Em setembro passado uma serie de posts da atriz e influenciadora Bruna Marquezine usando peças de designers de vanguarda como Giambattista Valli, Area, Richard Quinn, Dion Lee, Ashi Studio e Alexandre Vaulthier chamaram atenção nas redes sociais durante a transmissão de uma premiação da MTV Brasil tanto pela beleza da atriz quanto pela ousadia no styling dos looks. As escolhas nada óbvias dessas marcas e designers ainda pouco conhecidos por aqui tem uma responsável – a stylist Rita Lazzarotti. No vídeo (que você vê acima) do canal do Youtube de Bruna podemos acompanhar um pouco das provas de roupa e escolha de cada um desses looks e a relação de confiança e troca mútuas entre ela e sua stylist.
Rita, que além de Bruna tem entre suas clientes a atriz Taís Araújo, conversou com o FFW sobre como entrou para o mercado de moda e sobre sua passagem de editora de revista para se tornar stylist das mais influentes celebridades brasileiras.
Rita Conta pra gente um pouco da sua história
Sou de Pirassununga, interior de SP. Me mudei pra cá em 2002 para estudar e me formei em Estilismo na Faculdade Senac de Moda. Desde cedo eu gostava de moda, só não pensava naquela época que essa seria a área que ia escolher profissionalmente alguns anos depois. Com dez anos de idade desenhei uma coleção de vestidos de noiva e uma outra com tema ‘anos 80’ (nasci nessa década, talvez isso me motivou), e além disso via revistas e colecionava recortes com looks e imagens que gostava. Tenho isso guardado até hoje com muito carinho.
Como você entrou no mercado de moda?
No segundo ano de faculdade eu consegui um estágio no figurino da MTV e foi o início de um sonho. A emissora tinha uma imagem de moda nova para mim, diferente e moderna, parecida com os recortes de revistas que eu tinha. A Juliana Maia (figurinista do canal e minha chefe naquela época) comprava revistas como The Face, i-D, Dazed, Vogue e Elle UK (além das nacionais também, claro) e eram nesses títulos que eu fazia pesquisas de moda. Fiz acústicos, VMBs, Verão MTV (descíamos para o litoral norte de SP para gravar a temporada lá) além de trabalhar na escala dos programas diários, era uma fase de completo aprendizado. E eu amava! Depois de lá trabalhei com cinema (curtas e longa-metragem), fiz figurino para teatro e ópera e comecei a fazer algumas revistas, foi quando conheci o Daniel Ueda e me tornei sua assistente. A partir dali vivi uma imersão nos bastidores da moda nacional: eu o assistia em campanhas de moda, desfiles do SPFW, Fashion Rio e Minas Trend e produzia para os editoriais das revistas que ele colaborava (FFWMAG, Key, Vogue). Depois de quatro anos com ele e uma rápida passagem pela Globo (fiz uma série nessa época) fui chamada para ser assistente da Susana Barbosa na Elle.
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“(vestir celebridade) é um trabalho minucioso e envolve tempo de construção. Não é vestir por vestir, não é superficial. É sobre trabalhar com uma pessoa que tem uma mensagem a passar. E isso exige empatia.”
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Como se deu a passagem do styling de moda (shooting de revistas, desfiles) para o styling de celebridades?
Nos anos que trabalhei na Glamour conheci muitas atrizes, cantoras e influencers, diferente de quando trabalhava na Elle e fazíamos capas e editoriais com modelos. Quando estava com elas, percebia que tinha uma certa facilidade nessa área e cheguei a receber alguns convites para trabalhar com algumas pessoas bem legais, mas na época eu ainda queria realizar mais coisas na revista e fui amadurecendo essa ideia aos poucos. Quando tomei a decisão, apesar de muito bem pensada e definida, eu não tinha experiência nessa área, então foi um novo e desafiante recomeço para mim.
Seu trabalho com a Bruna Marquezine tem ganhado muito reconhecimento. Os looks que você criou para o prêmio da MTV Miaw viraram uma sensação no Instagram. Como é o trabalho com a Bruna especificamente?
Eu e a Bruna sempre tivemos uma relação de troca muito grande desde o início do trabalho. Como eu venho de um universo de moda, fui apresentando logo no começo algumas ideias de imagens assim como marcas novas no mercado. Por outro lado ela também fez isso, me trazendo suas descobertas e seus gostos (ela faz pesquisas incríveis aliás) e isso foi fundamental para eu entender o que ela gostava, o que estava buscando. Posso dizer que é muito prazeroso trabalhar dessa maneira porque como esse é um trabalho de construção, não me sinto sozinha na minha posição de stylist dela. Ambas amamos moda e vivemos uma troca real e verdadeira sobre tudo que esse universo envolve e engloba.
Como é o trabalho de traduzir em imagem de moda o que a Bruna quer imprimir enquanto a artista e influenciadora?
A cada trabalho que a gente tem eu analiso o que ele será e/ou o que representará para ela. A partir daí eu faço um estudo e apresento uma pesquisa e assim iniciamos um caminho. Para os looks do prêmio MTV Miaw por exemplo, eu comecei as pesquisas no início de Agosto (o evento aconteceu no dia 24.09). Fui mostrando para ela algumas ideias e assim fomos afinando juntas até chegar nas imagens finais que vocês viram. Tudo o que ela veste tem uma pesquisa, um pensamento, um estudo grande por trás, e ela participa de todo o processo, do início ao fim.
Outra cliente sua é a Taís Araújo. O que você tem que ter em mente para vestí-la?
Com a Taís o trabalho é diferente. A Taís está vivendo uma fase onde ela busca um extremo conforto e além disso ela é muito prática, então o seu guarda-roupa mudou bastante desde que começamos a trabalhar juntas. Vejo que ela se abriu para modelagens mais amplas, saltos mais baixos, cores neutras e tecidos como linho, algodão, alfaiataria, seda e muitos tricôs estão dominando seu armário. Ela tem uma coisa que adoro que é quando ama uma peça, ela compra em variantes de cores diferentes, assim ela se arruma com mais rapidez porque já sabe como aquela peça funciona e com o quê combina e o dia-a-dia dela exige essa facilidade na hora de se vestir. Mas quando o assunto é evento red carpet e/ou festas glamourosas ela gosta de brincar com o extremo oposto e ali ela me pede brilhos, cores vivas, extravagâncias! É um paradoxo real, muito verdadeiro e divertido de fazer.
Um ponto muito importante no meu trabalho com a Taís a se dizer é ter sempre em mente que ela é uma mulher negra e ativa em seus posicionamentos, e eu tenho consciência das responsabilidades dela e trabalho isso para ser coerente com seu discurso na hora que ela for se expor em algum evento. Obviamente isso não a distancia da moda, muito pelo contrário, ela é uma grandiosa voz e uma enorme potência que pode trazer luz para determinadas questões, e podemos fazer isso também através da moda.
Quais são as maiores dificuldades de ser um stylist de uma celebridade?
Eu acho que é um trabalho muito íntimo onde você tem um contato muito próximo com os desejos, sonhos e expectativas pessoais, então nesse momento não há somente uma celebridade diante de mim mas sim uma pessoa, e sua imagem faz parte do seu ofício e cabe a mim ajudá-la a interpretar quem ela é, o que quer e assim, construir essa imagem juntas. É um trabalho minucioso e envolve tempo de construção. Não é vestir por vestir, não é superficial. É sobre trabalhar com uma pessoa que tem uma mensagem a passar. E isso exige empatia.
O que você diria para jovens que querem começar nessa profissão agora?
Bom, acima de tudo, tem que amar muito moda porque é um trabalho que exige muito estudo. É estar sempre pesquisando e buscando conhecimento. Acredito também em estar de mente e coração aberto para receber as mudanças que acontecem no mundo que são constantes e muito rápidas, e saber trabalhar isso profissionalmente. Se não atualizar constantemente, corre-se um risco de não evoluir na sua própria carreira.
Acredito que é importante ter um mentor inicialmente, trabalhar com alguém sendo assistente ou em um veículo também ajuda. Mas caso isso não role, diria para usarem suas próprias redes sociais para publicar ideias, é um ótimo caminho para se exercitar e se mostrar ao mundo também.
@ritalazzarotti