A manchete da discórdia ©Reprodução
Bernard Arnault, presidente e CEO da holding LVMH, que é proprietária de marcas como Louis Vuitton, Céline, Givenchy e Fendi, está processando o jornal francês de esquerda “Libération” por “injúrias públicas”, de acordo com o comunicado oficial enviado pelos representantes do empresário e divulgado nesta segunda-feira (10.09) no site do próprio veículo. A ação judicial é decorrência da manchete estampada no número 9.745 do “Libération”, distribuído no último domingo (09.09), em que se lê “Casse-toi riche con!”, algo que, em português, pode ser traduzido como “Vá embora, rico idiota”.
A controvérsia teve início após o jornal “La Libre Belgique” revelar que Arnault, notoriamente o homem mais rico da França, estaria pleiteando a cidadania belga, iniciativa que teria sido motivada pelo anúncio do recém-empossado presidente François Hollande de reajustar em 75% os impostos dos cidadãos que possuem rendimento anual superior a € 1 milhão (cerca de R$ 2,59 milhões). Já a manchete do “Libération” é uma alusão a uma frase proferida em 2008 por Nicolas Sarkozy, ex-presidente e integrante do partido de centro-direita UMP (União por um Movimento Popular, em português), que retrucou “Casse-toi alors, pauvre con!” (“Vá embora então, pobre idiota!”, em tradução livre) após um espectador de uma exposição agrícola se recusar a apertar sua mão.
A segunda manchete do “Libération” ©Reprodução
Após muita especulação e polêmica internacionais, o “Libération”, mantendo seu já costumeiro caráter provocativo, publicou na capa desta terça-feira (11.09): “Bernard, si tu reviens, on annule tout!” (“Bernard, se você voltar, nós cancelamos tudo!”, em português), outra alusão a Sarkozy que, também em 2008, enviou a frase em uma mensagem de texto ao celular de sua ex-mulher, Cécilia Attias, poucos dias antes de seu casamento com Carla Bruni. O “WWD” aponta que, curiosamente, ao lado da segunda manchete há uma propaganda da Yves Saint Laurent, marca pertencente à holding PPR, concorrente direta da LVMH.
No já mencionado comunicado enviado à imprensa pelos advogados de Arnault, o empresário esclarece que continuará residente fiscal francês e que, desde a criação da LVMH, é um defensor do “savoir-faire” e do patrimônio nacionais, além de ter originado mais de 20 mil empregos diretos na França por meio das marcas que integram a holding. A rede de televisão “i>TÉLÉ” ainda reportou que os representantes legais de Arnault estão demandando ao “Libération” uma indenização entre € 15 e 20 mil (R$ 38.8 e 51.8 mil), bem como uma retratação e publicação da sentença judicial na capa do jornal.
Segundo Arnault, a solicitação da dupla cidadania decorre de inúmeros laços pessoais e empresariais que possui com a Bélgica. No entanto, é de conhecimento público que muitos empresários franceses têm se mudado para o Reino Unido, Suíça e para a já citada Bélgica para fugir do alto número de impostos do país. O “WWD” publicou o trecho de uma entrevista com o CEO do grupo de consultoria varejista MHE, George Wallace, em que o mesmo afirma que apenas em Londres já existe uma comunidade de mais de 400 mil expatriados da França. Enquanto isso, outra questão levantada na segunda-feira (10.09) por Vincent Giret, diretor de redação do “Libération”, é a liberdade de imprensa; a SNJ-CGT (Sindicato Nacional de Jornalistas), inclusive, disparou na mesma data uma nota intitulada “Bernard Arnault, dono da mídia: notícias em perigo”.
No texto de Giret, publicado no site do “Libération”, o diretor de redação afirma: “Até que se prove o contrário, a imprensa tem o direito de se expressar. […] A decisão de Bernard Arnault [de requerer a nacionalidade belga] contém também uma dose de vulgaridade”. Segundo o “Huffington Post”, Édouard E. de Rothschild, presidente do Rothschild & Cie Banque, que faz parte do grupo que controla o jornal de esquerda, defendeu a publicação dizendo que a manchete equivalia a uma “bela operação de marketing”, e ainda acusou Arnault de querer se esquivar do reajuste tarifário planejado pelo governo socialista de Hollande.
O “Libération”, co-fundado por Jean-Paul Sartre em 1973, tem o apoio do presidente Hollande, que durante o fim de semana questionou o amor à pátria de Arnault. Já o empresário, amigo de Sarkozy e simpatizante do partido de centro-direita UMP, está também em uma disputa judicial contra a Hermès por “calúnia, chantagem e concorrência desleal”: em 2010, a LVMH adquiriu 20,21% das ações da marca francesa, controlada pela família de mesmo nome e que deseja manter-se distante do domínio do empresário e de sua holding.