O estilista escocês Christopher Kane ©Reprodução
Ok, ok, sei que estou atrasada para escrever esse texto, já que na nossa vida real virtual, um desfile que aconteceu há apenas quatro dias já é assunto velho. O que acontece é que um motivo maior (meu casamento, no caso) caiu bem no meio da temporada de Londres e só agora estou correndo atrás dos looks perdidos. Foi quando me deparei com o desfile do escocês Christopher Kane, mostrado em Londres dia 17.09. E é justamente desse desfile – e desse menino – que eu quero falar. Veja a coleção completa aqui
Kane é um gênio. Sabe qual a inspiração dele para essa estação, de Primavera-Verão? Flores. Que original, você pode pensar. Flores: a principal inspiração para a primavera. Diga-se de passagem, é um tema recorrente, trabalhado à exaustão. Por sorte há muitos estilistas inteligentes e sensíveis que passam longe do óbvio e encontram – ainda – nas flores inovação, modernidade, elegância e simplicidade.
Vestidos leves brancos com organza clarinha na coleção de Christopher Kane ©Imaxtree
“Os florais já foram trabalhados à exaustão e eu não queria fazer nada parecido com o trabalho de ninguém”, ele disse após seu desfile. Então Christopher voltou para sua escola na Escócia, onde reencontrou seu professor de artes e reviu livros sobre botânica, daqueles que a gente vê quando estuda fotossíntese. E aí moram muitos símbolos de comparação entre a flor e a mulher. A beleza, a estranheza, o desabrochar, renascimento e morte, esplendor e queda, o encanto e o mistério.
Os primeiros looks, mais escuros, mostram pétalas de couro sozinhas recortadas em vestidos de seda, acompanhando o corpo e as formas, revelando a pele. Quase vemos o seio, quase vemos a barriga, a coxa, o ombro… Então tudo começa a ficar mais fluido, mais claro e leve, um botão desabrochando. E aí aparecem alguns dos melhores momentos, como o suéter verde menta com a palavra Flower no peito e os vestidos leves brancos emendados com organza verde clarinha. Mas nada prepara para o verdadeiro esplendor dessas flores/mulheres: um deslumbre visual e técnico em quatro looks metalizados com fios de metal desgastados nas mangas e barras. Execução impecável.
Trabalho surpreendente e Alana Zimmermann (a última da esq. para a dir.) linda em um dos looks mais fortes da coleção ©ImaxTree
Kane fala de flores e mulheres de uma forma estranhamente, mas absolutamente, feminina. Em uma mesma coleção consegue ser sério e pop, minimalista e extravagante, sexy e sóbrio, clássico e moderno, usável e experimental. O desfile gigante para um estilista do seu tamanho (53 looks) revela que sua parceria com a Kering (que neste ano comprou 51% de sua marca) só trouxe mais foco ao seu trabalho. O estilista não abandonou suas raízes e continua no controle de todo o processo criativo e de produção. “Sou mão na massa. Faço tudo na minha marca. E quando eu não posso fazer, ninguém mais pode”.
Notícias recentes revelam que, em breve, Kane abrirá sua primeira loja flagship, em Mayfair, em Londres. Motivos para sorrir não faltam. E ele merece.
*Christopher Kane nasceu na Escócia em 1982, estudou na Central Saint Martins e fez estágio com Giles Deacon antes de abrir sua marca em 2006 com sua irmã Tammy, que cuida da parte administrativa. Seu primeiro desfile, com vestidos neon super curtos e justos, foi o começo bem sucedido de sua história de sucesso. A crítica especializada elogiava tanto que, em sua terceira coleção, dias antes do desfile, 23 peças e um computador foram roubados de seu ateliê. Kane já ganhou diversos prêmios de moda e design, fez coleções para a Topshop e parcerias com profissionais como Manolo Blahnik. Ele também passou uma temporada como diretor criativo da Versus. Hoje é considerado um dos maiores talentos de sua geração.
No início do desfile, pétalas de couro metalizadas e recortadas em clima de revela/esconde ©ImaxTree
Momento mais pop na coleção de Christopher Kane ©ImaxTree
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