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    Cardin: na guerra, uma lata de sardinha vale mais que um perfume
    Cardin: na guerra, uma lata de sardinha vale mais que um perfume
    POR Redação

    pierre-cardin-no-brasilPierre Cardin em coletiva no shopping Iguatemi ©Cacau Araújo

    Pierre Cardin chegou ao Brasil para divulgar a exposição que leva seu nome e que fica em cartaz em São Paulo por um mês. Simpático e falante — segundo o próprio, por conta de suas raízes italianas, ele gesticula bastante e diz que se sente em casa no Brasil — Cardin deu uma entrevista coletiva nesta terça-feira (26.04), quando contou suas histórias, e, por consequência, deu uma aula de história da moda.

    Cardin chegou ao shopping e foi bastante fotografado. Seguiu para conhecer as instalações com os assessores e só depois, com algum atraso, seguiu para a coletiva. O espaço não era muito grande, de forma que ele se sentou bem próximo aos jornalistas. Falou com paixão e empolgação e parecia querer dispensar os serviços do tradutor. “Ninguém aqui entende bem francês?”, perguntou e arrancou risadas. “Italiano, posso falar um pouco de italiano também, fica mais fácil”, continuou. A língua não foi entrave; Cardin falava e esperava o tradutor, mas quando o assunto despertava paixão no estilista, ele atropelava o tradutor e se fazia compreender.

    pierre-cardin4Pierre Cardin ©Cacau Araújo

    Cardin tem 88 anos (quase 89, que completará em julho) com a empolgação e o brilho no olhar de quem está começando. O estilista — e arquiteto, e ator, e dançarino, e produtor de teatro e embaixador da Unesco, entre outras profissões — mostra lucidez na hora de falar sobre seus negócios, suas criações e a importância de cada feito.

    O FFW selecionou as declarações mais bacanas do designer que é lenda viva da moda:

    Começo da carreira

    “Sou o mais antigo e mais velho estilista vivo. Aposto que muitos de vocês nem eram nascidos quando eu comecei a trabalhar com moda. Fui o primeiro empregado de Christian Dior, chegava para trabalhar às 8h e saia às 21h. Desde que abri meu próprio negócio, nunca tive financiador, o trabalho foi meu. A decisão de não depender de ninguém me trouxe mais liberdade, mas me obrigou a ter muito mais responsabilidade”.

    O amor pelo teatro

    “Trabalhei por três anos com Dior e depois fui fazer figurinos. Gosto da moda, mas amo mesmo os figurinos, eles aproximam as pessoas. Minha relação com o teatro é intensa, sempre me interessei pelo tema, até comprei um teatro. Dirijo e produzo também, minha última produção foi ‘Casanova’, tem a ver com essa minha origem italiana”.

    As profissões de Cardin

    “Já fui ator e dançarino, estudei arquitetura, sou diretor de teatro há 45 anos, sou embaixador da Unesco e já fiz parte da Cruz Vermelha. Na época da Cruz Vermelha, eu era jovem, tinha uns 18, 19 anos e vivia com um pedaço de pão por dia. Você imagina o que é ser um menino nessa idade e passar o dia com um pedaço de pão? Sou também jornalista, já editei revistas, além disso sou acadêmico da Academia de Belas Artes. Não estou me vendendo, apenas explicando quem eu sou”.

    Segredo de gestão

    “Já trabalhei muito, amo meu trabalho, prefiro trabalhar a tirar férias. O período em que eu estive na Cruz Vermelha me ensinou a administrar pessoas, naquela época eu já fazia isso diariamente, tinha que lidar com centenas de pessoas diferentes. Trouxe esse conhecimento para minha marca e nunca dependi de ninguém. Sou 100% dono do meu negócio. Gosto de brincar que sou meu próprio banqueiro, sempre fui”.

    O valor da marca Pierre Cardin

    “Se eu venderia minha marca por um bilhão de euros? Se o mundo tem sete bilhões de pessoas, imagine se cada pessoa desse um euro pela minha empresa? Então eu teria sete bilhões de euros. Tenho uma marca mundial, meu nome é muito conhecido, estou em vários produtos licenciados, roupa, chocolate, hotel, água. Se cada pessoa pudesse dar um euro pela minha empresa, por que eu a venderia por apenas um bilhão?”.

    Licenciamento

    “É impossível não fazer licenciamentos, não dá para viver só de alta-costura. Fui para o prêt-à-porter por causa disso. Não há nenhuma vulgaridade em vestir quem trabalha. Sempre tive um quê de socialista, de as pessoas conseguirem comprar minhas roupas. A alta-costura é muito cara, porque o processo de fazer a roupa é muito caro. Com o prêt-à-porter, tive oportunidade de vender em lojas de departamento no mundo inteiro, na Inglaterra, Itália, Alemanha, Japão… Eu queria deixar uma marca, não um arranhão. Meu nome não está só em roupas, está em chocolates, água mineral, hotéis, sardinhas… Já questionaram essa minha decisão, mas a verdade é que eu sou do tempo da Segunda Guerra Mundial e na guerra, uma lata de sardinha vale muito mais do que um vidro de perfume”.

    pierre-cardin5Pierre Cardin ©Cacau Araújo

    Pelo mundo

    “Viajei o mundo, já fui à Rússia várias vezes, inclusive na época em que ela era um país fechado. China, Japão, Egito. Já passei muito pela América do Sul também, devo ter vindo umas 15 vezes ao Brasil. Conheci pessoas como o [Nelson] Mandela e o imperador japonês. Amo observar as pessoas, me interesso por elas, a política, a cultura, as origens. A moda vem daí, de conhecer as pessoas e sua cultura”.

    Ser elegante

    “A elegância vem de dentro, é um comportamento. Uma pessoa elegante se nota pelo gesto, não pela roupa. Não é só porque você usa roupas caras que você será elegante. Uma pessoa usando roupa comum pode ser elegante e uma pessoa muito rica pode não ser elegante, alguém da realeza pode não ter elegância e isso não é um problema”.

    Passarela e originalidade

    “Esse meu desfile [que acontece nesta terça no Iguatemi de São Paulo] é uma retrospectiva do meu trabalho. São modelos antigos, mas também haverá modelos atuais, que criei nos últimos anos. Ser costureiro é como ser um artista, que tem seu próprio estilo, uma autenticidade e características capazes de serem identificadas. É importante as pessoas pegarem nas roupas e falarem ‘isso é um Balenciaga’, ‘isso é um Dior’. Se alguém copia seu trabalho é porque você é autêntico”.

    Cardin e o Brasil

    “Já vim muito ao Brasil. Tive até um tio que veio morar aqui, mas ele já morreu, é claro. Atuei em um filme dirigido por Cacá Diegues [“Joanna Francesa”, de 1973] e por causa das filmagens, viajei o Brasil. Conheci Manaus, Fortaleza, Bahia… Quando eu trabalhava na Dior, as modelos brasileiras eram as mais bonitas. Vocês têm uma raça internacionalizada, que é a mistura de todas as raças. As grandes modelos hoje são brasileiras. A mulher brasileira é bonita, elegante naturalmente. A sul-americana em geral é, mas a brasileira em particular”.

    Conselho para os novatos

    “Trabalhe muito, goste do seu trabalho. Não há sucesso sem trabalho. Não copie, saiba o que foi feito para não repetir. Viajei muito, conheci muitos museus e obras, não para copiar, mas para saber o que já existia para que eu fizesse diferente. Acho que hoje em dia deve ter muito mais gente avant-garde do que na minha época, com mais informação, mais possibilidade de escolha. Mas a verdade é que a criatividade tem de ser provocante e, na maioria das vezes, incomoda”.

    Pierre Cardin – Criando Moda Revolucionando Costumes

    De 29 de abril a 29 de maio
    De terça a sábado, das 12h às 21h; domingo, das 14h às 20h
    Entrada franca

    Shopping Iguatemi São Paulo
    Av. Brigadeiro Faria Lima, 2232 – 9º andar

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