O corte do momento dos idols de K-pop – e que já vem conquistando adeptos no Ocidente – ele é caracterizado por uma franja na altura das orelhas na frente e o resto do cabelo longo, como dois cortes em um. O Hime Cut, como é chamado esse corte de cabelo, já foi visto em diversos idols de Kpop, com Rosé do Blackpink e Momo, do grupo Twice, e também chamou atenção das irmãs Haim, que utilizaram o corte de cabelo no Grammy’s, com seus looks inteiramente Prada. Não coincidentemente, o Hime Cut também foi uma das escolhas de Raf Simons e Miuccia Prada para o desfile de Verão 2021 da marca.
Já no TikTok, o novo antro do D.I.Y., a hashtag #HimeCut conta com mais de quatro milhões de visualizações divididos entre vídeos dos usuários reproduzindo o corte em casa.
O beauty artist Celso Kamura, em entrevista ao FFW, opina: “Pode ser novo pra essa nova geração, mas esse tipo de corte já foi uma febre e nunca saiu totalmente de cena”. “Eu enxergo duas vertentes de beleza pós pandemia. A naturalidade e o over. O over, não no sentido pejorativo e sim no sentido que tem pessoas que vão querer mudar a cara, mudar o look para dar um passo à frente desse período de confinamento”. De fato, as mudanças na beleza no último ano, seja na maquiagem ou no cabelo (quem não lembra das mechas loiras, popularizadas por Dua Lipa e Jennie do BLACKPINK), tem como grande plano de fundo a quarentena e a necessidade de “renovação”.
Mas, o que pode parecer uma simples tendência do momento é, na verdade, um corte repleto de história e referências, de dinastias japonesas a animes e idols. Hime em japonês significa princesa (apesar de Ojou-sama ser mais utilizado nesses casos), ou ainda, uma garota importante. É daí que surge a origem desse corte de cabelo, há mais de mil anos.
A origem desse corte de cabelo é no Japão, no período Heian (entre 794 a 1184). As mulheres da nobreza japonesa utilizavam o corte de cabelo ‘Hime’ e variações, como o Amasugi. Ao completar a idade adulta, as mulheres do período cortavam o cabelo próximo de suas orelhas, em uma cerimônia chamada binsugi, o que criava a estética do Hime Cut.
Se o Hime Cut é tão antigo, por que esse surto de popularidade atualmente? Existem alguns motivos para isso. Historicamente, como parte da cultura japonesa, o corte é reinterpretado e volta à tona com alguma frequência. A idol japonesa Megumi Asaoka popularizou fortemente o corte nos anos 70, que tem ensaiado um forte retorno na cultura pop globalmente.
Além disso, o Hime Cut também aparece muito nos animes e mangás, dentre eles, o mais recente é Kakegurui (2017), um anime sobre um colégio de jogos, em que a personagem principal, Yumeko Jabami, usa exatamente este corte – o anime foi distribuído internacionalmente pela Netflix, o que ajuda a explicar sua popularidade. Em uma associação mais distante, mas ainda válida, o Hime Cut também se assemelha ao mullet, outro corte de comprimento curto na frente e mais longo atrás.
A lista de idols do K-pop que adotaram o corte de cabelo recentemente é extensa. Para citar algumas: Rosé, do BLACKPINK, Momo, do grupo TWICE e Seeun, do STAYC.
O fato é que estamos – finalmente – prestando mais atenção nas manifestações culturais dos países do Leste Asiático. Por isso, tendências que antes ficariam restritas a apreciadores de animes e K-pop furam a bolha e atingem a cultura popular por aqui também?
O corte, um pouco ousado, promete aparecer cada vez mais, principalmente no entretenimento, mas, para Celso Kamura, não deve ser amplamente popular: “Acho que pega pra geração mais nova ligada em anime, Naruto e mangá, mas entre fashionistas e os clássicos, não pega não.”
“A ideia de fazer um corte como o Hime é se divertir, é sair do lugar comum. Se você se cansar do Hime, pode cortar um Chanel ou repicar bem as laterais para que o corte perca esse ‘degrau’ característico”.