Fashion Summit, que abordou a sustentabilidade na moda
    POR Redação
    Larissa Roviezzo falando no Youth Fashion, em Copenhagem / Cortesia

    Larissa Roviezzo falando no Youth Fashion, em Copenhagem / Cortesia

    Por Larissa Roviezzo, de Copenhagem

    No dia 11 de maio, a indústria da moda se reuniu no Teatro Koncerthuset, em Copenhagem (Dinamarca), para mais uma edição do Copenhagen Fashion Summit (CFS), o evento de maior relevância sobre moda e sustentabilidade, que nesse ano teve um enfoque especial na importância e no comportamento da indústria da moda rumo a um modelo de negócios baseado na economia circular.

    Durante o evento, os organizadores do Global Fashion Agenda (GFA) incentivaram marcas e fabricantes a assinarem uma carta de comprometimento a fim de estreitar a responsabilidade da indústria e, diferentemente de outros anos, garantir ações e parcerias com o mesmo objetivo.

    Grandes nomes da indústria como H&M, Kering Group, Adidas e Target estiveram presentes não apenas discutindo o tema e revelando os planos e visões de suas empresas, mas também mostrando comprometimento com o futuro, ao assinar a carta de compromisso para definir estratégias e metas para 2020 e informar o progresso de tais ações.

    Outra novidade que surgiu junto com o CFS foi a apresentação do relatório “The Pulse of Fashion 2017”, desenvolvido pelo GFA e o Boston Consulting Group, que revelou estatísticas e dados extremamente importantes, justificando a necessidade de transição da indústria linear (Take, Make and Dispose) para uma indústria circular.

    De acordo com os dados apresentados no relatório, o planeta já está enfrentando tensões recorrentes da atividade humana, operando além dos índices de segurança em termos de alterações climáticas, poluição da água, uso de terra e uso de químicos.

    Além disso, com o aumento da população mundial esperado, que deve passar de 8,5 bilhões de pessoas até 2030, estima-se que haverá também um aumento global da produção de vestuário (63%), saltando de 62 milhões de toneladas hoje para 102 milhões de toneladas em 2030.

    Sendo assim, o incontestável aumento do consumo será ameaçado pela escassez de recursos, o que acarretará no aumento do custo das matérias-primas, energia e mão de obra. Portanto, para garantir uma trajetória de crescimento, a indústria, que vem cumprindo importante papel no desenvolvimento global, precisa agir.

    Essa urgência na necessidade de mudança ficou ainda mais explícita com a primeira apresentação do dia.

    O lindo teatro / Cortesia

    O lindo Teatro Koncerthuset / Cortesia

    O cocriador do conceito Cradle to Cradle, William McDonough, não apenas convenceu fashionistas sobre a importância de desenvolver produtos que são positivos para o meio e para as pessoas, mas também sobre a necessidade de desenvolver produtos pensando no próximo uso e no uso final, algo que não acontece hoje em dia.

    Essa apresentação emocionou muita gente e foi encerrada com o famoso “being less bad is not good” (“ser menos ruim não é bom”), afinal de contas qual é o propósito de ser menos ruim quando é possível criar um impacto positivo?

    O evento se desenvolveu sobre o conceito de “circularidade” e levantou questões como a necessidade de parceria entre concorrentes para o desenvolvimento de tecnologia para a reciclagem de fibras, a importância da inovação de materiais que permita tal objetivo, e diferentes ações que não apenas garantam a extensão da vida do produto, mas também a responsabilidade no descarte.

    Líderes como Cecilia Takayama, directora do Materials Innovation Lab/Kering Group, e Cecilia Strömblad Brännsten, do H&M Group, reconheceram a importância e o comprometimento de suas empresas com a questão e revelaram estratégias ambiciosas. Como exemplo, o Grupo H&M visa se tornar 100% circular até 2030.

    Ellen MacArthur, fundadora da The Ellen MacArthur Foundation, e Wendy Schmidt, presidente da The Schmidt Family Foundation, abordaram as oportunidades e desafios da mudança para uma economia circular, usando a indústria do plástico como exemplo.

    Em um bate-papo mediado por Lewis Perkins, presidente do Cradle to Cradle Product Innovation Institute, a indústria de plástico/embalagens foi usada como exemplo para ilustrar o enorme investimento inserido em produtos que acabam perdendo valor após uso porque não foram desenvolvidos para serem reutilizados.

    Ou seja, os investimentos são “jogados no lixo”, além de causarem um impacto inegável ao meio ambiente. De acordo com o estudo realizado pela The Ellen MacArthur Foundation, apenas 14% do plástico global é reciclado, e se continuarmos seguindo esse caminho, “haverá mais plásticos do que peixes no oceano (por peso) até 2050”.

    Fazendo um paralelo com a moda, a conversa abordou a economia linear que estamos acostumados e confirmou a importância de mudarmos o sistema em operação hoje. Afinal de contas, como a frase que surgiu no evento e demonstra bem o espírito do novo, ”Sustentabilidade não é um motivo de competição, e sim de colaboração”.

    O dia seguiu com boas discussões e participações de Martijn Hagman, CFO da Tommy Hilfiger Global, debatendo investimento em crescimento sustentável, e Livia Firth, fundadora da Eco-Age, discutindo salários dignos e direitos humanos com a advogada de direitos humanos Jessica Simor QC e a jornalista Lucy Siegle.

    Siegle revelou que muitas empresas que operam em países subdesenvolvidos fazem distinção entre salário mínimo e custo de vida, pagando assim um salário mínimo significantemente menor do que o mínimo custo, violando as leis trabalhistas internacionais e os princípios dos direitos humanos.

    Tópicos como o compromisso e empenho dos consumidores, transparência na cadeia têxtil, inovações e tecnologia e a importância da imprensa nessa transformação, também foram debatidos por importantes nomes como Kirsten Brodde, uma das diretoras do Greenpeace, Kelly Caruso, presidente da Target Global Sourcing, Daniella Vega, diretora de sustentabilidade da Selfridges, Jason Kibbey, CEO da The Sustainable Apparel Coalition, entre outros.

    Ellen MacArthur, Wend Schmidt e Lewis Perkins / Cortesia

    Ellen MacArthur, Wend Schmidt e Lewis Perkins / Cortesia

    Além disso, os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) estabelecidos em 2015 pela Cúpula das Nações Unidas (ONU) foi discutido pelo Youth Fashion Summit nos dias 09 e 10, por estudantes e novos profissionais de diferentes países. (Segue aqui o link para quem não conhece os ODSs).

    O programa, do qual eu fiz parte, antecedeu o CFS a fim de discutir detalhadamente cada um dos objetivos (ODSs) no contexto da indústria e cadeia têxtil, identificando soluções, ações e compartilhando conhecimento para garantir profissionais mais preparados.

    No entanto, neste ano, nós do YFS tivemos uma grande e específica oportunidade em mãos. Após discutir o tema com profissionais da indústria, desenvolvemos um rascunho para a primeira resolução da história, que será apresentada para a Assembleia Geral das Nações Unidas, no que diz respeito à indústria da moda.

    Foram dois dias de trabalho intensivo apresentado no palco do CFS pela
Doutora Professora Dilys Willians, diretora do Centre of Sustainable Fashion do London College of Fashion, e pelos 50 novos profissionais.

    Como porta-voz do meu grupo, tive a oportunidade de expressar a mensagem e a urgência de ações no palco do Summit com mais sete representantes, demandando iniciativas da indústria e dos membros envolvidos, além de representar o Brasil junto com Alice Beyer, Mestre em Sustentabilidade na Moda e consultora do e ES-Fashion, e Evelise Biviatello, Mestre em Empreendedorismo e co-fundadora do Trocaria.

    Talvez o uso excessivo do termo sustentabilidade esconda a amplitude e a complexidade que o tema engloba, mas na verdade, e em especial depois desse Summit, fica claro que empresas que não tornarem a sustentabilidade como valor no núcleo de seus investimentos e ações, não terão mais espaço. De preservação aos recursos naturais, consumo consciente e igualdade de gênero à responsabilidade social, essa será a nova maneira de fazer negócio porque, infelizmente, a maneira como fazemos negócios hoje, não é suficiente.

    Mesmo que a ideia de economia circular possa soar irreal e ambiciosa na verdade, e com certeza não é a solução de todos os problemas, visões ambiciosas são o motor de ações eficazes e o ponto inicial para uma mudança de pensamento e abordagem ao problema. Sustentabilidade é sim, o novo padrão e o futuro da moda.

    Larissa Roviezzo mora em Berlin, é formada em design de moda, com experiência em marketing e desenvolvimento de produto, é especialista em aplicar sustentabilidade na moda.

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