Por Apolinário*, especial para o FFW
Janeiro anuncia seus últimos suspiros e com eles temos algumas surpresas, tristezas, e, claro, inúmeros lançamentos. Selecionamos os cinco álbuns mais relevantes, lançados no primeiro mês do ano, para começar 2016 com música nova na playlist. Ouça, conheça e atualize sua lista de favoritos em seus aplicativos de streaming (ordem alfabética).
Banda/ Cantor: Anderson Paak
Álbum/Ep : Malibu
Lançamento: 15 de janeiro
“Malibu” é o segundo álbum do rapper, cantor e compositor Anderson Paak, que incendeia à gasolina o rastro de faíscas deixado por “Venice”, seu primeiro álbum de estúdio. O rapper californiano passeia entre a sedução da percussão do eletro-disco, o minimalismo do hip-hop e o groove do R&B.
Colocando o hip-hop legado de Dr. Dre e o funk de Donna Summer em foco, os drops regidos por instrumentos de sopro e viradas swingadas de jazz, de grupos como Big Voodoo Daddy, Paak mostra que a aula foi bem dada por D’Angelo e Kendrick Lamar, e ele aprendeu a lição.
HOT-HIT: Am I Wrong : nuances de Moroder em sua fase Dona Summer, regidas pela voz suave de Paak e acompanhado do flow descolado de School Boy Q. Uma legítima trinca de ases!
Banda: Baaba Maal
Álbum/Ep : The Traveler
Lançamento: 11 de janeiro
O superastro senegalês Baaba Maal continua sua viagem entre as rítmicas fulani e os processos criativos ocidentais eletrônicos.“The Traveler”, seu décimo primeiro álbum de estudio, é uma mistura de raízes africanas e elementos eletro, construídos em parceria com Johan Hugo (The Very Best), Winston Marshall (Mumford & Sons) e o instrutor vocal de inúmeros rappers, o Auto-Tune.
“Trabalhando com Johan, sinto que temos alcançado uma mistura perfeita de sensibilidades desenhada não só com referências da África e da Europa, mas de todo o globo”, afirma Baaba Maal. “The Traveller define como o planeta parece neste momento do ponto de vista de um fulani senegalês. E apesar de muitos problemas em muitos lugares do país, esse viajante ainda possuí um ponto de vista positivo e inspirador”, conclui.
HOT-HIT: Gilli Men: uma viagem extrassensorial às bases africanas. Sentir-se filho da terra em cada conjunto harmônico.
Banda: Chairlift
Álbum/Ep : Moth
Lançamento: 22 de janeiro
Em seu mais recente trabalho, “Moth”, os beats trazem à tona um lado mais denso das produções de Patrick Wimberly e Caroline Polachek – que nos últimos anos dedicou-se ao seu projeto paralelo Ramona Lisa.
Em uma harmonia perfeitamente esculpida por melodias arrebatadoras, minuciosamente desenhadas para uma paisagem ambientada nos synths melindrosos de Blancmange e Yazoo, Moth, é um passeio turístico às criações synth de 30 anos atras, no mínimo.
“Ch-Ching” e “Romeo” acalmaram as expectativas e salientaram os pontos fortes da dupla, além de reforçar a capacidade na elaboração de músicas cintilantes e energizantes. Em entrevista ao Pitchfork, Polachek descreveu o álbum como um tributo a Nova York. Homenagem claramente observada na percussão agitada e reluzente de “Romeo”, uma pintura sonora da Times Square. “Moth” dá ao duo nova-iorquino a chancela para concorrer ao cânone pelo status de santidade no synth-pop.
HOT-HIT: Ch-Ching : não é nada comparado a Bruises, mas pode grudar forte.
Banda: David Bowie
Album/Ep : Black Star
Lançamento: 11 de janeiro
Quando David Bowie repentinamente quebrou seu silêncio musical de uma década – em 2013, com um álbum genial, porém, sem muitas inovações, intitulado “The Next Day”. Em uma espécie de “Lembram de mim? Isto é o que eu faço”, em anúncio subliminar de que este não seria seu último trabalho na velhice e não foi – graças a Marte.
Lançado em seu 69º aniversário, “Black Star” tem um Bowie mais experimental e intenso. Construído em percussões drum’n’bass, notas de free jazz e saxofones. Montes e montes de saxofones. Não é totalmente inacessível – na verdade, inúmeras faixas possuem algumas das melodias mais lindas que Bowie compôs, como em “Blackstar”, faixa-título do álbum. Um álbum que transparece a sua inquietação com músicas que desconcertam de uma idéia para outra. Apesar desta experiência solta e um tanto aterrorizante, “Blackstar” termina de forma mais enigmática com “I Can’t Give Everything Away”, que pode ser considerada a melhor faixa do álbum, que podemos considerar, em meio a todas as suas armadilhas, um quebra-cabeça que implora pela pesquisa minuciosa. Além de uma obra solidamente única de um artista que jamais temeu quebrar limites.
HOT-HIT: Blackstar : “How many times does an angel fall?”
Banda: Ty Segall
Album/Ep : Emotional Mugger
Lançamento: 22 de janeiro
Fiel às raízes da música analógica, Ty Segall, mesmo com seus inúmeros projetos paralelos, começou a criação de seu mais recente trabalho solo. “Emotional Mugger” teve uma promoção para o álbum um tanto confusa, que começou com uma série de fitas VHS feitas com filmes perdidos de Micheal Keaton e Nicole Kidman, além de um telefone (1-800-281-2968 knocking yourself out/espancar-se) com uma secretária eletrônica ofegante e ansiosa, algo saído de algum filme b-side de terror de José Mojica Marins : “Você ligou para “Emotional Mugger” (em tradução literal Ladrão de Emoções). Estou ansioso para ouvir como posso preencher os buracos em seu ego.”
“Emotional Mugger” dialoga diretamente com o furto de sensações dado pelo excesso de informação conectada, desconexão pessoal, de forma relativamente não ortodoxa e sem esmeros tecnológicos, como em uma busca pessoal pelos “prazeres analógicos”.
HOT-HIT: The Magazine : silêncios quebrados por riffs de guitarra constróem uma caverna inóspita, onde pedras são sua única ferramenta de sobrevivência.
*Apolinário, artista plástico e pesquisador, aprendeu a maior parte de seus “skills” na Box1824, onde trabalhou. Ele existe em todos os espaços do mundo online e offline – mais do que humano, ele é um vírus.