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    Com show no Brasil, Jean-Benoît Dunckel e Nicolas Godin, do Air, relembram seus melhores momentos
    A dupla Air, que toca no Brasil Foto: Cortesia
    Com show no Brasil, Jean-Benoît Dunckel e Nicolas Godin, do Air, relembram seus melhores momentos
    POR Redação

    Por Gaía Passarelli, com exclusividade para FFWMAG 42

     O que estava acontecendo na música pop quando o Air apareceu, em 1998? Na ressaca do grunge, era a música eletrônica que mandava no mundo. David Bowie flertava com o drum and bass e tinha acabado de lançar Earthling. O Radiohead vinha do celebrado OK Computer e Madonna voltava para as pistas de dança com Ray of Light. O líder do Blur, Damon Albarn, abandonava o britpop e lançava a banda de cartoon eletrônico Gorillaz, enquanto Björk começava seu processo de ultrarrefinamento musical com Homogenic. Nas pistas da Europa, Daft Punk, Les Rythmes Digitales, Étienne de Crécy e outros eram apanhados dentro do guarda-chuva do french touch, uma musica eletrônica de inspiração analógica com pé na disco.

    Foi nesse cenário que apareceu o Air (sigla para amour, imagination, rêve, em português, amor, imaginação e sonho), dupla formada pelos parisienses Jean-Benoît Dunckel e Nicolas Godin. O Air era diferente de todas as outras bandas, mas, ao mesmo tempo, conversava com tudo que estava acontecendo na época. Franceses, elegantes, cheios de boas referências estético-musicais, Dunckel e Godin propunham composições eletrônicas suaves de climão chanson vintage usando equipamentos analógicos. Com um disquinho de cinco músicas (Premiers Symptômes, de 1997) chamaram a atenção o suficiente para que uma gravadora encomendasse um álbum completo. O resultado foi Moon Safari, um dos discos essenciais da década de 1990.

    Trilha sonora da nossa vida

    Quase 20 anos depois, Moon Safari continua tão fresco e delicioso quanto em 1998 – eu sei porque ouvi na época e recentemente de novo, preparando-me para entrevistar a dupla por telefone. Na ligação cortada entre São Paulo e Paris, Dunckel foi o primeiro a explicar essa característica de longevidade do som do Air: “Nós sempre olhamos para o futuro”, diz. “Todos os artistas pensam em sua própria evolução, querem seguir em frente. Foi isso que fizemos.”

    Olhar para o futuro não evitou que o Air se tornasse uma banda clássica. Por isso, chegando aos 20 anos de carreira, Dunckel e Godin acharam que era hora de revisitar o catálogo. “Nossa música é atemporal. Queríamos que o público de hoje entendesse quem somos e também queríamos mostrar aos fãs o que realizamos nessas duas décadas,” continua Dunckel.

    Essa revisitação ganha forma física com a coletânea Twentyears, digna de colecionador. Em edição de luxo em vinil, vem com um disco com sucessos como “Sexy Boy”, “Kelly Watch the Stars” e “How Does It Make You Feel” e outro com 14 faixas raras ou nunca lançadas, incluindo colaborações com Charlotte Gainsbourg, Jarvis Cocker e Françoise Hardy. “Fazer as escolhas foi duro,” explica Godin. “Mas também foi bom, porque temos muito orgulho do que criamos.” Da seleção de faixas menos conhecidas, ele destaca “Run”, de Talkie Walkie, de 2004. “É uma bela canção. Como a maior parte de nossas músicas, não soa antiga e segue atual.”

    Para os dois, Talkie Walkie é um ápice da história do Air – se não a melhor fase, a predileta. É nele que estão composições como a delicada “Alone in Kyoto” e “Cherry Blossom Girl”. Na mesma época, a dupla se apresentou em um Hollywood Bowl lotado, acompanhada de orquestra sinfônica. Subir ao palco em que se apresentaram Beatles e Sinatra “foi uma confirmação do nosso sucesso”, diz Godin. “Somos muito sortudos por ter tido esse momento.”

    Na estrada

    Godin segue contando que, mais difícil que separar as faixas para Twentyears, foi escolher as músicas da turnê de comemoração dos 20 anos de carreira. “Temos tocado muito em festivais pelo mundo, antes ou depois de outras bandas, e por isso temos bem menos tempo do que gostaríamos.”

    Esse é um motivo para o show do Air no Popload Gig, em novembro, em São Paulo, ter pinta de ocasião especial: a noite é só deles. No palco, as composições ganham versões mais orgânicas, experimentais e longas que nos discos, ora dançantes, ora contemplativas. O visual do show é limpo e sofisticado, com luzes coloridas criando formas acima da dupla, sempre vestida em roupas brancas, que refletem melhor a luz.

    O outro motivo que torna especiais as apresentações do Air em 2016 é um hipotético fim da banda. Sem sucesso comercial desde o ótimo Love 2, de 2009, e sem lançar material novo desde 2014, quando saiu Music for Museum (uma encomenda do Palácio de Belas Artes de Lille lançado em edição limitada em vinil transparente), a dupla não sabe dizer se há um futuro criativo para ela. “É incerto, nós não sabemos o que vai acontecer. Mas eu certamente não enxergo um novo álbum nos próximos três ou quatro anos”, afirma Dunckel.

    Godin não acha que o AIR esteja em má forma, mas concorda que a prioridade atual é a turnê. “O foco agora são os shows. Depois, vai depender da inspiração. Sem inspiração, não há material novo.”

    Respirando

    Inspiração é a palavra-chave, e a dupla admite se sentir pouco inspirada, inclusive com o estúdio próprio em Paris, o Atlas. “É um ótimo lugar, amamos o espaço, tem uma tremenda coleção de equipamento”, diz Godin. “Mas o lado ruim é que o estúdio nos deixa numa situação muito estável e confortável, e precisamos de instabilidade para fazer as coisas acontecerem”, conta Dunckel.

    De fato, sair da zona de conforto foi o que fez um dos grandes momentos da carreira do Air: a trilha sonora atmosférica e etérea de As Virgens Suicidas, de 1999. “Foi um trabalho diferente, mas não foi difícil. Na época, a Sofia [Copolla, diretora do filme e amiga da dupla] ainda não era famosa, então fomos muito livres para criar em cima do que acreditávamos que o filme fosse. Vendo hoje, talvez a trilha seja dark demais para o filme”, diz Godin.

    Estar confortável não significa que os dois músicos estejam parados. Dunckel, que cita o norte-americano Daniel Lopatin, conhecido como Oneohtrix Point Never, como inspiração atual, está animado com o segundo disco de seu projeto solo, chamado Darkel. “Tenho ouvido muita música eletrônica e acompanhado arte digital”, conta. Já Godin, casado com a brasileira Iracema Trevisan, ouve hip-hop. Ira, que foi baixista do CSS, é formada em moda e, depois de mudar para Paris, trabalhou na Lanvin e Kenzo. Hoje cuida de sua própria marca de lenços estampados, a Heart Heart Heart. “É ela quem escolhe a música em casa”, revela Godin, mencionando Kendrick Lamar. Mas seus trabalhos solo vão em outra direção: em 2015, ele lançou disco inspirado na obra do compositor alemão Johann Sebastian Bach. E música brasileira, como bossa nova, também faz parte das referências. “A música brasileira é extremamente sofisticada, o nível de musicalidade de vocês é muito alto.”

    E que fã do Air nunca pegou um pouco de jeitinho bossa nova nas melodias da dupla, certo?

    O Air se apresenta em São Paulo dentro do Popload Gig:

    Data: Terça-feira, 15 de novembro
    Horário: 20h (portão) / 22h (show)

    Local: Audio (av. Francisco Matarazzo, 694, Água Branca)

    Compre ingressos aqui

    + Direto da FFWMAG

    Entrevista com Riccardo Tisci

    Entrevista com Eduardo Berliner

    Shooting FFW x Calvin Klein

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