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    Direto da “Mag!”
    Direto da “Mag!”
    POR Redação

    Por Juliana Lopes, em colaboração para a “ffwMAG!”

    Donatella Versace ©Divulgação

    Atrás dos brilhos dourados da cabeleira de Donatella Versace, mora um olhar sincero, com bom humor e leveza para carregar um nome do tamanho da Versace (e toda a história de um passado efervescente e dramático). Donatella orquestra uma afiada sinfonia de talentos, que escolhe a dedo, para sua maison. O design final é sempre dela. E o ponto de partida é sempre seu gosto: de cores, texturas e perfumes. Her house, her rules, her pleasure.

    ffwMAG! – A Versace tem, como muitas outras marcas italianas de prestígio, uma essência baseada num sobrenome, numa família. É uma característica clássica do Made in Italy que, provavelmente, não vai se repetir nas próximas gerações. Quando alguém entra no showroom da Versace, sente-se como se estivesse entrando na casa da família de vocês. O que você tem a dizer sobre isso? Costuma se lembrar da presença de seu irmão Gianni Versace?

    Donatella Versace – Meu irmão Gianni é sempre presente nos meus pensamentos. Ele criou o DNA da Versace e me ensinou tudo que eu sei sobre design de moda. Meu irmão percebeu os talentos que eu tinha e me ajudou a desenvolver isso. Hoje, sempre penso sobre o que ele faria em determinadas situações e, frequentemente, consulto os arquivos para me inspirar. Claro que, com o passar dos anos, acabei desenvolvendo meu próprio modo de levar a Versace, minha própria voz, então, se uso como referência nosso maravilhoso arquivo, vai ser sempre interpretado pela minha estética pessoal. E se existe um sentimento de família em torno da Versace, é porque nós evoluímos sempre nos baseando pelo que o Gianni construiu. Você está certa quando fala desse aspecto; de que, quando convidamos pessoas para ver um desfile no prédio da Via Gesu, é como se fosse um convite pessoal, um convite pra ir “lá em casa”. A natureza familiar do nosso negócio é a chave do sucesso e, como você diz, uma coisa muito italiana.

    ffwMAG! – Ainda que o mood das temporadas esteja sempre mudando, podemos sentir na Versace uma vibração de sensualidade.

    DV – A Versace sempre transmitiu sexo e glamour, vistos através de lentes italianas. O modo como interpreto isso pode ser diferente da forma como o Gianni interpretava, mas ainda é uma característica que delineia a marca, e vai ser sempre o que faremos. Não acredito que exista uma mulher neste mundo que não queira parecer sexy e glamorosa, e, sem dúvida, esse é o motivo do nosso sucesso.

    ffwMAG! – Você também transmite certa aura rock’n’roll, algo glam-dark, além de transitar bem no mundo do rock. Deu para reparar nisso no dia do show da Beth Ditto, após o desfile da Versus. Você estava se divertindo muito. De onde vem essa paixão?

    DV – Sempre fui muito apaixonada por música. Música é meu segundo amor depois da moda, e escuto rock o tempo todo. Gosto de ligar bem alto. Levanta o espírito e acho que música boa realmente inspira. Tem alguma coisa na atitude rock que combina com a Versace. Tem a ver com ser forte, confiante e rebelde. A mulher Versace, como as rock stars, é feliz por ser sexy, glamorosa e dramática, para ela é confortável estar no centro das atenções. Eu amo mulheres e homens com essa atitude.

    Beth Ditto durante o desfile da Versus ©Juliana Lopes/FFW

    ffwMAG! – Há algumas semanas, Lady Gaga foi ao seu escritório. Existem planos de alguma colaboração entre vocês? Muitas celebridades ficam em torno da Versace. Acha que esses amigos popstars transmitem moods interessantes pra marca?

    DV – Quando trabalhei com o Gianni, uma das minhas funções era engajar celebridades para ensaios e campanhas que fazíamos com grandes fotógrafos como Richard Avedon e Helmut Newton. Percebi que as celebridades têm a ver com o look da Versace. De qualquer forma, descobri que me dou bem com as celebridades e muitas delas viraram amigos. A Versace atrai celebridades por conta da porção de drama, sexo e glamour, e as popstars tendem a ser mais dramáticas que o resto das pessoas. Então, eu sempre encontro pessoas como Lady Gaga regularmente. Mas, neste caso, não há nenhuma colaboração específica na qual estamos trabalhando no momento. Essas pessoas supercriativas são ótimas pra gente conversar também, estão cheias de ideias. Criatividade é uma via de mão dupla, ajuda a inspirar as duas partes.

    ffwMAG! – A cultura atual dos novos consumidores e dos países emergentes mudou o seu sistema de criação?

    DV – É importante dizer que a Versace é sempre Versace, e é nisso que eu foco. Tenho em mente um tipo de consumidora quando crio, que é forte e confiante, uma mulher que quer parecer sexy e glamorosa. Na minha experiência esse tipo de mulher existe em todo o mundo e em todas as culturas, então não penso realmente de acordo com novos mercados. Por essa razão, não adapto meu approach criativo para mercados emergentes ou novos tipos de consumidores. Realmente penso que fazer isso seria extremamente perigoso, porque eu poderia perder o que faz a Versace ser a Versace.

    ffwMAG! – Quando pensa sobre a moda italiana hoje, em que aspectos vê inovação?

    DV – Falar de moda italiana é falar de um termo amplo se você considera o quanto são diferentes as marcas umas das outras. Mas uma coisa que nós dividimos é o desejo de sermos os melhores do mundo. Dividimos uma cultura muito rica que tem uma longa tradição em design de moda, e acho que isso é evidente nos diferentes modos que cada um de nós nos expressamos. Minha amiga Miuccia Prada, por exemplo, tem um tipo de design muito diferente do meu, e cria maravilhosas roupas italianas para os consumidores que querem aquele look. Os italianos sempre vão levar a moda a sério e tentar expandir isso. É a parte central da nossa cultura, como comida boa, vinho, ópera e carros esportivos!

    ffwMAG! – Você acha que o fato de ter que criar tantas coleções a cada ano afeta a criatividade?

    DV – Se você é sortudo o bastante para ter um monte de ideias, fazer muitas coleções não é realmente um problema. Em alguns aspectos, é uma benção, e não tem nada mais frustrante do que ter ideias que não podem ser vistas por meio dos produtos, porque não existe outro lugar pra mostrar isso. Gosto de ter diferentes coleções pra criar, me sinto fresca e afiada.

    ffwMAG! – Italianos normalmente transmitem uma joie de vivre que tem muito a ver com os sentidos: ver, comer, tocar, ouvir. Há alguma imagem que você gosta de olhar, um gosto de algo que tem prazer em beber ou comer?

    DV – Certamente você já ouviu aquele ditado italiano que fala da “dolce vita”, significando literalmente “doce vida”. Tem também a nossa filosofia de fazer uma “bela figura”, que significa você tentar se mostrar e parecer do melhor jeito possível. Tem algo sensual na cultura italiana e essa sensualidade existe na Versace. Existem muitos lugares onde gosto de passar meu tempo, inclusive o jardim do Palazzo Versace, que é um verdadeiro oásis de calma em pleno centro de Milão. Tem também o lago de Como, perto da cidade, onde o Gianni teve um casarão por muitos anos. Um lugar maravilhosamente pitoresco. Gosto de comer e beber vinho italiano, e gostamos de ingredientes frescos para comer com saúde.

    ffwMAG! – Seu nome e sua presença causam um “frisson” muito forte, não apenas como criadora de moda, mas como um mito no mundo pop. Em algum momento pensa nisso ou no porquê disso?

    DV – Sei que tenho uma reputação e uma imagem. Tinha um quadro no Saturday Night Live, em que uma comediante, chamada Maya Rudolph, me interpretava. E na interpretação dela eu estava sempre rodeada de homens musculosos com máscaras negras e calças de couro. “Eu sou Donatella Versace, bem-vindos ao meu show, onde eu fumo e estou linda”, ela dizia. E eu amava. A única coisa errada com aquele quadro é que ela usava diamantes falsos, e eu nunca os usaria, falei isso para ela inclusive. Olha, ninguém pode se levar muito a sério. Você não tem nenhum controle de como as pessoas te veem. Claro que contribuí para essa imagem de mim mesma um pouco, tendo o cabelo loiro, por exemplo, e usando Versace. Na verdade, foi o Gianni que me fez ficar loira quando eu tinha 11 anos, e eu agradeço a ele pela assinatura do meu look. Na realidade, minha vida não é tão fabulosa como as pessoas gostam de pensar. Adoraria que fosse. A imagem que as pessoas têm de mim é uma criação da mídia. Sou uma mãe trabalhadora, em primeiro lugar. Para a marca, de qualquer forma, não prejudica em nada. Se as pessoas querem pensar que eu passo o meu tempo com uma entourage de homens sem camisa e calças de couro, por mim tudo bem.

    + Assista abaixo ao quadro do Saturday Night Live com Maya Rudolph como Donatella Versace, e participação de Christina Aguilera:



    ffwMAG! – Na moda, sentimos que o gosto pessoal é o espírito do estilo. A estética Versace vem do que você gosta, certo? Conte como seu gosto foi desenvolvido e o que você faz para atualizá-lo.

    DV – Meu gosto pessoal, como o de qualquer outro, é algo que desenvolvi ao longo da minha vida. Meu irmão Gianni teve uma grande influência quando eu era muito jovem, e certamente adotei a paixão que ele tinha por mundos antigos, como o grego e o romano, e a iconografia disso. É por isso que a cabeça da Medusa é o símbolo da maison, por isso nós usamos motivos gráficos gregos. E, claro, além desse mundo, tem a música. Também sou interessada por viagens, arte, dança, fotografia e filmes. Amo política também, especialmente a política americana. Um dos highlights dos meus últimos anos foi participar de jantares da White House Correspondents Association.

    ffwMAG! – É impossível não notar que a Versus cresceu. Como foi o processo de encontrar o ponto justo de criação entre você e Christopher Kane? Como funciona o trabalho conjunto de dois “autores”? [*Christopher Kane deixou a Versus após o fechamento da “ffwMAG!” #32, onde esta entrevista foi publicada]

    DV – Quando meu irmão lançou a Versus em 1989, queria que a marca fosse assinada de um modo diferente, então ele me pediu pra desenhar. Quando eu decidi reviver a linha em 2009, minha ideia era fazer a mesma coisa que ele, diferenciar, então procurei um jovem designer pra colaborar. Pensei imediatamente no Christopher Kane. Eu conhecia o Christopher porque ele trabalhou no meu estúdio logo que se formou na escola Central Saint Martins, em Londres e, naquele momento, reconheci rapidamente que ele era especial. Pedi pra ele voltar e trabalhar comigo na Versus. Temos uma ótima relação de trabalho. Christopher tem energia e a atitude rock’n’roll que falamos. É uma colaboração genuína em que um expõe as ideias ao outro.

    ffwMAG! – Quais são os planos da marca no Brasil? Você pode antecipar algo?

    DV – Existem vários planos nossos para o Brasil. É um país maravilhoso e acho que há muitas semelhanças entre brasileiros e italianos. Mas não posso ser mais específica no momento porque nossos planos ainda estão em estágio inicial. Vou apenas dizer que acredito que o Brasil vai se transformar num país muito importante, e isso também vai ter a ver com a moda nos próximos anos. E, com a Copa do Mundo e a Olimpíada, tenho certeza de que muitas pessoas novas vão descobrir seu lindo país pela primeira vez.

    *Reportagem originalmente publicada na “ffwMAG!” 32, já nas bancas.

    + Direto da Mag: Os bastidores da criação de uma coleção na Chanel

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