Já faz algum tempo que o comprimento das unhas das celebridades vem ganhando centímetros e com eles, espaços de destaque. As unhas longas têm se tornado canvas de decoração e pintura para mulheres – e também homens. Com a ascensão do rap e da cultura preta no mainstream, as longas unhas, antes marginalizadas, começaram a ganhar visibilidade.
De onde vieram as unhas longas?
Historicamente, as longas unhas tem raízes na cultura das mulheres pretas e grupos sociais marginalizados. O visual das mulheres da elite branca que construiu os padrões de beleza, além da forma de cabelo e corpo, também definia as unhas das mulheres. Dessa forma, unhas longas se tornaram desviantes dessa estética e foram marginalizadas, com uma série de estereótipos negativos relacionados à classe trabalhadora, aos mais pobres e inclusive trabalhadoras sexuais.
Apesar dos estereótipos racistas relacionados às unhas grandes, as mulheres negras se apropriaram desse símbolo estético como forma de resistência. A corredora olímpica Flo-Jo bateu o recorde mundial em 1988 e posou com suas medalhas e suas longas unhas de acrílico (ainda muito menores do que as que vemos hoje). Nos jornais da época, suas unhas foram mais – negativamente – comentadas do que suas vitórias, mas a imagem ficou marcada na história.
Nos anos 90, foi a primeira geração de mulheres rappers, como Lil’ Kim e Missy Elliot, além de Mary J. Blige, que trouxeram as longas e adornadas unhas como um sinal de ostentação. Um equivalente feminino aos grillz, muito usado pelos rappers homens da época (e hoje usado por ambos gêneros e sem tanto recorte racial). No Brasil, ainda nos anos 80, a cantora Alcione já trazia a estética de suas unhas longas, quadradas e bem-decoradas.
As unhas longas e de acrílico também estão associadas às cholas. Tradicionalmente, Chola era o nome usado em partes da América Latina e, principalmente, Bolívia, para denominar mulheres “mestiças”, com pais de diferentes etnias. Com o tempo, o termo também começou a ser utilizado para denominar uma nova subcultura estética, criada por jovens mexicanas e latinas de origem periférica nos Estados Unidos.
A estética das cholas é bastante caracterizada pelos grandes brincos de argola, lábios marcados, sobrancelhas finas e, claro, longas unhas de acrílico. Esse visual foi muito adotado por personalidades latinas como Kali Uchis, Karol G e Princess Nokia.
Recentemente, a nova geração de celebridades tem revivido as unhas grandes, com cada vez mais centímetros de comprimento e mais adornos, tendo Cardi B como um desses principais nomes. Outras celebridades como Saweetie, Lizzo, Billie Eilish e Rosalía também deram destaque às as garras afiadas e longas unhas, com destaque para a última, com influências flamencas e espanholas.
Os novos criativos dando vida à tendência
Neste novo movimento, a Nail Art também começou a ser incorporada na imagem de moda com mais força. Cada vez mais, as longas unhas tem ganhado destaque nas capas de revista e editoriais de moda e se tornado verdadeiras obras de arte na mão de novos criadores.
Um dos principais nomes da Nail Art no Brasil é Viviane Lee Hsu. Conhecida pela alcunha Cyshimi (Cyber Sashimi) nas redes sociais, Viviane é uma multiartista e integrante do coletivo Inserto. Ela começou a experimentar com as diferentes formas, texturas e cores das unhas sintéticas há alguns anos e já trabalhou com nomes como Linn da Quebrada, Urias, Céu e teve seu trabalho exposto nas revistas King Kong, Bubblegum Club e Coeval.
Suas unhas realmente questionam as expectativas de beleza sobre o nail-art, criando reais obras de arte que parecem ter sido feitas em impressoras 3D. O destaque do trabalho de Viviane Lee não está nas cores e pinturas da nail-art, mas nas texturas e formatos extravagantes, que não se prendem ao formato ou silhueta de unhas comuns.
“Em minha pesquisa as unhas são esculturas performáticas, elas performam com o nosso corpo, mas nós também performamos junto à elas. É como se fossem acessórios presos ao corpo, que trazem um viés ciborgue ou sobre-humano” afirma Viviane Lee Hsu, “As unhas trazem uma camada única as narrativas em qualquer projeto, acredito que pela própria história e significados que elas carregam por si só, o poder, um certo caráter animalesco que elas podem ter, o desafio às normas e aos conceitos de beleza e corpo, ou seja, elas não trazem só mais uma camada no impacto imagético, mas no conceito como um todo”.
Outro nome nacional de destaque é Stephani Mauricio. A nail-artist sempre sonhou em trabalhar com moda, técnica em vestuário e formada em moda ele fazia suas unhas desde pequena e na faculdade, começou a criar suas próprias longas unhas de acrílico, que faziam sucesso entre suas colegas. Em 2018 ela criou a Flossy Mob, uma marca de unhas postiças e personalizadas pronta para uso.
“Hoje as unhas são vistas como parte do look e da história contada em um editorial de moda. Moda é comunicação não verbal, signos e símbolos, qualquer elemento visual em um look comunica algo” afirma Stephani “Unhas são pequenas telas ambulantes, e quem não quer andar com peças de arte por aí, complementando o visual? É uma expressão artística como qualquer outra” finaliza.
As longas unhas tem ganhado notoriedade mundo afora. Além das unhas das celebridades, novos criativos com uma visão mais extrema tem ganhado destaque também nas publicações. Alguns nomes internacionais incluem Ella Frank Simskins, Lauren Michelle Pires (Rina Sawayama), Sojin Oh (Rosalia e Billie Eilish) e Tomoya Nakagawa.