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    Favorito da moda e das celebridades, artista Francesco Vezzoli fala ao FFW sobre mostra em SP
    Francesco Vezzoli na entrada de sua exposição na Oca, em São Paulo / FFW
    Favorito da moda e das celebridades, artista Francesco Vezzoli fala ao FFW sobre mostra em SP
    POR Camila Yahn

    Ao final da montagem da exposição Cinerama, que abre para o público na Oca nesta sexta, o artista italiano Francesco Vezzoli aguardava o FFW do lado de fora do espaço.

    Usando um óculos que ele chama de Dancin’ Days (em referência à novela brasileira), Vezzoli aguardava para a última entrevista antes da abertura para convidados. Do parque, ele ainda daria uma passada na loja da Prada, marca de sua amiga, ela mesma, Miuccia Prada.

    Miuccia é apenas um dos nomes estrelados que fazem parte do círculo de Francesco. Já participaram de seus projetos estrelas como Cate Blanchet, Natalie Portman, Michelle Williams, Sharon Stone, Helen Mirren e Jessica Biel. Em um musical no Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles, ele convocou Lady Gaga para tocar e cantar em um piano de Damien Hirst com um chapéu de Frank Gehry e o balé Bolshoi para dançar. “Na vida ou você é ambicioso ou não é”, ele me diz enquanto fazemos um passeio pelos vídeos que estão expostos. Seus filmes recheados de celebridades também funcionam como ironia à própria indústria que as alimenta e também como crítica política.

    Essa é a primeira vez que Francesco reúne todos os vídeos que fez ao longo de sua trajetória em um mesmo lugar, no caso, o pavilhão projetado por Oscar Niemeyer no parque Ibirapuera. “É uma honra para mim estar aqui. Niemeyer não foi apenas importante para o Brasil, sua visão de mundo ecoou em muitos lugares”. A arquiteta Zaha Hadid havia sido convidada para montar essa exposição, mas após sua morte, ele optou por fazer uma cenografia crua, apenas com a arquitetura de Niemeyer e sem intervenções dentro do pavilhão.

    Leia abaixo a entrevista com Vezzoli:

    Você acha que seu trabalho com estrelas do cinema e da música o tornou conhecido para um público maior?

    Quando comecei, achava que sim, mas depois me dei conta que o mundo da arte duvidava muito do uso de celebridades no início. Agora não, todo mundo faz, e essa é a razão de eu não fazer mais. Fui criticado no começo e não tenho ressentimento, simplesmente foi algo que aconteceu. Mas o que fiz, fiz como arte. Não estava falando de entretenimento, não estava falando de moda. Gosto de tudo isso, de cinema, arquitetura, mas para mim, reflexões e pensamentos sobre a arte são arte, não são outra coisa.

    Então tenho certeza que esses trabalhos circularam pelo mundo de uma forma mais ampla, e isso ajudou. Criou situações a meu favor e também contra.

    Você foi criticado?

    Sim, as pessoas achavam que era politicamente incorreto, que eu estava celebrando a cultura da celebridade… As coisas foram exatamente como eu quis no sentido de que eu queria muito mostrar esse efeito polarizador da celebridade. E elas polarizam mesmo, são poderosas, mais ainda no mundo do Instagram – infelizmente não o suficiente para eleger um presidente. Acredito que a força hoje está na mídia, nas celebridades e nas redes sociais.

    No meu trabalho usei as estrelas que quis, das mais simbólicas a vencedoras de Oscar. Cate Blanchet, Lady Gaga, Natalie Portman… Então, chegou um momento em que pensei: “ok, meus estudos estão completos, vamos seguir para outra disciplina agora”. Já chega de estrelas.

    Como você conseguia contato com as celebridades no começo?

    Com cartas, flores, de toda a forma que você pode imaginar.

    Alguém já disse não para você?

    Michelangelo Antonioni disse não. Mas ele já estava muito velho e com a saúde frágil, então entendi.

    Cena do remake de "Calígula", de Al Gore, com Milla Jovovich / Cortesia

    Cena do remake de “Calígula”, de Al Gore, com Milla Jovovich / Cortesia

    Você vem de uma família de esquerda e de repente se encontra no mundo glamoroso de Hollywood, que ignora os ideais de uma educação de esquerda. Você teve algum conflito com isso?

    Não, porque eu não ficava amigo das estrelas que estavam trabalhando comigo. Eu as estudava como um cientista ou um antropólogo. Para mim, um ser humano tem duas coisas para oferecer: sua identidade pública ou sua verdadeira personalidade, sua identidade privada. Até mesmo na atriz de quem fiquei mais amigo, a Jeanne Moreau… Ela é a mais incrível, inteligente e culta das mulheres, mas, no fim, eu queria ouvir sobre sua amizade com François Truffaut, Louis Malle. Sim, ela é uma mulher interessante e doce, mas por mais que elas sejam irresistíveis, eu tendo a preferir a atriz sobre a mulher. Não porque a mulher não é legal, mas porque no caso de Jeanne, a vida que ela teve é inacreditável.

    Você é um dos artistas preferidos da turma da moda, é grande amigo de Miuccia Prada e senta com Kate Moss e Mario Testino no desfile da Chanel. Como se deu essa relação?

    Sempre gostei de moda, sempre estive perto desse universo. A primeira vez que encontrei Jean Paul Gaultier, disse: “olha, fui ver seu desfile quando você estava filmando “Prêt à Porter” com Robert Altman. Aliás, eu chorei tanto em dois ou três dos seus desfiles”. E eu nunca nem me perguntei: tem algo errado em querer ser um artista e chorar num desfile do Gaultier? Acho desfiles algumas das peças de teatro mais interessantes que podemos ver no mundo hoje.

    Você faz obras muito bem produzidas, que dão um grande trabalho para desenvolver, envolvem grandes colaborações e trabalho duro, mas que duram muito pouco. Seja um curta dirigido por Roman Polanski, um museu que dura apenas 24 horas ou uma performance de Lady Gaga com o balé Bolshoi… Como é esse processo da impermanência e da efemeridade no trabalho?

    A efemeridade é parte do que faço. Meu trabalho é um espelho para a vaidade, para a ilusão, é absolutamente conceitual e faz parte da estrutura da minha arte criar esse circo absurdo e fazer com que dure tão pouco. É também um espelho de vida, de amor… Desejo! Desejo é algo muito importante e todos sabemos que não dura para sempre.

    Então você não fica apegado às suas obras e performances?

    Não! Eu sigo em frente, eu quero um novo desejo!

     

    Se o que você faz acaba tão rápido, como é o seu relacionamento com a arte como mercado?

    Sou terrível, não sou uma estrela do marketing. Sou bem sucedido, mas péssimo nesse sentido. Eu sou uma grande falha do marketing, não penso em colecionadores… Não é que não goste deles. Por exemplo, eu venho pro Brasil e não fico sonhando que um colecionador virá ver a mostra. Quer dizer, claro que sonho, mas se você me perguntar qual é o meu primeiro sonho, eu falo: “gostaria que viesse alguém da Globo e dissesse: você precisa conhecer Gilberto Braga e juntos vão fazer o renascimento da telenovela”. Então, temos que sonhar, um dia as coisas podem acontecer, mas eu tento não me preocupar muito com isso.

    E o que pensa das feiras de arte ao redor do mundo?

    Detesto todas elas. Talvez porque eu não tenha muito sucesso nelas, mas odiaria mesmo assim. Não sei, eu realmente quero me conectar com as pessoas. Após essa eleição acho que está mais urgente do que nunca que artistas e políticos se conectem com as pessoas. Os intelectuais talvez tenham perdido a capacidade de conectar com o povo. Até mesmo as universidades não são mais capazes de dar uma educação que faça as pessoas felizes ou vá de encontro com suas projeções. Para mim, é muito bom estar aqui. E sei bem que talvez um purista da arte contemporânea pode vir na Oca e dizer: “acho esse pôster muito grande, essa entrada não está perfeita”, etc. Mas eu não me importo. Para mim, o mais importante é que estou expondo em um pavilhão do Niemeyer. Isso é de uma relevância pública que não tem preço. As pessoas andam pelo Ibirapuera e podem entrar aqui sem me conhecer, eu não ligo, acho incrível. Eu quero ser uma estrela do povo e não do marketing.

    O que você está fazendo agora?

    Estou preparando uma grande exposição em que faço a curadoria pela primeira vez. Será na Fundação Prada é a primeira mostra que vai ocupar todo o prédio. Vamos falar sobre televisão, política e arte nos anos 70 e hoje. A gente fez uma parceria com um canal nacional, o RAI, que se fosse em Londres seria um show entre a Tate Gallery e a BBC. Aqui seria algo como Masp e Globo. A Fundação Prada é um lugar onde todos querem expor porque eles não têm as limitações de uma instituição pública.

    Também teria muito mais interesse em achar um patrono que pudesse financiar uma escavação arqueológica. Alguns colecionadores gastam US$ 3 milhões em uma pintura. Com esse valor, você abre uma escavação arqueológica na Itália e descobre uma cidade escondida. Acho isso mais interessante que uma pintura.

    Cinerama – Francesco Vezzoli @ Oca – Pq. do Ibirapuera

    De: 10.11 a 11.12.16

    Ingresso: R$ 10

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