Siri Tollerød em editorial publicado em maio de 2008 na “Vogue” italiana ©Miles Aldridge/Reprodução
Sonho ou pesadelo? Sanidade ou neurose? Por trás de sua superfície de impecabilidade, em que reinam cores saturadas e elementos luxuosos, as fotografias de Miles Aldridge causam desconforto. Mesmo virtuosamente maquiadas, penteadas e vestidas, as mulheres retratadas por ele exalam melancolia e, quiçá, loucura; ainda assim, seus olhos parecem vazios, falta-lhes ânimo.
Em “I Only Want You to Love Me”, coletânea publicada pela Rizzoli e retrospectiva em cartaz até 29 de setembro na Somerset House, em Londres, Aldridge exibe, em larga escala, sua obra, incluindo fotografias que produziu para a “Numéro” e para as edições italiana, americana, chinesa e japonesa da “Vogue”. Em todas as imagens lá presentes, ele reafirma a estética que o tornou aclamado e que, poeticamente, mistura surrealismo, psicodelia e pop-art.
O fotógrafo britânico Miles Aldridge ©Reprodução
Aldridge, nascido em 1964 em Londres, é filho do ilustrador britânico Alan Aldridge, que, inclusive, também é pai das modelos Lily e Ruby Aldridge. Ele cursou artes plásticas na Central Saint Martins, mas, após graduar-se, achou a profissão “entediante” e decidiu que seria “diretor de cinema ou fotógrafo”, como contou em entrevista recente ao site “The Cut”, adicionando: “Comecei a fazer pequenos filmes de arte em super-8. […] Terminei como diretor de vídeos, dirigindo clipes pop para o The Charlatans e Jesus and Mary Chain.
Na época, Aldridge saía com uma aspirante a modelo, que retratou despretensiosamente. As imagens, anexadas ao book da mesma, foram parar na redação da “Vogue” britânica, que, no fim, contratou a ele, não a ela. A partir daí, voltou-se exclusivamente à fotografia de moda; em entrevista de 2009 ao “Style”, comentou que tais fotografias possuíam “naturalidade real e simplicidade” e que, o mais provável, é que tenham chamado a atenção da equipe da revista por expressar o amor que sentia pela namorada.
Carol Trentini em fotografia publicada na “Vogue” italiana em março de 2008 ©Miles Aldridge/Reprodução
Ao começar a trabalhar, percebeu que, apesar de não possuir conhecimentos técnicos, queria criar algo diferente, “mais complexo e estranho”. Fascinado com as mulheres, Aldridge dedicou-se a mostrar figuras femininas problemáticas, oprimidas por segredos, mas perfeitas por fora; já seu estilo veio depois de visitar uma exposição de Peter Lindbergh no Japão. Ao ver tantas imagens em branco e preto, percebeu o quanto apreciava as cores e, graças ao apoio de Franca Sozzani, editora-chefe da “Vogue” italiana, pôde estabelecer-se. Com exceção de Steven Meisel, aliás, ele é o fotógrafo que mais colabora com a revista.
Campanha da M.A.C Cosmetics de 2008 ©Miles Aldridge/Reprodução
Com bastante frequência, Aldridge também produz editoriais para o jornal “The New York Times” e a revista “The New Yorker” e, há inúmeras temporadas, fotografa as campanhas da M.A.C Cosmetics e da Harvey Nichols. Em abril, ele divorciou-se da modelo americana Kristen McNenamy, com quem foi casado por 16 anos e tem dois filhos. À parte à exposição na Somerset House, a galeria Brancolini Grimaldi, em Londres, promove, até 28 de setembro, uma mostra em homenagem a Aldridge.
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