O documentário Vida e Morte de Marsha P. Johnson é um daqueles filmes atemporais, cuja história sempre encontrará ecos.
Marsha foi uma ativista trans, lenda dentro da comunidade LGBT em Nova York e criadora do grupo Street Transvestites Action Revolutionaries (S.T.A.R.) junto com outra ativista trans, Sylvia Rivera. Um dia, em 1992, seu corpo foi encontrado flutuando no rio Hudson. A polícia deu sua morte como suicídio, fato que nunca foi aceito pelos amigos e conhecidos de Marsha.
Anos mais tarde, a ativista Victoria Cruz, fundadora do NYC Anti-Violence Project, revê o legado de Johnson e vira uma espécie de detetive tentando descobrir o que de fato aconteceu e os mistérios que rondam sua morte. O diretor David France a acompanha entrevistando ex-policiais e seguindo pistas que indicam discriminação, uso de força e indiferença por parte da polícia.
Outras histórias acabam se cruzando aqui, envolvendo novos personagens, todos interessantes e com conflitos similares aos vividos por Marsha. O único ponto fraco do documentário, na verdade. é o excesso de conteúdo justamente pela riqueza das pessoas, do universo e do material encontrado. Poderia ser uma série, por exemplo.E dá vontade de saber ainda mais sobre a ativista.
Marsha P. Johnson teve um papel importante na rebelião de Stonewall, em 1969, quando pessoas da comunidade LGBT lutaram contra policiais que invadiram o bar Stonewall Inn, em Greenwich Village, em Nova York. Até hoje, esse é um marco na luta pelos direitos LGBT. “Fui espancada. Fui jogada numa cela. Perdi meu trabalho pela liberação dos gays”, ela berra em determinado momento.
O filme acaba sendo uma homenagem não apenas à Marsha, mas também a tantas outras pessoas mundo afora que lutam incansavelmente por seus direitos, por igualdade e respeito. Ele joga luz em uma história mal contada, um caso mal resolvido e que esconde abuso. Faz mais de 20 anos que ela morreu, mas sua história de vida ainda – e infelizmente – é tão atual. Só traze-la para um público maior e manter sua memória e luta acesas, já é um grande mérito.
O diretor, além de cineasta, também é um jornalista investigativo (e premiado). É dele o doc How to Survive a Plague (2012), sobre o início da epidemia da Aids. David sempre escreveu sobre a doença e dedicou o filme ao seu parceiro que morreu em decorrência da Aids em 1992, coincidentemente, mesmo ano da morte de Marsha.
Vida e Morte de Marsha P. Johnson estreou no Festival de Tribecca e está em cartaz no Netflix.