Ele está nas passarelas,nas noites underground, em capas de revista (da FFWMAG em 2017), em campanhas de moda, nos palcos, em videoclipes de grandes artistas, nas salas do Teatro Municipal, no Youtube… Loïc Koutana, mais conhecido por sua alcunha L’Homme Statue, tem muitas facetas e talentos e hoje, prestes a lançar seu primeiro álbum, parece estar vivendo toda sua potencialidade artística.
Nesta semana (dia 8.11) ele lança seu primeiro single Braços / Vela (acompanhado de videoclipe), com produção de Pedro Zopelar, dos projetos Teto Preto e My Girlfriend. O video foi filmado no apartamento de Loic e seu parceiro Raphael Lobato dois dias após um incêndio acidental que destruiu tudo – as imagens são tão fortes quanto lindas, mesmo que seja uma beleza nascida da tristeza. O episódio foi terrível, porém transformador e Loïc converteu as cinzas em arte, iniciando uma nova fase de sua carreira da forma mais pessoal possível: abrindo sua vida, coração e alma no álbum Ser.
“Sempre emprestei meu corpo para diferentes artistas como Elsa Soares, Rincon Sapiência e Mahmundi contarem suas histórias. Agora fiquei com vontade de contar sobre a minha vida e as coisas que estão na minha cabeça. No disco falo sobre temas como amor livre, medo, empoderamento e o que é ser preto pra mim, um jovem LGBTQ+ de 25 anos”, disse após passagem de som da banda Teto Preto, da qual é um dos integrantes.
Mas essa história tem origem na dança e para conta-la, voltamos lá para trás quando ele era criança e bailava pela casa com sua mãe. Loïc nasceu e cresceu em Paris, mas passou um período na Costa do Marfim, país africano onde sua mãe nasceu (seu pai é do Congo), porque os pais achavam importante que as crianças se conectassem com suas origens. “Lá, no recreio, a gente não jogava futebol ou brincavam de pega pega. O que conectava meninas e meninos era a dança”, lembra. Aos 13, já de volta a Paris, ele começou a fazer ginástica acrobática. Não apenas era o único menino, mas também o único negro. “Você já viu Billy Elliot?”, ele me pergunta, em referência à história do garoto que queria ser bailarino contra a vontade da família. “Comigo foi assim. Chegou um dia em que tive que falar pros meus pais que era isso que queria fazer”. Até os 18 anos, Loïc viveu momentos intensos na ginástica acrobática, viajando com a equipe e competindo pela França. Ele só parou porque veio ao Brasil em um intercâmbio entre a Sorbonne e a USP. Em São Paulo, estava também um dos motivos de sua mudança: é onde mora seu parceiro, o jornalista e pesquisador Raphael Lobato.
Chegando aqui, foi nas pistas de dança ao som de música eletrônica que Koutana se reconectou com seu corpo e passou a dançar e performar em festas, até que achou que era hora de se profissionalizar. Loïc entrou no curso de Técnica da Dança Contemporânea no Teatro Municipal, seu primeiro grande passo como bailarino. Ele só reclama de ter que ficar tão preso às coreografias, já que o espírito de seu trabalho é baseado na improvisação e na mistura de movimentos que vêm do Butoh, da dança africana e da dança de rua.
Uma noite, após um show do Teto Preto, Loïc estava cantando no backstage e foi ouvido por Zopelar, que o chamou no estúdio para ver o que poderiam fazer juntos. “Até que um dia nos demos conta de que tínhamos mais de 12 músicas. Por que não fazer um álbum?”. E assim surgiu Braço / Vela, que nos traz aos dias de hoje. E mesmo que ele esteja inserido na cena eletrônica, o álbum tem muitas nuances e estilos musicais, puxando mais para o R&B.
A música trouxe o que ele estava buscando: a oportunidade de reunir numa mesma experiência tudo o que aprendeu nos últimos anos. “Gosto de um desenho animado chamado Avatar: a lenda de Aang, em que a cada temporada, o personagem principal aprende alguma coisa. Parece que na temporada 1 eu aprendi a moda, na 2 aprendi a dança. Na terceira, descobri que tenho o canto e, na quarta, tenho tudo isso e posso ser esse pacote de tudo que aprendi”.
Loïc ama música brasileira, especialmente a que está sendo produzida hoje por artistas como Urias, Linn da Quebrada e Luedji Luna. Ele também cita como inspiração Milton Nascimento, Frank Ocean, King Krule, Toro y Moi, Blood Orange, Willow Smith e Nicolas Jaar. “Quis criar meu próprio cantinho dentro da música brasileira. Não me encaixo dentro de nenhum grupo especifico, mas acho que tem lugar pra todos. Estou muito feliz e também com medo de ver como esse projeto será recebido”.
Durante um tempo, ele achou que a moda o sustentaria. “A moda me ensinou muito sobre disciplina e sobre me comportar, mas não era suficiente pra mim. A dança me trouxe asas. E cantar é o último capítulo dessa jornada”.
Último? Por aqui nós diríamos que essa caminhada está apenas no começo e que Loïc tem muito a oferecer. Ainda vamos ouvir muito falar do L’Homme Statue.