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    Virgil Abloh confirmado no masculino da Louis Vuitton; leia nossa entrevista com o diretor criativo
    Virgil Abloh confirmado no masculino da Louis Vuitton; leia nossa entrevista com o diretor criativo
    POR Camila Yahn

    Virgil Abloh tem construído um negócio bem sucedido e influente com sua marca Off-White e fazendo colaborações com empresas gigantes como Nike e Ikea. Ainda assim, seu maior sonho era se tornar diretor criativo de uma grande maison de moda – foi ele mesmo quem contou para a gente em uma entrevista por telefone publicada na mais recente edição da FFWMAG.

    Pois seu sonho foi realizado. Abloh foi nomeado diretor criativo do masculino da Louis Vuitton, no lugar de Kim Jones que foi para a Dior Homme. Virgil era o nome mais cotado para o cargo e é o primeiro estilista negro a ocupar o cargo na Louis Vuitton. “Virgil é incrivelmente bom em criar pontes entre o clássico e o zeitgeist do momento”, disse o CEO da marca, Micheal Burke. Eles se conheceram 12 anos atrás quando Abloh fez um estágio na Fendi durante seis meses junto com Kanye West. Na época, Burke era CEO da marca italiana e ficou impressionado com como eles traziam uma vibe nova ao estúdio e eram disruptivos no melhor sentido da palavra.

    Quando a saída de Kim Jones foi anunciada, a pergunta que pairou no ar foi: o que será da Louis Vuitton? Será que ela vai deixar a pegada streetwear e voltar para o clássico? A virada que Kim Jones fez na LV Homme foi certeira – segundo um estudo da empresa de consultoria Bain & Company, o segmento de streetwear ajudou a impulsionar as vendas globais de bens pessoais de luxo em 5% no ano passado. A escolha de Virgil Abloh certamente vai manter e ainda aprimorar o papel da Louis Vuitton como uma das marcas mais fortes no segmento masculino. “De certa forma, tudo o que fiz foi para criar um argumento convincente para que eu pudesse assumir um papel como esse. Penso nisso como a principal forma de colaboração”, disse ao NYT.

    Abaixo, você pode ler a entrevista na íntegra com Virgil Abloh.

    ………………………………………………………………………………………………………………………

    Hiperativo, hipercriativo, iperconectado. Virgil Abloh é também um dos nomes mais comentados quando o assunto é moda, streetwear, comportamento e juventude. É um dos criadores de uma nova linguagem que está adicionando novos contornos e contextos à moda.

    Fundador da marca Off White, que desfila na semana de moda de Paris desde 2015, ele impressiona por seu currículo de trabalhos, colaborações e projetos que andam ao mesmo tempo. Abloh é parceiro criativo de Kanye West, assina colaborações com Nike, Ikea, Rimowa, Levi’s e com o artista japonês Takashi Murakami, discoteca sob o nome Flat White, inventa projetos ousados como recriar o Hacienda (clube de Manchester dos anos 90) e viaja mais de 300 dias por ano.

    Mas uma de suas colaborações mais ambiciosas, sem dúvida, é com a Nike. Neste ano, eles lançaram o The Ten, uma exploração colaborativa de 10 modelos de tênis, incluindo ícones como Air Jordan 1 e Air Max 90. “Esses 10 sapatos quebraram as barreiras em performance e estilo”, diz.

    Foi natural o frisson que se criou aqui no Brasil quando Virgil foi anunciado como um dos headliners do Iguatemi Talks Fashion, evento com palestras, workshops e mesas redondas que aconteceu em outubro no shopping JK Iguatemi.

    Ele participaria de uma conversa com Dennis Freedman, ex-diretor criativo da W, e Jonathan Wingfield, fundador da revista System. Nossa entrevista com Abloh aconteceria, ao vivo, naquela mesma manhã. Dois dias antes, ficamos sabendo que ele não viria por um suposto problema de saúde. Na verdade, Virgil tinha uma palestra na graduação de design na Universidade de Harvard na mesma semana, o que pode ter sido o real motivo por trás do no-show.

    Sua participação no evento aconteceu via Skype e, através da tela, notamos que ele está sentado em uma cadeira com o logo da Nasa. Não, não é uma nova colaboração e sim um presente dado por seu amigo e mentor, o artista Tom Sachs. Esse é o mundo de Virgil Abloh, um mundo superlativo: as pessoas com quem convive e troca são muito relevantes em suas áreas; as coisas que faz, os produtos que lança, as frases que fala geram muitos ecos e têm influenciado a moda de uma maneira geral. Virgil Abloh é uma das razões por trás da atual obssessão do luxo com o streetwear. “Eu sou uma herança do streetwear”, disse em algumas entrevistas. Ele cresceu em Chicago entre skates, hip hop, grafite e camisetas baratas, em total contato com “coisas ‘streetwear’”. E um ponto importante dessa cultura é que ela instiga o DIY (do it yourself). O que Virgil e seu grupo fazem não foi aprendido na faculdade, eles mesmos ensinaram uns aos outros.

    Voltando à conversa no Iguatemi Talks, Freedman aponta para o fato do quanto Virgil é altamente educado culturalmente. Arquiteto por formação, ele cita o holandês Mies van der Rohe e o movimento Bauhaus como influências não apenas de sua estética, mas de seu pensamento. E compara seu trabalho criativo à ideia de criar um prédio que é tão bem resolvido em seus princípios que funciona na África, em Tóquio, em Shangai, em qualquer lugar. Esse é o conceito por trás da Off-White, o de uma linguagem universal. Outro artista constantemente mencionado por Abloh é Marcel Duchamp, para quem ele tem uma outra analogia: colocar um urinol (referente à obra Fountain) em uma galeria é o equivalente a colocar um suéter da Vlone (marca masculina de streetwear com a qual Virgil colabora) fechando um desfile. “Em muitos jeitos, acho que Duchamp está na vanguarda do nascimento dessa idea de arte contemporânea em que a ideia por trás dessa arte é tão importante quanto sua representação física”, ele nos contou. Sim, nossa entrevista aconteceu! 15 minutos, por telefone.

    Virgil “surgiu” no mercado quando começou a trabalhar com Kanye West como diretor criativo de sua marca. Paralelamente trabalhava em projetos criativos com outros amigos artistas. E assim, através de um filme de moda que queria fazer com o artista Jim Joe, nasceu sua primeira marca, a Pyrex Vision, e com ela os fundamentos que mais tarde resultaram no surgimento da Off-White.

    Parte de um grupo de pensadores e criadores independentes, o que Abloh está fazendo é oferecer uma nova ideia de luxo e cuja estética tem muito a ver com os anos 90, período em que ele era adolescente e se viu despertado pela moda, através de marcas como Rick Owens e Supreme. De uma criança negra crescendo em Chicago a consumidor e mais tarde, grande influenciador. 

    Você fala muito sobre Marcel Duchamp como uma das suas grandes influências e notei que ele também é uma referência para o seu amigo Jim Joe. A provocação que vem com peças como a Fonte é o que te atrai?

    Em muitos jeitos, acho que ele está na vanguarda do nascimento dessa idea de arte contemporânea em que a ideia por trás dessa arte é tão importante quanto sua representação física. Hoje, nós estamos nos tempos modernos como um produto de tantos movimentos de arte que vieram antes.

    Você disse que a Off-White é uma linguagem universal e que você desenha algo que pode funcionar em qualquer lugar. Você sempre cria sob essa perspectiva?

    Eu apenas sigo meus instintos como um artista, como um criativo. Eu foco em fazer ideias que acho que tem valor e passo muito tempo pensando nessas coisas e pensando em como as pessoas recebem essas ideias. Então, pra mim, é apenas parte da minha ética e modo de trabalho.

    A moda de luxo sempre influenciou a moda de uma maneira geral, mas agora vemos uma influência enorme vinda da cultura de rua. É uma inversão de valores?

    Sim, acho que é uma relação inversa, mas que atua em ambos os sentidos. A cultura street está influenciando a alta moda e esta está influenciando a cultura street. E eu diria que isso está acontecendo de maneira igual.

    Sobre sua última coleção inspirada no guarda-roupa da princesa Diana: ela sempre foi um ícone de moda, mas nenhum designer na memória recente fez uma coleção inteira em torno dela. Ela era um ícone ou algo assim para você? Que memórias você tem sobre ela?

    Sim, ela foi um ícone muito grande pra mim. Sabe, ela foi essa figura global. Ela não tinha o apelido de The People’s Princess por nada. E acho que é importante saber que, de todas as minhas influências quando eu era novo, ela era a minha figura feminina, a que me influenciava. Eu tentei desenhar paralelos da sua importância, mas sob a minha perspectiva. Acho que ela predeceu o mundo que nós conhecemos hoje, esse fanatismo de todos com qualquer tipo de imagem de pessoas. Isso me fez olhar para seu guarda roupa de maneira diferente. Eu estava olhando para ela como um tributo.

    Eu li que é um de seus objetivos se tornar diretor criativo em uma grande marca. Aparentemente, você conquistou o que parece ser um sonho para qualquer designer. Por que você gostaria de trabalhar em uma maison? Você sente que precisa ser reconhecido pela indústria da moda mais tradicional?

    Estou interessando em ter um diálogo com o pedaço maior da história da moda.

    Uma maison, basicamente por característica, foi capaz de fazer algo quase impossível, que é existir por múltiplas gerações. Pra mim isso é a epitome do design duradouro, que é a habilidade de se relacionar com várias gerações. E sso é algo pelo qual tenho interesse. Eu quero marcar nossa era contemporânea.spread_104

    Para qual empresa você gostaria de trabalhar?

    Qualquer uma que tivesse interesse em me ter trabalhando para eles.

    O que significa ser original hoje?

    Significa ter uma perspectiva única. Ter um ponto de vista que possui sua própria identidade reconhecível.

    É possível que algo super comercial seja artístico?

    Eu acredito que isso seja possível. E acho que esse seja um dos grandes atributos do meu trabalho. De uma certa forma, é no que eu acredito: que coisas podem ser comerciais e artísticas. Depende apenas da intenção do design.

    Você disse que vivemos em uma geração onde todos são críticos de moda, mas porque a indústria da moda tem tanta aversão à crítica?

    Acho que não é algo entre o crítico e o designer, é mais algo como crítica x anúncios. Essa pergunta poderia ser dirigida direto a uma revista ou a uma marca. Falando por mim, eu estou interessado nisso e acho que crítica é algo saudável.

    Você faz parte de um grupo de pensadores independentes e que abre caminho para outros criativos independentes na área da moda. Você ainda vê barreiras para originais criativos como você, sem o background de moda tradicional, conquistarem espaço na alta moda?

     Na minha mente, eu espero que mais gente tire vantagem da liberdade. É isso pelo o que eu batalho. Um lembrete de que a indústria da moda não é um espaço impossível de se ocupar. Tudo é possível. Parte do meu processo é, através do meu trabalho, mostrar para outras pessoas que é possível. Isso é importante pra mim. Permite que os outros consigam visualizar essa oportunidade e pensar no que querem fazer.

    O que ser um influenciador significa pra você? Qual o verdadeiro significado dessa palavra?

    Pra mim, significa que você tem algo a oferecer. Um ponto de vista. É apenas uma palavra que significa: “ei, há algo nessa voz que é compreensível em termos de ser um novo centro para ideias frescas ou um novo começo.

     Você, ao lado de Edward Enninful e Olivier Rousteing, é um dos poucos homens negros nas melhores posições da indústria da moda. Você se vê como um agente de mudança na direção de uma inclusão maior?

    Não sei, isso é mais pra outras pessoas responderem sobre mim. Mas isso não chega nem perto da razão pela qual eu faço o que eu faço; eu não sou tão preocupado com isso. Apenas me encontro em um lugar onde, igual quando eu comecei, tento visualizar as ideias que surgem na minha cabeça. Esse é o foco do meu trabalho.

     A cultura de “quem fez isso antes” ainda faz sentido no mundo de hoje?

     Essa é uma questão de natureza humana. É tudo relativo. Por um lado, tudo já foi feito um milhão de vezes. Mas por outro, a propriedade intelectual dos artistas é o que inspira muita gente a criar, então…

    Quando você começou a prestar atenção em designers como Rick Owens e como isso te influenciou naquele momento?

    Eu sempre fui uma esponja. Desde adolescente, tudo me inspirava. De Rick Owens a tudo com o que me deparava. E nesse caso eu fui inspirado a fazer coisas e é muito nesse sentido que essa fase foi importante, porque me levou a, de fato, fazer coisas.

    Você tem uma marca, colabora com diversas outras, discoteca como DJ, tem dois filhos. De onde vem tanta energia?

    Sou inspirado pelo trabalho que faço, então pra mim é parte do meu ser. Não é trabalho, não é férias, é simplesmente no que estou interessado. E eu gosto de passar os dias fazendo algo que me interessa.

    Estamos diante de um momento delicado de patrulha e de tentativa de censura que impõe limites ao que é arte aqui no Brasil. Você acha que deve haver limites para a arte e a criatividade?

    Não, não acho que esse seja o caso. Acho que a arte tem que ser expressada e esse tipo de controle não deve existir.

    Texto originalmente publicado na revista FFW #43, à venda em bancas e livrarias no Brasil e disponível também online.

    + Tudo sobre a FFW #43 aqui

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