Nos últimos cinco anos, o Brasil viu seu status de patinho feio da moda de luxo mudar rapidamente para cisne fashion. Com a crise mundial internacional deflagrada em 2008, o País se revelou como esperança de bons negócios. Nos anos seguintes, grifes como Chanel (2009), Carolina Herrera e Diane Von Furnstenberg (2010), Bottega Veneta (2011), Prada, Lanvin e Dolce&Gabbana (2012) abriram suas lojas próprias por aqui.
Se num passado recente a economia brasileira se abalou proporcionalmente pouco diante da crise internacional, em 2015, o País enfrenta seus próprios entraves econômicos, agravados por uma grave crise política. Para o mercado de beleza, isso não parece um problema: o Brasil é hoje o terceiro maior consumidor do setor, ficando atrás apenas do Japão e dos Estados Unidos, com um faturamento de mais de R$ 110 bilhões em 2014. Agora, um novo boom internacional, desta vez do mundo dos cosméticos, toma conta das prateleiras nacionais.
Em comum, a maioria das marcas que pisa pela primeira vez em solo tropical ou retorna com outra estratégia tem o apelo da natureza. São os casos da Aveda (grupo Estée Lauder), marca de produtos para cabelos com alta performance e ingredientes 96% naturais, que abrirá a primeira loja-salão no início de 2016, da australiana Aesop, com loja aberta em junho nos Jardins e também da Korres, com uso de matérias-primas naturais, vindas da história do país de origem. A empresa grega, cujos produtos não fazem teste em animais e têm benefícios que incluem fórmulas baseadas na homeopatia, já havia aberto lojas no Brasil em 2011. Recuou e voltou em 2015 com novo modelo de negócios, associada à gigante Avon, que produz nacionalmente alguns itens (com ingredientes gregos) e viabiliza a venda agora online ou por meio de uma representante.
Associar-se a uma companhia nacional parece ser o caminho para se adaptar à famosa complexidade da operação do varejo brasileiro, algo que 10 entre 10 grifes internacionais citam quando entram no País. Ao comprar 51% da Body Store, a inglesa The Body Shop é o maior exemplo deste tipo de estratégia este ano. A joint venture aconteceu em 2013, mas foi em 2015 que ela começou a aparecer, com a mudança do logo das lojas da Body Store para The Body Shop na maioria dos 125 endereços que a marca brasileira já tinha espalhados pelo Brasil. “Até o fim do ano, 85% das lojas já serão The Body Shop. No ano que vem, todas elas. Mantivemos três linhas da Body Store, mas a maioria dos itens é The Body Shop, com cerca de 300 produtos da marca hoje já disponíveis no País”, conta Karina Meyer, diretora de marketing da The Body Shop no Brasil.
Pioneira entre as marcas de cosméticos com preocupações e ações sustentáveis, primeira empresa a usar o musk sintético na perfumaria (originalmente extraído da secreção do veado, resultando na morte de milhões de animais), a The Body Shop evidenciou ainda mais seu foco na pesquisa e uso de ingredientes naturais em perfumes, hidratantes e tratamentos faciais no posicionamento brasileiro. “Fizemos um estudo aprofundado do mercado e percebemos que essa conexão com a natureza é especialmente importante para a consumidora daqui. A mulher brasileira também precisa de uma experiência de compra mais acolhedora, por isso as lojas foram reformadas e desenvolvidas especialmente para o Brasil, com um clima mais caloroso, fachada verde, plantas, disposição que estimule a experimentar e testar os produtos”, diz.
Famosa mundialmente, com mais de 3 mil lojas em 60 países, a The Body Shop deve ter companhia de peso em breve, com um approach de mercado bem diferente, menos “natureba”: a gigante francesa Coty anunciou, semana passada, a compra de toda a divisão de cosméticos da empresa nacional Hipermarcas, dona da Risqué, Monange e Cenoura&Bronze. Mais novidades para aquecer a indústria da beleza em breve, na perfumaria mais próxima.