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    O que está por trás da saída de Raf Simons, Alber Elbaz e Alexander Wang das grandes maisons
    O que está por trás da saída de Raf Simons, Alber Elbaz e Alexander Wang das grandes maisons
    POR Camila Yahn
    Raf Simons agradece em seu último desfile para a Dior, no Verão 16

    Raf Simons agradece em seu último desfile para a Dior, no Verão 16

    Os primeiros sinais de alerta vermelho vieram como um soco na cara: em 11 de fevereiro de 2010 recebemos a notícia de que Alexander McQueen havia cometido suicídio. Quase que exatamente um ano mais tarde, Galliano perde a cabeça em um café em Paris (e o resto da história vocês conhecem). Na mesma temporada, Christophe Decarnin, então diretor criativo da Balmain, não apareceu na passarela para agradecer após a apresentação. Nem ao desfile ele foi; por ordens médicas deveria descansar para cuidar de um breakdown violento – dizem que ele já estava afastado desde janeiro. Quem terminou a coleção foi a stylist da marca na época, Melanie Ward.

    Marc Jacobs já foi ao rehab algumas vezes tratar de seus vícios, heroína entre eles, e agora lida com uma questão inversa: a falta de pressão e atenção. Desde que saiu da Louis Vuitton, Marc tem se sentido sozinho e sem o buzz em torno dele, que vem junto com uma grande grife. Sem a Vuitton, ele se viu cuidando “apenas” de sua marca própria. É natural um tempo de luto, afinal ele ficou lá por 16 anos e foi o responsável pela retomada da Vuitton, além de ter detonado diversos momentos da história recente da moda, como o das colaborações e a aproximação da moda com a arte.

    + Marc Jacobs ainda é o principal estilista da moda americana?

    Marc esconde o peso da pressão com uma personalidade confiante, festeira e sorridente. Passa por um momento profissional de grandes mudanças e tem encontrado conforto nas festinhas regadas a droga e sexo. Esse lado de sua vida tem sido alvo de jornais intrigueiros, mas o fato é que: Jacobs pode parar de trabalhar agora se quiser e passar o resto de sua vida em uma sauna gay que seu nome já está garantido na história da moda contemporânea. Resta saber se, aos 52 anos e depois de tudo que já fez, ele ainda tem a mesma energia – ou vontade – de manter o ritmo enlouquecedor exigido em qualquer grande negócio hoje.

    Final de julho de 2015: Alexander Wang deixa a Balenciaga em comum acordo. 22 de outubro: Raf Simons deixa a Dior por vontade própria. 28 de outubro: a maioria dos acionistas da Lavin decide pela saída de Alber Elbaz.

    Nem com toda a sua energia, juventude e espírito streetwear, Wang conseguiu se suceder na Balenciaga. O erro, para mim, esteve desde o começo, em sua nomeação como diretor criativo. Nicolas Ghesquièrre surgiu na Balenciaga em 1997, mudou a história da marca, a colocou no top 3 dos desfiles mais disputados de Paris e se tornou um estilista cultuado, uma força que se movia com coleções inteligentes, instigantes e tecnológicas.

    A marca tinha o respeito da comunidade e da elite de moda, mas não crescia no mesmo passo que uma Prada. Sob o comando da jovem CEO Isabelle Guichot, na Balenciaga desde 2007 (e com 35 anos CEO da Van Cleef and Arpels), Ghesquièrre deixa a casa em 2012 por, segundo ele contou à revista “System”, estar exausto com a política da marca: “eu tinha um atelier maravilhoso e um time criativo próximo de mim, mas começou a ficar cada vez mais burocrático e corporativo até que não tinha mais a ver com moda e eu virei o Sr. Merchandiser”. Ghesquière disse que sempre tentou posicionar a Balenciaga como Chanel e Prada, mas ao contrário dessas duas marcas, ele não tinha os parceiros certos para crescer. “Fazia tudo sozinho. E as pessoas que cuidavam do business não entendiam como funcionava a moda. Isso não é um iogurte”.

    Esse é um dos pontos. CEOs do mundo corporativo estão sendo contratados para dirigir as maisons. Em 2012, Yves Carcelle, CEO da Louis Vuitton por 22 anos, foi substituído por Jordi Constans, vindo do ramo de iogurte. Um ano depois, Marc estava fora.

    Eles sabem vender um produto, mas têm pouco ou nenhum conhecimento de moda ou moda de luxo, um universo muito particular e com códigos próprios. O negócio é vender, lucrar e aumentar as vendas. Custe o que custar. Assim grandes mudanças acontecem em estruturas que são essenciais ao estilista, mas imperceptíveis ou desnecessárias aos olhos de um empresário outsider.

    Pensando por esse raciocínio, faz sentido trazer Alexander Wang para a Balenciaga: um jovem americano, o príncipe do street-sport-casualwear deluxe de Nova York, carismático, apadrinhado pela “Vogue” americana, amigo de celebridades e festeiro. A expectativa era que Wang colocasse a marca no topo da lista de desejos de jovens mundo afora. Mas ao fazer isso, eles simplesmente se esqueceram de onde a marca estava vindo, sob quais conceitos ela foi fundada e por que exatamente ela se manteve uma grife prestigiada. Wang não conseguiu porque não tem o espírito da marca. Porque Nicolas chegou em um nível tão alto que é mesmo difícil alcançar. Agora, com a contratação de Demna Gvasalia, a grife deve tomar outro rumo. Vamos aguardar.

    + Saiba tudo sobre o último desfile de Wang para a Balenciaga

    Muitas vezes prestígio não têm a ver com estrondo de vendas, por mais que haja um esforço para isso. O papel da Balenciaga era nortear, inovar, inspirar, empurrar as fronteiras um passo à frente, alargar nossa visão. E “só” isso já é um trabalho de uma complexidade absurda. Claro, trata-se de um negócio e um retorno nesse sentido é esperado. Aí que entram os CEOs, os parceiros que irão construir uma estratégia e uma estrutura junto com o estilista (Raf diz que a convivência com o CEO da Dior, Sidney Toledano, foi uma das experiências mais ricas de sua vida profissional).

    O fato é que Alexander Wang pareceu bem feliz e aliviado em seu último desfile para a Balenciaga. Ele escolheu viver sem o overload de trabalho e pressão que vêm junto com uma maison.

    O que nos leva a decisão de Raf Simons em deixar a Dior após apenas três anos. Com sua marca própria e com a Jil Sander, ambos negócios pequenos, Raf tornou-se um dos nomes mais adorados e cultuados da moda. Essa é a verdadeira mágica: um negócio pequeno, mas uma grande visão. E assim, muda-se o posicionamento da marca em relação a relevância que ela possui. E foi sua visão que o levou até a Dior, um dos postos mais cobiçados e de maior notoriedade da indústria da moda, com salários gigantescos e diversos benefícios. Para se ter uma ideia, até 2011, John Galliano ganhava 1 milhão de euros por ano (e mais 2 mi por sua marca própria), além de compensações que poderiam variar entre 700 mil e 900 mil euros, porcentagem quando há aumento nas vendas e ainda um budget para roupa e gastos com o visual.

    Quanto mais alto o salário, quanto maior o prestígio, naturalmente mais alto é o preço que se paga. Raf se viu às voltas com mais seis coleções por ano (além das de sua marca masculina) e ainda tendo que se transformar em algo que não é: um estilista estrela, amigo de celebridades, viajante professional, abrindo lojas pelo mundo, bolando desfiles melhores, maiores e mais impactantes que o último (seu e de seus concorrentes), se dividindo entre entrevistas, badalações e Instagrams. Parece que criar virou apenas uma parte do trabalho. Coisa pros fortes.

    + Os fatos e os hits do último desfile de Raf Simons para a Dior

    Raf deixa a Dior no auge do seu sucesso. Não foi fraco e sim corajoso. Ele trocou dinheiro, glamour e prestígio por tempo, saúde e tranquilidade justamente porque, sozinho, ele já tem dinheiro, glamour e prestígio suficiente. “Saí por meu desejo de focar em outros interesses da minha vida, incluindo minha própria marca e as paixões que me guiam fora do meu trabalho”.

    Uma semana mais tarde, Alber Elbaz sai da Lanvin após 14 anos por decisão da maioria dos acionistas da grife, assinada embaixo por Shaw-Lan Wang, dona da casa e do jornal “United Daily News”. O fato causou mal estar no meio da moda e entre os funcionários da Lanvin, já que Shaw-Lan cuida do negócio de Taiwan e estava distante da empresa num momento de crise. Ela é, em si, uma figura polêmica. Em uma entrevista ao “Financial Times” em 2012, Wang contou que comprou a Lanvin porque uma amiga usava e ela queria impressioná-la.

    Todos esses episódios trazem à tona, mais uma vez, preocupações sobre o ritmo da indústria e a pressão que sofrem os estilistas que são diretores criativos de grandes marcas de luxo. O próprio Elbaz disse: “nós começamos como costureiros, com sonhos, intuições. Nos tornamos diretores criativos, então tivemos que criar e dirigir. E agora temos que ser ‘image makers’, criar um buzz, ter certeza de que a roupa fique boa nas fotos”.

    Em seu último desfile para a Dior (que nós não sabíamos ainda que seria o último), Raf Simons disse à imprensa internacional: “tenho questionado muito. E sinto que muitas pessoas estão questionando. Pra onde isso vai? E não é só sobre as roupas, é tudo, são as roupas, é a internet…”.

    Sim, o mundo mudou e evoluiu bastante nos últimos tempos. Mas evolução e crescimento têm seus dois lados. Muitas vezes, por trás de grandes avanços, há pessoas pagando não apenas com suor. Alber Elbaz ficou 14 anos na Lanvin; Nicolas Ghesquière 15 na Balenciaga; John Galliano 15 na Dior; Marc Jacobs 16 na Louis Vuitton. Raf Simons 3 anos na Dior. Parece que algo finalmente começa a mudar.

     

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