Bobby Gillespie fotografado por Harley Weir para a Another Mag ©Reprodução
Há 10 anos, Bobby Gillespie se casou com a stylist Katy England vestindo um terno branco com bordados que poderia ter saído da passarela da Gucci na última temporada – ou da próxima.
Estilo e atitude são coisas que você tem ou não. O vocalista do Primal Scream tem de sobra e não é de hoje que sabemos disso. Quando ele estourou com o disco Screamadelica em 1991, mal imaginava que se tornaria uma espécie de Kate Moss ao contrário, alguém que transita à vontade entre o rock e a moda sempre como um influenciador (de verdade).
Assim que conheceu England (atual consultora e stylist da Givenchy), ela o levou a um desfile do Mcqueen no qual assinava o styling. “Fiquei nervoso porque não sabia que impressão causaria no povo da moda, mas descobri que um monte de meninas que estavam trabalhando no desfile eram as mesmas com quem eu costumava sair pras festas e bares. E vi que o pessoal da moda é tão maluco quanto o da música”, disse em uma entrevista à Vogue inglesa.
Aí Bobby começou sua história com a moda – e da moda com ele. E neste momento está acontecendo um revival da paixão por Gillespie. Em pouco tempo, ele apareceu em duas campanhas, a do Pre-Fall da Acne – feminino – e o projeto de vídeo da Gucci The Performers, em parceria com a GQ britânica, sem contar convites para desfiles de Saint Laurent (com Hedi Slimane) e Givenchy, duas marcas que flertam com ele, mandam roupas e fazem ternos sob medida.
Bobby não é uma pessoa “fashion”, mas é considerado um ícone de estilo. O que ele tem que fotógrafos, stylists e estilistas são atraídos por ele como um ímã?
1. Estilo próprio, praticamente o mesmo há 30 anos, que mistura o lado glam do rock com o dos porões underground da cena londrina, apimentado por um toque retrô e um gosto especial pelos anos 70. 2. Atitude. Ele usa o que quer e parece não estar preocupado com sua imagem como uma maneira de comunicação. Desculpe, mas só ele mesmo consegue se safar usando aquela camisa vermelha com gola pontuda (foto na galeria). 3. O cabelo preto e longo, jogado no rosto desde seus tempos no Jesus and Mary Chain, com poucas variações de comprimento de lá pra cá.
Calça skinny, camisas estampadas, coloridas ou listradas (malucas, engraçadas, inusitadas), jaquetas de couro, blazers de veludo, suéters felpudos, Chelsea boots… Tudo isso saiu do seu guarda-roupa para a campanha de Pre Fall 17 da Acne fotografada por Colin Dodgson. “Sempre me interessei pela expressão pessoal através da moda”, diz Jonny Johansson, diretor criativo da marca. “E muitas vezes eu me inspirei na expressão de músicos. Quando estava para acabar a coleção, me dei conta de que havia desenhado muita coisa para Bobby Gillespie”. O jeito andrógino e mais frágil do cantor também fala com o momento atual do genderless. E ao mesmo tempo, ele é hétero, casado, rockstar e não vê problema em se vestir com roupas femininas, ajudando também a quebrar os paradigmas das roupas feminina e masculina junto ao público.
O mesmo parece ter acontecido na campanha de Marc Jacobs no Verão 12, com fotos de Juergen Teller. Com o styling assinado por sua esposa, Bobbie ficou a cara da marca. Ou a marca a cara dele?
Essa semana, a Gucci anunciou o projeto The Performers, uma série de cinco curtas que retrata o cotidiano de homens influentes vagando de Gucci por lugares inesperados.
E claro, quem estreia é Mr. Gillespie em uma viagem ao Marrocos para refazer os passos do escritor e poeta francês Jean Genet. Dylan Jones, editor-chefe da GQ inglesa, publicação parceira, diz que “esta colaboração é uma oportunidade incrível de mostrar talentos que nos inspiram e que são indicadores de gosto, classe e criatividade”.
Em Higher Than the Sun, ele escreveu: “I’m beautiful, I wasn’t born to follow”. E não podia estar mais certo.