Uma moda que conversa com um lado mais dark do gosto brasileiro, que foge do calor, se refugia em lugares chuvosos, nublados, frios e ventosos. Que gosta da praticidade dos looks das ruas (não quaisquer ruas, diga-se de passagem) sem perder a dramaticidade de uma modelagem pouco convencional, assimétrica. Neste caminho relax-street-chic cabe muito bem misturar tecidos nobres e tecnológicos, como usar um crepe, e de repente neoprene.
Veja abaixo destaques do desfile:
Cada design pra uma mulher diferente
A estilista tem em mente 3 tipos de mulheres para quem dedica essa coleção. Mulheres bem definidas com looks exatamente escolhidos para cada uma delas. Num momento do mercado de moda onde a ultrasegmentação ganha importância, a estratégia procede. “20 por cento dessa coleção são para mulheres superespeciais, que são ótimas mas estão um pouco fora do peso porque adoram comer. Os outros 20 por cento são para as mulheres irreais, meninas na faixa dos 15 anos que precisam aderir à marca, porque estamos de olho no futuro. A grande maioria, que são os 60 por cento, é formada pelas nossas clientes fiéis que usam a marca há muitos anos.”
A cliente “típica” da Gloria Coelho ela mesma conhece de longe. É uma mulher que se conecta com um gosto mais conceitual, que entende de design, que viveu o lado grunge dos anos 90 e que, provavelmente, gosta de frio. Porque o tropicalismo realmente passa bem longe dali. “Eu detesto calor. Amo frio. Gosto de pensar nessas ilhas geladas, cheias de vento. Eu sempre conto que nasci na Escandinávia e fui jogada na Bahia.”
Por isso, nos comprimentos “tem de tudo”, informa Gloria: saia longa, saia mídi, minissaia. Exatamente por falar com vários tipos de mulheres (3, mais especificamente), Gloria focou em diversas modelagens. Nada que ferisse a impecabilidade da edição da coleção onde todas as peças dialogam de forma harmônica. Existe um look que desmembrado em dois que mostra bem a segmentação dessas mulheres.
Cabelo sujinho com “make-up Alta Costura”
Lembram daquela época em que Kurt Cobain parecia não cortar nem lavar os cabelos e todo mundo achava lindo? Isso foi nos anos 90, e as pessoas usavam pomadas pra dar aquele ar de sujo inclusive em cabelos limpos. O hairstylist Ricardo Rodrigues também “sujou” os cabelos das modelos, sem alisar. Nesse briefing punk+grunge faz bastante sentido. Já o make de Fabiana Gomes foi definido como “Alta-Costura”, ou seja, sob medida. “A ideia hoje é fazer cada make pensando no rosto de cada modelo”, contou Fabi. Ou seja, não padronizar, valorizar o que de melhor tem em cada rosto. O batom é como se fosse de uso pessoal da Gloria, que caminha para um tom marrom-beterraba. “A textura é meio borrada. É como se você tivesse acabado de comer frutas vermelhas e depois beijado. Olha que coisa boa!”
Tartan, tartan, tartan
Típico detalhe do costume escocês, vem trabalhado não só em estampas, mas com a referência em tecidos vazados. O tartan dá certo na identidade desta marca. Vale lembrar que a típica consumidora da Gloria tem na memória o legado de Vivienne Westwood que revolucionou o uso do tartan numa chave mais street, punk-sujinha. Não que a estilista tenha lembrado disso ou comentado, mas faz parte do DNA deste gosto que estamos olhando.