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    A mulher e o corpo
    A mulher e o corpo
    POR Camila Yahn

    No fim-de-semana fui ao bazar da Huis Clos e da Maria Garcia, na fábrica das marcas na Barra Funda (vai até o dia 18.12).

    Cheguei cedo e, quando entrei, pensei: “que ótimo, tá tranquilo ainda, vou poder escolher e provar com calma”. Espertinha, né?

    Não muito. Depois de horas vagando pelo galpão cheio de araras de roupa (é tão grande que a gente não tem a noção de aperto), fui experimentar as cerca de dez peças que peguei.

    Bom, aí então eu me dei conta de que não estava sozinha. Mal dava para andar no provador coletivo. Chão de cabides, bolsas, pés nus e muitas, muitas roupas espalhadas. A gente tinha que escolher se pisava na roupa ou no pé de alguém.

    Mas o que mais me intrigou não foi o frenesi ou a lotação e sim os comentários que ouvi ou a maneira como as mulheres se olhavam no espelho em busca de um sinal verde para levar aquela roupa.

    O quanto é preciso uma pessoa se aceitar para conseguir comprar um vestido? Ou uma calça reta? “Essa calça deixa meu bumbum grande” ou “Esse vestido aumenta meus seios” são algumas das falas que ouvi de pessoas que estavam ótimas com aquelas roupas. É o diabinho interno gritando: “você não está no padrão!”. Para uma desconhecida eu até soltei um elogio: “Você ficou linda com essa roupa”. E falei porque ela estava mesmo. “É, mas não por 500 reais, acho que não vale a pena”. Ela provavelmente deve ter gastado a mesma quantia em outras peças que não devem ter causado o mesmo efeito.

    Uma menina estava animada: “Vou dar um jeito de usar esse vestido hoje à noite mesmo. Vou arrumar algum programa de qualquer jeito. Ainda bem que não está quente, assim já posso usar!”.

    Ah, e uma amiga aprovava o look da outra. Na fissura de encontrar algo, elas iam e vinham com mais e mais peças, desta vez em cores e tamanhos diferentes. Até mesmo na fila para pagar, quase chegando no caixa, elas ainda experimentavam o que dava, por cima da roupa mesmo, desejando que o espelho fosse, dessa vez, um pouco mais generoso.

    Entre dúvidas, desabafos, culpas e cobranças, essas dezenas de mulheres despiam-se em frente às outras. Altas, baixas, gordas, magras, jovens, senhoras, com e sem depilação, com belas lingeries ou calcinhas antigas e sutiãs cor da pele, elas não pareciam se importar com os olhares das outras, porque esses olharem mal existiam. Elas pareciam completamente à vontade e só buscavam sua própria imagem, apertada, em algum espacinho que sobrava no espelho. Vanessa Beecroft* iria adorar.

     

    Performance da artista Vanessa Beecroft na Bienal, em São Paulo ©Reprodução

     

    *Vanessa Beecroft é uma artista italiana cujo principal trabalho está nas performances em larga escala que questionam o corpo feminino, a identidade e o voyerismo, sempre envolvendo muitas mulheres que participam nuas ou com lingerie, meia-calça e salto alto. Suas performances e o resultado fotográfico delas são famosos e lindos. Esses encontros (em que as modelos são mulheres voluntárias) acontecem em diversos lugares no mundo. Beecroft fez uma performance no prédio da Bienal em 2002. Algumas imagens do trabalho da artista ilustram esse post.


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