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    Lena Dunham para a “Vogue”
    Lena Dunham para a “Vogue”
    POR Camila Yahn

    Gif que mostra Lena Dunham antes e depois do Photoshop ©Reprodução

    Nesta semana, quando postamos a capa da “Vogue” com Lena Dunham, os comentários diziam: “amo Lena e sua beleza inteligente” e “gosto do fato de fugir do carão super diva que geralmente a ‘Vogue’ adota”.

    Mal sabia Lena a polêmica que enfrentaria quando topou ser a estrela da edição de fevereiro da revista, uma das publicações femininas mais poderosas do mundo.

    Ao ver as fotos do ensaio, o site Jezebel publicou uma nota em que oferecia US$ 10 mil para quem entregasse as imagens de Lena sem retoque. Pouco tempo depois tinham em mãos um exemplo pré-Photoshop que logo virou um gif comparando a verdadeira Lena com sua versão “perfeita”. Retoques foram nitidamente feitos no rosto, pescoço e colo.

    Esse assunto é uma polêmica anunciada. Já não cansamos de ver erros trágicos de Photoshop (não só na “Vogue”) e transformações que deixam as mulheres com menos expressão do que uma boneca Barbie? Muitas publicações fazem um uso moderado da ferramenta, que hoje, parece indissociável de um editorial ou um retrato. Hoje, isso não está nem certo, nem errado. É simplesmente como funciona.

    Já não se sabe que a “Vogue” e praticamente todas as publicações de moda no mundo retocam as mulheres, independente de idade ou forma física? Quem ousa fazer o contrário? A revista “Elle” francesa já mostrou Monica Bellucci fotografada “natural” por Peter Lindbergh. A chamada de capa explicitava o feito como um projeto inovador: “Sans maquillage; sans retouches”. Parece tão impossível colocar uma modelo/atriz/celebridade na capa sem finalização que, quando acontece, tem que avisar.

    O ponto no post da Jezebel não é o Photoshop em si, mas o Photoshop em uma menina que não é um ícone de beleza tradicional. Que não é skinny nem sarada. Ou ainda, o fato de uma menina que não é skinny nem sarada estar na capa de uma revista como a “Vogue”. Porque de tratamento ninguém escapa, viu?

    Vejam só, a Sandra Bullock, com toda sua chatice, poderia estar nesta capa. Ou a namoradinha da América mil vezes indicada ao Oscar, Jennifer Lawrence. No lugar delas, uma jovem, talentosa, desengonçada e nada óbvia que tem cativado jovens mundo afora (e também ganhado muitos prêmios, ok, Jen?).

    Lena Dunham, de camisa Burberry na capa da “Vogue” em foto de Annie Leibovitz ©Reprodução

    O ponto é que Lena está de boa com sua aparência e nós também (os milhões de fãs de “Girls”). E é justamente sua “imperfeição” o segredo de seu sucesso. Ela aparece nua no seriado, saudável com seu corpo,  satisfeita com sua imagem de mulher real. Mas então vem uma revista e coloca isso abaixo, transformando Dunham em alguém que não existe. Isso só mostra como a mídia ainda é implacável com a imagem da mulher.

    O Jezebel se defende: “Para deixar bem claro: nosso desejo por essas imagens não é para ver como Lena é de verdade; nós podemos vê-la todos os domingos à noite. Nós já sabemos como é o seu corpo. E não há nenhuma vergonha nele. Tampouco criticamos o fato de Dunham posar para a ‘Vogue’, afinal de contas, o entretenimento é um negócio e a ‘Vogue’ oferece um nível de exposição ainda maior que o do HBO. Isso tem a ver com o que ela decide fazer com uma mulher específica, que já declarou publicamente que está bem como está. O quão resistente a ‘Vogue’ é em relação a isso? As imagens inalteradas dirão”.

    No final, sabemos que o buraco está bem abaixo; a “Vogue” é apenas uma parte de uma engrenagem gigante que simplesmente traduz nossa época. “É que Narciso acha feio o que não é espelho”, já cantarolava Caetano em “Sampa”.

    Dunham, autora da frase que diz “meu corpo nu é uma expressão realista do que significa estar vivo”, apenas tuitou: “Tem coisas que são ridículas demais pra gente prestar atenção. Vamos usar nossa energia de uma forma mais sensata, 2014”.

    Um brinde a Lena, com ou sem Photoshop.

    Veja abaixo algumas das imagens que estão no ensaio de Lena Dunham para a edição de fevereiro da “Vogue” americana, fotografada por Annie Leibovitz:

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