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    FFW x Meio-Fio: Ariel Nobre e sua incansável luta pelo apoio ao homem trans
    FFW x Meio-Fio: Ariel Nobre e sua incansável luta pelo apoio ao homem trans
    POR Redação

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    É PRECISO DIZER.

    por Ariel Nobre

    Olá, me chamo Ariel Nobre (no masculino) e escrevo incansavelmente a frase “preciso dizer que te amo” no mundo desde agosto de 2015. Vou te contar o porquê.

    Há alguns anos, não tem uma data certa, comecei a me questionar sobre como estava me vestindo, porquê eu tinha o nome que eu tinha, os meus gestos, a forma como me comportava, as pessoas com quem dividia a vida, o banheiro que escolhia ir. Poderia dizer que comecei a questionar meu gênero, ou melhor, o gênero que me impuseram desde  o meu nascimento.

    Afinal, por que tenho que ser mulher?

    A vida vai além do gênero, mas é impossível falar da mesma sem passar por questões de gênero.

    Bem, questionei meu modus operandi no mundo e mudei… Fui mudando, me transformando e sigo assim: em metamorfose.

    Me permiti outras roupas à partir de doações. Cortei o cabelo para um corte masculino. Mudei tudo que podia para algo que na embalagem estivesse escrito FOR MEN. Me rebatizei por conta própria com um nome que gosto e disse ao mundo que queria (e sigo querendo/exigindo) ser tratado no masculino.

    As mudanças de dentro foram ecoando fora de uma forma que me assustava. Minhas amigas não entendiam minha necessidade de estar de sunga nos espaços de praia e piscina. Me tornei um corpo indesejado nos espaços de trabalho. Não cabia mais nos espaços de dança e celebração. Fiquei pobre, sem casa, depressivo e pior: sem perspectivas que as coisas poderiam melhorar.

    Em algum momento, a rua começou a me considerar “bichinha” e você sabe como se trata  “viadinhos” e “frutinhas” nesse brasilsão, né. Numa dessas não escapei e apanhei.

    Chegay em casa e percebi que já estava morto e por isso decidi pular da janela e terminar com um sofrimento que já não cabia em mim. Mas antes, precisava dizer minhas últimas palavras para alguém especial. Já não tinha crédito no celular e nem vontade de nada. Por isso, comecei escrever a frase PRECISO DIZER QUE TE AMO ao meu redor.p_20171104_160527_vhdr_auto

    …o dia amanheceu, continuei a escrever a frase.

    2 anos se passaram… Sigo escrevendo…

    …escrevendo…

    PRECISO DIZER QUE TE AMO se transformou em uma campanha de sensibilização contra o suicídio de homens trans.

    Nesses dois anos de incansável escrita da frase no mundo,  aprendi que nós, homens trans, não nos suicidamos, nós somos sistematicamente suicidados.

    Me transformei em ativista pelo direito ao trabalho de homens trans e milito desde 2015 com o coletivo A Revolta da Lâmpada, onde aprendo muito sobre outros grupos vulneráveis, como mulheres negras e pessoas que vivem com HIV.

    Além disso, fundei com o amigo Gustavo Bonfiglioli, a Pajubá, diversidade em rede: empresa de consultoria em diversidade para orientar empresas que queiram se comunicar e empregar pessoas de corpos historicamente marginalizados.

    O Projeto Preciso Dizer que Te Amo se transformou no tema da minha vida e eu sigo operário desse escrever.

    Obrigado vida, Ariel, trabalhador, 30 anos, até hoje: TRANSVIVO!

    Esse texto eu dedico ao CB*, homem trans, vítima de espancamento motivado por ódio em agosto de 2017, no Rio de Janeiro, que veio a óbito em novembro. Já foram 161 assassinatos de pessoas trans em 2017 segundo a ANTRA – Associação Nacional de Travestis e Transexuais.

    *optei por não revelar o nome em respeito a sua dignidade.

    Para saber mais sobre o projeto, siga @meiofio e @arielnobret

     

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