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    Sharon Van Etten em São Paulo: leia a entrevista e veja fotos de ensaio exclusivo
    Sharon Van Etten em São Paulo: leia a entrevista e veja fotos de ensaio exclusivo
    POR Augusto Mariotti

    Por João Lourenço, em colaboração para o FFW

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    Sharon Van Etten veste Paula Raia. Fotos clicadas na Barry Company ©Eudes de Santana

    A primeira canção do mais recente álbum de Sharon Van Etten “Are We There” começa como uma espécie de lembrete para ela mesma: “Eu preciso que você não tenha medo de nada”. O albúm marca uma nova fase na carreira da cantora — é como se ela tivesse encontrado o tom certo. A fim de criar um vínculo honesto com o ouvinte, Van Etten escreve de um lugar de extrema vulnerabilidade. Em faixas que narram os capítulos de um relacionamento abusivo, ela disseca emoções complicadas em versos e estruturas simples. “Cutuco a ferida, analiso, tento entender o que estou passando através da música. Não trabalho em canções todos os dias. Procuro escrever quando estou em momentos confusos da minha vida, em fases que tenho que tomar decisões difíceis. Fazer música é uma forma de escape. Tento ser a minha própria terapeuta.”

    Movida por uma personalidade inquieta, Van Etten continua se desafiando. Após três álbuns recheados de colaborações com nomes de peso, como Nick Cave, Beirut e Rufus Wainwright, ela optou por um caminho mais direto e autoral. “Foi ótimo trabalhar com essas pessoas, mas eu precisava provar que era capaz de comandar todas as etapas da produção do meu disco.” O resultado é um álbum sobre memória, vazio, promessas, lealdade, violência e cura. A voz da cantora pede para fazer algo, tomar o controle, perdoar e seguir em frente.

    Recentemente, assisti ao documentário do Nick Cave, “20.000 Dias na Terra”. Tem uma hora que ele diz que é necessário olhar para o passado com bons olhos e cuidar das versões antigas de si mesmo, pois essa é uma das únicas formas de seguir em frente e criar algo novo. O que você pensa sobre isso?

    Minha memória piorou bastante nos últimos anos, mas tudo que eu escrevo tem base em experiências do passado, em pessoas que conheci. Tentei escrever canções mais animadas, mas no fim do dia eu ainda estou lidando com coisas que eu gostaria de ter feito e dito. Acho que o meu processo criativo funciona como uma espécie de terapia. Manter contato com si mesmo é importante, pois assim você consegue projetar com mais facilidade a pessoa que deseja ser. Os meus álbuns são recheados de canções que eu tinha escrito há muito tempo. Antes de ir para o estúdio gravar, tento deixar as ideias respirarem um pouco.

    Parece que você fez as pazes com o passado no álbum “Are We There”. Fale um pouco sobre ele.

    É como se eu tivesse dado um ponto final em alguns assuntos que me incomodavam. Morte, solidão e dor são sentimentos e experiências que presenciei muito cedo. Sei que é clichê dizer isso, mas essas experiências me transformaram em uma pessoa mais forte. Infelizmente, às vezes só percebemos a importância de amigos e família quando eles não estão mais presentes em nossas vidas ou quando algo ruim acontece. Se eu não tivesse passado pelo que passei, talvez não estaria mais tentando traduzir esses sentimentos universais em música. Sinto que as pessoas têm medo de expor essas feridas. No meu caso, funciona diferente. Eu preciso analisar, expor as fraturas e esperar que as pessoas se identifiquem com aquilo. Esse mar de emoções contráditórias me ajudou a definir o tom desse novo álbum. Tentei não me censurar durante o processo.

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    Sharon Van Etten veste Paula Raia. Fotos clicadas na Barry Company ©Eudes de Santana

    Essa é a primeira vez que você produz o próprio disco. Como foi esse processo?

    Posso dizer que tive muita sorte. Nos discos anteriores, trabalhei com pessoas incríveis, como o Aaron Dessner (The National) e Greg Weeks (Espers). Eles me ajudaram a criar confiança para aprender uma linguagem nova. Eu não sou uma pessoa técnica, não entendo muito de equipamentos. Sempre fui movida pela energia das pessoas que estavam ao meu redor no estúdio, mas não conseguia guiar, dizer exatamente o que eu tinha em mente. Produzir esse álbum foi uma forma de provar que eu era capaz de fazer tudo de acordo com os meus termos. Aprendi que é preciso se rodear de pessoas com quem você se sente confortável. Pessoas que te apoiam e desafiam. É uma perda de tempo ir atrás de grandes estúdios que não confiam ou não entendem o som que você está tentando produzir.

    Quando você percebeu que a música poderia ser a sua carreira?

    Foi tudo muito espontâneo. Quando eu era criança, não sabia como me comunicar com as pessoas. Por conta disso, muitas vezes eu saía batendo as portas e me trancava no quarto. Um dia, preocupada com o meu comportamento, minha mãe me deu um caderno e pediu para eu escrever o que estava sentindo. Acabei pegando gosto pela coisa. Por anos, não sabia o que estava fazendo. Demorei bastante tempo até perceber que aquele ato de escrever era uma forma de terapia. Era algo como “ninguém me entende, mas, se eu escrever, vou conseguir tirar isso dentro de mim, vou me sentir melhor”. Em seguida, aprendi a tocar instrumentos. Com 20 e poucos anos, cansei de interpretar música de outras pessoas e passei a escrever meu próprio material. E aí começou a minha carreira na música. Antes, trabalhei em cafés e em uma loja de vinhos, aprendi muito sobre vinhos e pensei que essa seria a minha profissão. Mais cedo ou mais tarde, gostaria de voltar para a faculdade, estudar psicologia e trabalhar com adolescentes. Aquela idade é terrível.

    Quem teve o maior impacto criativo em sua vida?

    Minha família. Eu venho de uma família grande, somos em cinco irmãos. Meu pai tinha uma ótima coleção de discos de vinil que eu escutava o tempo todo. Meu pai era mais rock and roll e a minha mãe era o lado folk da família. Meus irmãos escutavam de tudo: de jazz a metal. Esse contato com diferentes gêneros musicais influenciou muito a minha música. E também me ajudou em um nível pessoal, pois eu não tinha muitos amigos, era bem solitária, tímida e quieta. Acho que, por isso, eu acabava indo atrás de atividades que podia fazer sozinha. Na adolescência, aprendi a tocar piano, violino e clarinete. Eu também cantei no coral da igreja, mas isso não deu muito certo.

    E hoje as suas apresentações se alternam entre lugares pequenos e grandes festivais. Você ainda se sente desconfortável no palco?

    Ainda é um pouco doloroso cantar ao vivo. Costumo me emocionar bastante durante as canções, mas, no fim do show, eu me encontro em um lugar melhor. De certa forma é um processo catártico. Acho que também depende da plateia. Se o pessoal está calmo, eu procuro falar menos entre as canções e evito contato visual. Me sinto mais confortável quando a plateia é barulhenta. Quando isso acontece, eu faço piada, converso com o público e até chamo pessoas para cantar comigo. Um show também depende muito do que você fez antes da cortina se abrir: você dormiu na noite anterior? Está de ressaca? Se alimentou bem? Tudo isso reflete na apresentação.

    No momento, qual seu maior desejo?

    Gostaria que as pessoas voltassem a olhar nos olhos umas das outras. Me assusta como hoje em dia todo mundo parece sempre estar olhando para os celulares. Pareço uma tia velha falando isso, mas desejo que as pessoas procurem outras formas de comunicação. Sinto falta de trocar cartas. Sinto falta de me perder em uma cidade nova. E também sinto falta de descobrir as coisas no meu próprio tempo. Sabe, quero encontrar uma música ou artista de forma aleatória e não porque todo mundo disse que tenho que escutar ou assistir aquilo.

    Sharon Van Etten @ Popload Gig

    Sharon Van Etten toca nessa sexta-feira (12.06) em São Paulo, no Cine Jóia, no evento Popload Gig. Os ingressos estão à venda por R$ 180 (inteira) e R$ 90 (meia-entrada) no site sympla.com.br.

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