David Mallett nasceu em Perth, na Austrália, a mesma cidade-natal da modelo Gemma Ward e, geograficamente, a cidade mais isolada do mundo. Em palestra no Pense Moda 2009, Mallett explicou como entrou para o mundo da moda, mesmo tão fisicamente distante dele.
Colecionador de revistas e fã da estética do fim da década de 1970 e início dos Anos 80, ele diz: “eu olhava as fotos [nas revistas de moda] e pensava: quero fazer parte disso. Como não me interessei por maquiagem (não gosto de tocar em rostos) nem por fotografia, ficou claro que o cabelo era o caminho certo.”
Aos 15 anos, ele começou como aprendiz em um pequeno salão local, produzindo ensaios caseiros com um amigo. Aos 21, ganhou o Australian Hair Design Award e se mudou para Paris.
Depois de alguns anos fazendo pequenos trabalhos, ele encontrou sua fada madrinha, a stylist… Emmanuelle Alt! Vendo seu potencial, ela o colocou em contato com fotógrafos e editores, e Mallett não parou mais de trabalhar com a grande liga: Chanel, Dior, “Vogue”, “Numéro”, “V” e até o calendário Pirelli, que considera seu trabalho mais extraordinário: passou semanas com Peter Beard e cinco malas de itens em Botswana, ajustando apliques em meio aos elefantes.
Imagem do calendário Pirelli 2009 ©Peter Beard
Acostumado a cortar cabelos de amigos (principalmente modelos) em casa, David decidiu abrir um salão com seu nome em Paris, principalmente para vagar seu banheiro aos domingos, cansado de ter gente cortando e tingindo os fios por ali.
O negócio cresceu de 2 para 18 funcionários, escolhidos e treinados pessoalmente por ele. Os preços são mais amigáveis do que em outros salões da moda, e seu jeito divertido conquista a clientela disposta a pagar 200 euros por um simples corte – isso se houver horário na sua agenda.
Para as clientes mais especiais, como Carla Bruni-Sarkozy, Penélope Cruz, Diane Kruger ou Demi Moore, Mallett desenvolveu um soro especial que promete maravilhas: “deixa o cabelo lindo, leve, brilhante, saudável!”. A fórmula, é claro, ele guarda a sete chaves.
Como ícones de beleza de cabelos, Mallett citou Debbie Harry, Maria Callas, Marilyn Monroe, Farrah Fawcet, Jerry Hall, Louise Brooks e até a cantora punk-gótica Siouxsie Sioux. Algumas tem a ver com as tendências que ele prevê: o retorno dos cachos (adeus, chapinha), dos cortes de cabelo de verdade (adeus, camadas tipo Gisele) e das cores “quentes”, como mel e ouro.
Pergunto qual é sua “aussie slang” (“gíria australiana”) favorita. Ele pensa um pouco, algo incomum para um australiano, mas compreensível pra alguém que usa várias palavras em francês na conversa. “What do you reckon”, ele diz animado. Algo como “o que você supõe”, em português.
Eu respondo: “suponho que você vá dizer que meu cabelo precisa de cuidados”. Ele diz: “não, está ótimo. [Pausa] Mas eu gostaria de cortá-lo.”
Mallett mesmo admite: pensa e respira seu trabalho, mesmo aos fins de semana. “Meu trabalho é fazer as pessoas felizes”, resume. Ele, pelo menos, parece bem feliz.