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    Suzy Menkes X blogueiras
    Suzy Menkes X blogueiras
    POR Camila Yahn

    A blogueira Hanneli Mustaparta posa para fotógrafos durante semana de moda ©Reprodução

    O que é uma semana de moda sem uma boa polêmica? Normalmente as polêmicas servem para um determinado assunto progredir, ser compreendido de uma forma mais ampla ou colocar as coisas em seu devido lugar. Desta vez, quem coloca o dedo na ferida é a respeitada editora Suzy Menkes, jornalista excelente e eficiente que já viu melhores tempos em relação à cobertura de moda.

    Em um texto muito comentado para a “T Magazine”, do “The New York Times”, ela começa seu texto assim: “Nós já fomos chamados de corvos pretos – nós, fashionistas, reunidos em frente a um prédio abandonado vestidos no nosso uniforme Comme des Garçon ou Yohji Yamamoto. ‘De quem será esse funeral?’, os passantes cochicham, enquanto nós esperamos em fila para as apresentações descoladas e underground lá nos anos 1990”.

    Esse parágrafo vai direto ao ponto: descreve o comportamento da imprensa de moda e os valores da época — segundo Menkes, tempos distantes, muito diferente do que acontece hoje. “Atualmente, as pessoas que se aglomeram do lado de fora dos desfiles são mais pavões do que corvos. Elas posam em seus vestidos de padronagens múltiplas com plataformas ou botas que sobem até as coxas”, diz.

    Suzy usa como título o termo “fashion circus” para criticar a confusão que virou a porta de um desfile, com dezenas de blogueiras em busca de um clique ou as já famosas posando para os muitos fotógrafos que se aglomeram por ali. Ela também menciona o frisson que Anna Dello Russo causa quando chega em seus figurinos exuberantes. “Alta, magra e com um corpo em forma, a editora de moda é um display humano para produtos de design”.

    Anna Dello Russo: diva maior do circo fashion armado durante as semanas de moda  ©Reprodução

    Para Menkes, o “circo” que tem ocorrido do lado de fora afeta o que acontece dentro da sala: o desfile em si. “A ação agora acontece fora dos shows. Você mal consegue subir as escadas do Lincoln Center, em Nova York, ou andar nos Jardins das Tulherias, em Paris, por conta de todos os fotógrafos clicando os poseurs”.

    Irônica e afiada, Suzy ainda escreve que essas pessoas são famosas por serem famosas e são conhecidas por sua página no Facebook, seus blogs ou ainda porque Scott Schuman as imortalizou em seu site Sartorialist.

    “Duas coisas contribuem para transformar os desfiles em um zoológico: o mercado de exibidos esperando para serem escolhidos ou rejeitados pelos fotógrafos e a forma como marcas, em uma tentativa de garantir de volta o controle perdido pela era multimídia, passaram a agir. Marc Jacobs foi o primeiro estilista a sentir a força da multimídia. Quando ele nomeou uma bolsa em homenagem ao Bryanboy em 2008, ele fez o nome do blogueiro e iniciou um sem fim de presentes caros, que inclusive são muito bem recebidos no bryanboy.com”.

    Então Suzy pega no principal ponto da questão: ao receber tantos presentes, convites e viagens, pouquíssimos podem ser considerados críticos de fato, no sentido mais original da palavra. “Isso vai contra o mantra que eu aprendi no início da minha carreira como jornalista de moda: não é bom porque você gosta; você gosta porque é bom. Hoje, julgar a moda virou algo como: ‘Olhe para mim com esse vestido! Olha esses sapatos que eu descobri! Olhe para mim nessa roupa em 15 fotos diferentes!”.

    Para ela, algo se perdeu e encerra com a provocação: “Talvez uma resposta perfeita seria deixar os pavões posarem do lado de fora enquanto os desfiles são calmamente levados para um lugar diferente e secreto para uma audiência formada somente por profissionais dedicados – todos vestidos de preto, é claro”.

    Prontamente, algumas blogueiras construíram suas defesas em textos bem articulados e que mostram o outro lado da moeda: nem todas as blogueiras são farinha do mesmo saco; há pessoas esforçadas fazendo um trabalho sério; todos são parte de uma geração nova, que está desbravando e entendendo as possibilidades dessas novas mídias; e daí se elas querem se vestir de uma maneira divertida e/ou chamativa?;  hoje nenhuma blogueira pode falar que gosta de algo, pois em seguida milhares de comentários aparecem julgando o post um texto patrocinado.

    Reunimos os principais pontos colocados por Susie Lau, do Style Bubble, e Leandra Medine, do Man Repeller, duas das principais vozes de defesa da comunidade blogger.

    SUSIE LAU

    ©Reprodução

    “Sim, sou uma blogueira. Sim, me visto de uma maneira que pode ser percebida como “pavão”. Mas eu também trabalhei em uma publicação e agora eu faço freelance para outros veículos. Tenho ido aos desfiles há mais de quatro anos, mas sinto cada vez mais conflito em relação ao que eu faço. Eu me sinto envergonhada quando digo que tenho um blog. Dependendo da pessoa com quem estou falando, eu tenho que adicionar: ah, sim, e eu escrevo para outras publicações também, só para sentir que isso me posiciona como uma pessoa que não é uma fraude”.

    “Nós podemos falar do início, quando os blogs de moda eram “bons e puros”, mas me lembro que nessa fase eu mandava e-mails para os PRs ou designers e era ignorada”.

    “Uma PR importante falou para mim recentemente: ‘Nós nem pensamos em você como uma blogueira. Para nós você é uma editora-chefe online’”.

    “Posso falar que 99,9% do conteúdo do meu blog NÃO é patrocinado nem relacionado com nada, a não ser minha admiração genuína sobre o que estou escrevendo. Mas mesmo assim, se aceitamos uma viagem ou um presente, como eu poderei dizer que sou uma exceção no meio?”.

    “O aumento do incômodo em relação aos blogueiros ou outras pessoas que se vestem somente para os desfiles e ficam posando para as câmeras está atingindo o céu”.

    “Quando a semana de Paris termina, um peso enorme sai dos meus ombros e eu posso voltar para a minha rotina, tomar o ônibus e ainda usar as roupas que são parte de quem eu sou. Ser motivo de piada do cara que vende produtos do Arsenal na minha rua não é nada comparado a entrar em um desfile, ser fotografada e sentir os espinhos e o desprezo de seus colegas e achar que você está vestida de uma forma exagerada para entrevistar a estilista Ann Demeulemeester”.

    “Se eu estou andando com pessoas que têm um estilo chique discreto, como Emmanuelle Alt, e um fotógrafo pede pra tirar minha foto, eu hoje fico com vergonha de dizer sim. Tenho que seguir andando para mostrar que estou lá por um bom motivo, em vez de parar e posar para uma foto. Se eu perco o respeito dos outros porque paro para posar? Provavelmente”.

    “Uma editora pode fazer isso porque ela tem um cargo. Já eu tenho um blog, nenhuma bolsa Céline e ainda uma preferência doentia por texturas estranhas e divertidas, o que me deixa em uma posição bastante precária”.

    “Essas roupas têm que ficar confinadas e usadas somente em editoriais de moda e press days? Quem é que vai fazer o julgamento final sobre quem tem um estilo genuíno e quem se veste para as câmeras?”.

    + Leia o texto completo aqui

    LEANDRA MEDINE 

    ©Reprodução

    “As semanas de moda estão se tornando um circo e os looks de street style podem ter alguma coisa a ver com isso. Agora, reduzir uma geração inteira de jovens profissionais em um mesmo barco não parece uma mente muito aberta”.

    “Menkes está certa. A moda está mudando e rapidamente. A indústria não pertence mais somente a um grupo exclusivo de pessoas e abriu espaço para grupos amadores. Algumas vezes esses espaços rendem movimentos novos e interessantes, outras não”.

    “Há poucos blogueiros capazes de influenciar verdadeiramente. Quando os leitores conseguem sentir o cheiro de patrocínio, a integridade se perde. Nós nunca deveríamos ter aceito presentes em primeiro lugar”.

    “Na minha opinião, Tavi GevinsonSusie Bubble, Emily Weiss ou Tommy Ton foram reconhecidos por mérito de um excelente trabalho”.

    “As estrelas do street style são a nossa contribuição para o fenômeno cultural dessas estrelas da vida real. As fotos são inspiradoras, as roupas maravilhosas e a conversa que o street syle iniciou é vital para a moda. Porém, isso só é válido quando ocorre de forma autêntica”.

    “Twitter, Facebook, Instagram e agora o Vine não irão desaparecer. Eles apenas irão crescer e continuar a obstruir as fronteiras do privado até que nós seremos forçados a nos recolher, famintos pela mesma nostalgia a qual Menkes se refere”.

    “O que mais me deixa triste é o cinismo que hoje domina o universo do blog. Semana passada eu fiz um comentário sobre o meu produto de beleza favorito (que eu tenho comprado a cada dois meses pelos últimos três anos) e a resposta que recebo é: ok, nós entendemos, você é patrocinada pela marca X. Penso se nós, blogueiros, não entramos em uma era em que não podemos gostar de nada sem ter nossos motivos questionados”.

    “Os fortes sobreviverão e os fracos irão, eventualmente, desaparecer. A questão é: o que nos tornará fortes?”.

    “Cargos de moda tradicionais estão cada vez mais distantes. Talvez Menkes não entenda isso, mas tudo bem. Ela não precisa. Mas há uma razão pela qual a Generação Y é chamada de Geração Empresarial. Muitos de nós não tivemos o emprego que queríamos, então nós abrimos nosso próprio espaço. Certamente, o aprendizado não é tradicional, mas minha geração é brilhante; nós somos super educados e super qualificados para os trabalhos que fazemos”.

    + Leia o texto completo aqui

    E pelo jeito, super confiantes também. São dois lados expostos, ainda longe de uma conclusão. Apenas um “cargo” de editora de moda separa os “direitos fashion” de Anna Dello Russo e Susie Lau, por exemplo? Anna não seria tão ridícula quanto Susie ou Susie tão original quanto Anna? O problema então é porque uma é da “Vogue” e a outra de um blog? Um profissional só merece respeito se tiver um cargo tradicional? De qualquer forma, no caso de Anna, não é divertido olhar para ela?

    Toda cena, quando começa em um gueto, é muito mais instigante e deliciosa do que quando vira algo “mainstream”. É assim com a arte, com a música e também com a moda. A saudade de outros tempos é válida e há sim como deixar o ambiente da moda mais profissional e focado e menos “circense”, porém sem deixar de reconhecer as possibilidades abertas com o advento dos blogs e a forma como a indústria passou a ser menos ditadora e mais democrática, justamente por conseguir, hoje em dia, falar com muito mais gente do que nos anos 1990.

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