Frans Krajcberg é homem “dado às árvores” – das quais conhece a alma, e se comunica com a natureza de forma profundamente respeitosa, passível de transcender a sabedoria humana. Em nosso encontro, deixou claro que sua exposição que acontece em São Paulo não é um manifesto, mas o grito de alerta que pode dar aos 90 anos, depois de ter feito muito, sempre, mas não tudo. Ainda. Não há maior reconhecimento de sua genialidade que um museu em Paris, Curitiba e Bahia já não tenha demonstrado, mas a fascinação exercida por sua obra sobre as pessoas não o interessa. O que ele quer? Que a vaidade de suas entranhas de que as florestas fiquem de pé seja satisfeita. Que seu legado sobreviva. E insiste em não desistir.
Frans Krajcberg por Cael Horta, diante de uma entre suas 31 obras expostas
Veja nessa minientrevista, o que ele veio nos mostrar:
O homem e a natureza; me conta dessa exposição?
Quero fazer a exposição aqui, porque nós temos pela ONU o Ano internacional da árvore, e as manifestações são mundiais. Só no Brasil que os deputados votam para destruir a Amazônia. E o pior é que nem falam que tem um povo que mora nessas florestas. Também são queimados como as árvores.
Qual é o sentimento do senhor pela cidade de São Paulo?
Eu morava em São Paulo; montei toda a primeira Bienal, trabalhei no MAM, conheci todos os artistas. Foi uma época completamente outra. Onde está o calor humano dos artistas juntos, diálogo juntos? Não existe mais.
Na sua vida, o que valeu de fato a pena?
Falar de vida, é melhor não falar agora… quando a guerra acabou, como fugi do homem, e procurava fugir. Agora estou mais cansado; estou vendo que se fala muito e faz pouco. E devem saber uma coisa: vamos ter dificuldade com o oxigênio no planeta. Muita indústria já está pensando em fazer pequenas garrafinhas de oxigênio. Isso que eu posso te dizer.
O senhor andou pelo mundo inteiro mostrando as suas obras… elas sempre falaram do Brasil?
Sim, ainda estou mostrando, e cada vez mais. Eu tenho um museu em Paris, e a minha participação mundial é grande.
Como uma pessoa comum pode colaborar para um Brasil sustentável?
Todo mundo deve fazer algo. Olha, eu gostaria de te dizer uma coisa: gostaria de ver o brasileiro conhecer o Brasil que não conhece; nem sabe o que está acontecendo nesse País, tão grande, tão rico, e com uma miséria que dá para chorar…
Qual seu desejo para o futuro?
Como falar? É muito difícil falar sobre tudo. Eu conheço o Brasil, e muito. É revoltante ver o que estão fazendo nessa Amazônia. Essa destruição é criminosa para a vida nesse planeta. A única coisa que posso continuar a dizer: meu trabalho é mostrar a destruição.
+ A exposição Krajcberg – O homem e a natureza no ano internacional das florestas, fica até o dia 06 de novembro, no Museu Afro Brasil, Parque do Ibirapuera, portão 10. Pode ser visitada de terça a domingo, entre às 10h e 17h. Sua entrada é gratuita.
Mais informações www.museuafrobrasil.org.com