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    I’m no sex toy
    ©Polly Penrose
    I’m no sex toy
    POR Camila Yahn

    foto nu 10

    Hoje, quando ouvimos a palavra nude, ela quase sempre está relacionada a fotos de mulheres tiradas por homens em momentos de intimidade para depois serem jogadas na internet (ok, nem sempre, mas…, né?).

    Se tem uma coisa que não evoluiu muito é como a mulher ainda é tratado como um objeto de prazer em letras de música ou campanhas publicitárias, de lingerie a roupas e bebidas.

    O trabalho da fotógrafa Polly Penrose é um ótimo exemplo de como a mulher pode usar seu corpo para se empoderar com imagens que não têm nada a ver com sexo, mas com força e posicionamento.

    Polly sempre quis fotografar, mas trabalhava como assistente pessoal de Ewan McGregor e se fotografava como exercício de aprendizado. Até que conseguiu uma vaga no estúdio de Tim Walker, criador de imagens de sonho e fantasia que vemos nas páginas da Vogue, W. Mas Polly, por alguma razão, achava que não era boa o suficiente, que não tinha os equipamentos necessários, que não sabia montar uma boa luz e que não tinha o menor talento pra isso.

    Foi quando começou a se fotografar nua que a coisa mudou e ela passou a se dedicar cada vez mais até perceber que tinha construído um portfolio consistente. Polly gosta de casarões antigos, então entrava em sites de imobiliárias procurando locações interessantes e abandonadas. “Bom dia, eu sou fotógrafa, poderia usar essa casa algumas horas para um trabalho?”, ela perguntava ao telefone. Quando os agentes descobrem que se trata de fotos nuas, ficam horrorizados. Ela usou justamente essa palavra para descrever a reação das pessoas do outro lado da linha. Horrorizados.

    foto nu 17

    ©Polly Penrose

    É ok colocar uma menina de 18 anos seminua com o corpo molhado em um anúncio de cerveja. Agora uma mulher que tem dois filhos, aparecer nua em um trabalho pessoal e artístico é um horror. É normal uma marca de jeans retratar a mulher em uma de suas campanhas como se ela estivesse sendo abusada pelo homem, os dois com jeans rasgados, suados, na rua vazia à noite. Na nossa sociedade, chocante mesmo parece ser o corpo de uma mulher normal em uma imagem sem apelo sexual. Peito de fora pode na capa da revista, no cinema, na praia, no Carnaval, na televisão. Em um lugar público amamentando um bebê não pode. É um escândalo. E bem sabemos que a repressão não vem só de homens…

    Assim, é óbvio que Polly teve diversas fotos censuradas na internet e retiradas das redes sociais. “Hoje eu publico tudo com tiras nos seios, o que me deixa louca porque acaba com a foto. E pensar que estamos embrulhados por fotos sexuais… Até as fotos do Marks & Spencer são mais sexies”, ela diz ao site Dazed Digital, em referência à gigante varejista britânica. “É tão louco, nos acostumamos com isso e é uma foto como a minha que vira chocante, só porque é de verdade. O fato de que posso estar bem com o meu corpo é o que as pessoas acham chocante”.

    Eu já tive também uma foto tirada do Facebook, junto com minha conta suspensa por 24 horas. No caso, era uma performance da Vanessa Beecroft… Eu já denunciei dois perfis, um porque mostrava um menino transando com uma menor de idade na frente dos amigos em um ônibus público; o outro por racismo e preconceito. Adivinha se eles foram retirados do ar?

    Eu concordo que deve haver um limite ou algumas regras sobre o que pode ou não ser publicado em um mundo do tamanho do Facebook, em que 1 bilhão de pessoas posta tudo o que vem à sua mente. Mas a patrulha tem que funcionar adequadamente, com o propósito correto e reconhecer o que é arte, o que é pornografia. Não parece uma tarefa impossível pro cara que mudou a comunicação no mundo.

    No caso de Polly Penrose, seus ensaios são como rituais para ela mesma. Entrar num ligar, imaginar suas histórias – alegres ou tristes – buscar espaços, pensar o que ocorria ali antes do lugar ficar abandonado. Então ela tira a roupa e inventa posturas para cada cena. “Nunca tenho tempo para mim e, com isso, posso respirar, entrar de verdade nessa história. Eu preciso, é muito relaxante”. A foto da cadeira abaixo lembra uma série de Sam Taylor-Johnson (aka Sam Taylor-Wood) em que ela faz um trabalho com a gravidade, mas não deixa de ser impactante.

    foto nu 2

    ©Polly Penrose

    foto sam taylor wood

    ©Sam Taylor-Johnson

    O interessante é que esse processo fez com que ela retomasse seu orgulho e sua auto-estima não apenas com a fotografia, mas com seu próprio corpo. “Tenho cicatrizes de uma cirurgia nos seios, minha barriga está mais flácida após dois filhos, mas amo ele assim. Na verdade, meu trabalho não é sobre o meu corpo, mas sim sobre o meu corpo em um espaço. Não tenho nada contra, mas não é um ensaio sexual. É um registro de uma performance forte, dinâmica e interessante. Não é meu negócio me esticar em uma chaise longue…”.

    As posições têm a ver com momentos pelo qual ela passa ou posturas que o próprio espaço pede. Para conseguir a foto, ela repete até 60 vezes, muitas vezes em situações de dor ou desconforto. A opção por não mostrar seu rosto é justamente porque, na maioria das vezes, ela está fazendo um esforço enorme para se manter parada daquele jeito, parecendo, segundo ela, uma “wild beast”. “Fora que as posições em que me coloco perdem a força quando mostro meu rosto”.

    Penny perdeu anos pensando que nunca seria uma fotógrafa. “Tenho muitos amigos fotógrafos e eles têm essas luzes incríveis, um monte de equipamento, técnicos pelo estúdio”. Ela descobriu que não precisa disso, pois em suas fotos, usa o que está à disposição para explorar a identidade feminina. “Muitos dos nudes de mulheres são feitos por homens, é uma outra história. Mesmo quando é feito por outra mulher, ainda é uma conversa entre duas pessoas. No meu caso, eu reajo ao espaço e esqueço que a câmera está lá. E me tornei boa nisso, consigo fotos legais assim e tenho muito orgulho”. Ela recebe muitas mensagens de outras mulheres falando que se emocionaram com o trabalho e em como passaram a não gostar de seus corpos após ter filhos ou envelhecer. Deveria ser normal, mas é libertador ver uma mulher que não é retocada.

    Além de uma boa fotógrafa, Penny tornou-se também um ótimo exemplo de respeito, libertação e força feminina.

    foto nude 13

    ©Polly Penrose

    foto nu 9

    ©Polly Penrose

    ©Polly Penrose

    ©Polly Penrose

    ©Polly Penrose

    ©Polly Penrose

    ©Polly Penrose

    ©Polly Penrose

    ©Polly Penrose

    ©Polly Penrose

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