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    Klaus Mitteldorf lança livro hoje no SPFW; veja a nossa entrevista com o fotógrafo
    Klaus Mitteldorf lança livro hoje no SPFW; veja a nossa entrevista com o fotógrafo
    POR Camila Yahn

    Klaus Mitteldorf ©Luisa Dias/Divulgação (2013)

    Era uma vez um jovem surfista (e arquiteto) que começou a fotografar os amigos pegando onda. Não apenas ele curtiu a brincadeira como suas fotos ficaram boas e logo foram parar nas capas das primeiras revistas de surf que surgiam no país. E algo que ele começou a fazer despretensiosamente acabou virando sua grande vocação: não foi o surf nem a arquitetura que fisgou Klaus Mitteldorf, mas a fotografia.

    Esse encontro aconteceu há 30 anos. Klaus passou a olhar a vida através de muitas lentes, de câmeras analógicas de vários modelos, câmeras de cinema e, mais recentemente, de seu iPhone. Das cores, formas e elementos gráficos ele criou uma estética própria que ganhou seu auge na década de 1980. Do surf ao skate a Ana Paula Arósio a muitas mulheres anônimas e nuas, a cenas debaixo d’água e horizontes distorcidos, Klaus construiu sua carreira olhando para tudo e para todos e encontrando diversão e encantamento no que cruzava seu caminho.

    Esse era o espírito. E ainda é. Klaus nunca se rendeu, não se deixou esconder atrás das gerações mais jovens e não teve medo de encarar as mudanças que a tecnologia trouxe, especialmente na fotografia. Aos 60 anos, ele acaba de lançar seu 10º livro, “Work”, uma compilação de fotos tiradas entre 1983 e 2013, está com uma mostra de 350 obras na Faap, em São Paulo, e ainda terá um lançamento do livro durante o SPFW, que começa no dia 28 de outubro.

    Todas as imagens selecionadas para os dois projetos formam capítulos de sua vida e, de certa forma, da fotografia de moda brasileira (apesar dele não fotografar apenas moda). Klaus tem aí uma carreira de 30 anos em que fez o circuito completo: ganhou dinheiro com publicidade, publicou ensaios em revistas de moda importantes, trabalhou para algumas publicações gringas, como as edições alemãs de “Elle” e “Playboy”, montou exposições, lançou livros e esteve presente em projetos embrionários e independentes. Inclusive, suas fotos estão na recém-lançada edição do “2Fanzine“, publicação independente criada por Dudu Bertholini e Kleber Matheus.

    Agora, o cinema também está no seu campo de trabalho. Mitteldorf está preparando dois longas-metragens para os próximos anos. “Cans on the Beach” é um filme que reconta a história das 22 toneladas de maconha que caíram no mar, nos anos 1980. E “Rio Santos” é uma ficção ambientada no que Klaus diz ser o maior estúdio da sua vida, a rodovia que integra os dois municípios e por onde o fotógrafo passou – e fotografou – inúmeras vezes.

    Apesar de ter conquistado seu lugar com imagens que trabalhavam cores forte e formas geométricas, ele diz, em uma conversa em seu escritório na Vila Madalena, que sua fotografia passou por mudanças radicais. De camiseta amarela, falando comigo da varanda para fumar seu primeiro cigarro da manhã, Klaus fala, relembra, ri e demonstra carinho e orgulho com o que construiu. E segue construindo. A cada saída na rua, uma pessoa é fotografada sem perceber.

    A estética que marcou a fotografia de Klaus na década de 1980 ©Klaus Mitteldorf

    Leia abaixo os principais momentos da nossa conversa e na galeria de imagens, as fotos que o próprio Klaus selecionou para o FFW que são representativas de sua carreira:

    “O que eu fazia nos anos 1980 era muito estético. Eu era mais comportado, minha fotografia era forma, cor e gráfico. De 1998 em diante, meu trabalho começou a mostrar imagens com muito mais movimento e falava de sentimentos e expressões”.

    “Mudei minha visão do mundo e minha fotografia sofreu mudanças radicais por conta disso. Hoje, o que me satisfaz é a mistura estética e expressão”.

    “Briguei muito com as revistas. Tinha uma Regina Guerreiro e um Fernando Barros que queriam definir tudo. As minhas melhores fotos nunca foram publicadas. A revista nunca aceitava publicar, eles já tinham a referência pronta. Quantas vezes eu não tive que fazer isso na minha vida… Os grandes nomes que estão aí certamente se sujeitaram a isso também. Então por isso eu fazia livros”.

    “A ‘Vogue’ falava que eu deveria ficar feliz só pelo fato de estar lá. Esse era o espírito. E para ganhar o quê? Uma miséria”.

    “Meu trabalho legal de moda nunca apareceu em revista de primeira no Brasil. Eu acabava publicando em edições da ‘Elle’ fora do país, como na Alemanha”.

    “Nessa época (anos 80), enquanto as revistas eram uma ditadura, a propaganda estimulava a criatividade. Eu desenvolvia a linguagem da campanha. O fotógrafo era um criador. Nas revistas, nunca. Tanto que nossa moda em revista nunca trouxe nada de novo”.

    “Ao contrário de muitos companheiros que acham que o digital fez da fotografia algo banal, eu acho ótimo. Em 2004 eu já fazia editorial com o celular. Adorava a textura, achava aquilo interessante. O fato de todo mundo ter a chance de fazer também não tira o mérito do meu trabalho”.

    “Deixei a publicidade há quatro anos e hoje o que não ganho com a propaganda ganho com as minhas fotos através de galerias. Ou eu mesmo saio vendendo”.

    “A criatividade na publicidade sumiu por causa das tendências do mercado. Os grandes fotógrafos de moda também sumiram. Vão sobrar os artistas”.

    “A minha fotografia pessoal é mais valorizada hoje em dia do que antes. E hoje só continua quem tem uma marca na fotografia”.

    “Sou muito caprichoso com o meu trabalho. Independente se é analógico ou digital. Faço questão de que ele seja visto do jeito que eu gosto. Hoje é difícil encontrar esse zelo, esse carinho mesmo com o trabalho”.

    “Hoje meu trabalho é o de explorar. Fotografo anônimos na rua e monto a imagem deles do jeito que eu gosto. Faço um mix de layers que refaz totalmente a pessoa e a situação, é mais como eu gostaria de ver aquilo”.

    “Eu estava no Instagram, mas tive que parar senão minha família ia querer se separar de mim. Quando pego uma coisa, pego intensamente. Tava ficando louco, e deixando minha mulher louca, rsrsrs”.

    “Agora estou com dois filmes, uma ficção para 2014 e um filme para 2017, sobre o ‘verão da lata’ (quando os tripulantes de um barco da Ásia vindo para o Brasil foram acossados pela Guarda Costeira e tiveram que despejar no mar 18 toneladas de maconha enlatada). Estou em movimento, em uma fase muito feliz”.

    O livro “Work” está à venda nas livrarias brasileiras e também estará na loja FFW Shop, no SPFW (R$ 150) .

    “WORK: Klaus Mitteldorf – Photographs 1983-2013” @MAB FAAP
    De 15 de setembro a 27 de outubro
    De terça a sexta-feira, das 10h às 20h; aos sábados, domingos e feriados, das 13h às 17h
    Rua Alagoas, 903, Higienópolis, São Paulo

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