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    Babygirl, Nicole Kidman e o tabu da diferença de idade

    Hollywood abraça a complexidade das relações intergeracionais com um novo olhar.

    Babygirl, Nicole Kidman e o tabu da diferença de idade

    Hollywood abraça a complexidade das relações intergeracionais com um novo olhar.

    POR Laura Budin

    Se tem algo que Hollywood gosta de revisitar, é a dinâmica das relações ‘‘age gap’’ — aquelas com diferenças significativas de idade entre os personagens. E, em 2024, essa tendência ganhou novas camadas, especialmente com o papel de Nicole Kidman no aguardado ‘‘Babygirl’’, da A24. A atriz australiana, conhecida por sua capacidade de incorporar personagens complexas, é praticamente a mãe dessa narrativa. Em ‘‘Babygirl’’, ela mais uma vez desafia o clichê, colocando a mulher mais velha no centro do romance e do controle.

    No thriller erótico, Nicole Kidman (Romy) interpreta uma CEO que coloca sua carreira e família em risco quando inicia um tórrido caso amoroso com um estagiário (Harris Dickinson). O filme que estreia no Brasil nessa quinta-feira (09.01) já está dando o que falar.

    Tendência cinematográfica: o ano do age gap sob nova perspectiva

    2024 consolidou o age gap como uma narrativa relevante no cinema, mas com uma reviravolta: os personagens mais velhos, agora, costumam ser mulheres. Filmes como ‘‘Lonely Planet’’, ‘‘The Idea of You’’ e ‘‘Babygirl’’ trouxeram protagonistas femininas que desafiam a convenção de que apenas homens mais velhos podem ser o lado dominante na relação. Esta mudança reflete não apenas uma nova representação de gênero, mas também uma tentativa de explorar a complexidade do amor através do tempo — e do corpo.

    Esse movimento também não surge por acaso. Com o envelhecimento do público e uma maior abertura às histórias femininas, Hollywood está respondendo ao desejo de narrativas que dialoguem com experiências mais maduras. Mas não se trata apenas de atender à demanda; trata-se de dar espaço a perspectivas que, por décadas, foram ignoradas ou silenciadas.

    Mais visibilidade ou uma nova roupagem de velhas dinâmicas?

    Por décadas, o cinema retratou homens mais velhos em relações com mulheres jovens, geralmente pintando essas histórias como românticas, mas muitas vezes atravessadas por dinâmicas de poder que flertam com a manipulação e até com a exploração. Agora, é interessante — e até irônico — que a narrativa tenha migrado para as mulheres mais velhas. O que isso significa?

    De um lado, é um alívio ver mulheres 40+ sendo retratadas como seres desejáveis, capazes de viver romances vibrantes e cheios de camadas. É um convite a refletir sobre como o amor e o desejo mudam (ou não) com o passar do tempo. Por outro lado, é preciso questionar o impacto dessas histórias: elas realmente desconstroem o desequilíbrio de poder ou apenas oferecem uma nova versão dele?

    Quando se trata de homens em relações age gap, as narrativas frequentemente reproduziam o pior do patriarcado: o homem mais velho como mentor, salvador ou controlador. Com as mulheres, no entanto, o discurso muda. Aqui, o age gap não é tanto sobre controle, mas sobre desejo. Ao menos na superfície, essas histórias exploram o poder que as mulheres podem exercer no amor e no sexo, mesmo em um mundo que insiste em apagá-las após certa idade.

    Mas nem tudo são flores. Mesmo com essa nova ótica, as relações age gap continuam sendo um terreno delicado. Seja no cinema ou na vida real, elas envolvem dinâmicas de poder que não podem ser ignoradas. Estamos dispostos a abraçar essa complexidade?

    A perspectiva da geração Z: amor ou problemática?

    Talvez mais do que qualquer outra geração, os jovens de hoje estão dispostos a questionar essas narrativas. Dados recentes mostram que a geração Z tem opiniões divididas sobre relações com diferenças de idade. De acordo com uma pesquisa da Hunch Trends, 64% dos jovens reconhecem que essas relações podem ser carregadas de desigualdades de poder, enquanto 36% afirmaram que o amor é mais importante do que a diferença de idade.

    Além disso, a geração Z tende a se inclinar para um olhar mais crítico, especialmente quando as relações parecem reforçar narrativas de opressão ou abuso. Ao mesmo tempo, eles também celebram representações autênticas e ousadas que exploram a subjetividade feminina, algo que filmes como ‘‘Babygirl’’ estão claramente tentando fazer.

    Mas o que mudou?

    No final das contas, essas histórias age gap colocam mais perguntas do que respostas. Como podemos navegar entre a celebração do desejo feminino e a crítica às desigualdades de poder? Hollywood está realmente rompendo com os clichês ou apenas os reciclando sob uma nova perspectiva? Uma coisa é certa: estamos vivendo um momento em que o amor, a idade e o desejo estão sob os holofotes. Resta saber o que faremos com essa luz.

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