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    Cradle to Cradle é a nova Bauhaus
    Cradle to Cradle é a nova Bauhaus
    POR Redação

    Por Gabriela Machado André, em colaboração para o FFW

    Michael Baum / Reprodução

    Michael Braungart / Reprodução

    Foi na década de 1980, quando fazia parte da equipe ativista do Greenpeace, que o químico alemão Michael Braungart se convenceu de que protestos não seriam o suficiente para tornar o mundo livre de poluentes tóxicos. Era necessário desenvolver um novo modelo para a indústria – e foi o que ele fez quando lançou, em 2002, o livro Cradle to Cradle, em coautoria com o arquiteto americano William McDonough.

    Na tradução, “Do berço ao berço”, o conceito é inspirado nos fluxos da natureza, onde os resíduos viram nutrientes e alimentam ciclos sucessivos que garantem a sobrevivência das espécies. E na melhor das hipóteses, ainda prestam serviços de melhoria à qualidade de vida das pessoas – como é o caso das árvores.

    Na prática, a ideia é desenvolver produtos, sejam eles roupas ou navios, com materiais ecológicos que, ao final de seu ciclo de uso, aluguel ou compartilhamento, possam ser facilmente desmontados, reciclados ou devolvidos à terra.

    Em relação à durabilidade dos produtos, a premissa é de que quanto mais usarmos serviços de compartilhamento, os produtos serão produzidos com maior qualidade. O mindset deixa claro que o nosso atual sistema linear, onde os materiais vão “do berço à cova”, tem sérios problemas de design. As ideias do Cradle to Cradle são também base conceitual para a Economia Circular, que tem hoje a fundação inglesa Ellen MacArthur como principal porta-voz.

    Em visita ao Brasil neste último fim de semana de março, o Prof. Dr. Michael Braungart explicou às plateias da Casa Firjan, no Rio de Janeiro, e do evento Green Nation, em São Paulo, a importância de separarmos os materiais em dois grandes ciclos, um biológico e outro técnico. Dessa forma, evita-se o downcycling – processo que resulta na perda de qualidade dos materiais e inviabiliza que sejam reciclados. Nessa perspectiva, tecidos mistos, como o algodão com elastano das calças jeans e até mesmo as soluções de reciclagem têxtil que unem retalhos de algodão virgem a fibras de poliéster, deveriam acabar.

    Michael disse que os R’s da sustentabilidade (Reduzir, Reutilizar, Reciclar) já estão ultrapassados e contou à plateia que encontrou mais de 400 tipos de plástico dentro de um pássaro – sendo isso um sinal de que apenas reduzir não é suficiente. “Se reduzirmos o tamanho da embalagem, não significa que ela se tornou boa. Depois de 40 anos de discussão ambiental, vamos falar em termos de inovação, qualidade e beleza? Um produto que vira lixo não é bonito”.

    Com um discurso rico em dados de impacto ambiental – como o das cinco mil fraldas que um bebê consome ao longo de sua vida, e o fato de apenas nove entre os cerca de 41 elementos que compõe um telefone celular, estarem sendo reciclados – Michael também fez algumas piadas, uma delas com o nome do evento onde palestrava em São Paulo: “No momento não somos uma Green Nation, pois na verdade o que estamos fazendo é “Cremation”, enterrando e inutilizando recursos.” Em outro momento, comentou que o presidente americano Donald Trump “pelo menos é sincero ao dizer que não se importa com o meio ambiente, ao contrário dos políticos europeus, que apenas enganam”.

    Ele também fez comentários em relação ao cenário político no Brasil – “Sei que agora a situação política é crítica no país” – e convidou estudantes interessados a estudar o Cradle to Cradle na Alemanha: “Se vocês não estão satisfeitos, venham trabalhar nas universidades como cientista convidado. Se vocês quiserem se conectar, não é difícil. Você pode fazer o seu PhD comigo, venha!”. Michael comentou ainda a falta de saneamento no Rio de Janeiro: “É um desastre, e esse esgoto deveria estar há muito tempo tornando-se recurso para outros ciclos acontecerem.”

    Certificação e consultoria com influência globalc2c

    O primeiro slide da palestra dizia “Cradle to Cradle: a nova Bauhaus”, como sendo o título da palestra (na realidade divulgada como “Design para a Abundância:  Um conceito para além da sustentabilidade”). A comparação com a disruptiva escola alemã de arquitetura da década de 1950 não parece tão ambiciosa para uma iniciativa que tornou-se um sofisticado instituto de inovação, que certifica produtos de empresas como C&A, Puma e Stella McCartney, e influencia designers no mundo todo. Ter o selo “C2C”  em um linha de produtos hoje, é sinônimo de modernidade e vanguarda industrial.

    “Qualquer designer que queira ter orgulho do que faz, e não deseja criar lixo tóxico, desenha segundo o Cradle to Cradle”, disse o químico, que também é CEO do instituto de pesquisas científicas em biologia e química ambiental, EPEA (Environmental Protection Encouragement Agency), e sócio de William McDonough na empresa de consultoria MBDC (McDonough Braungart Design Chemistry), que acompanha empresas como Nike e Phillips no desenvolvimento de produtos com expertise em design para a desmontagem e extensão de ciclo de vida. Aqui no Brasil, o EPEA, é representado pelo escritório paulistano de design Flock, que trabalha com design circular e desenho de produtos em diferentes projetos.

    O certificado C2C leva em conta seis critérios de avaliação: saúde dos materiais, potencial de reciclagem, uso de energias renováveis, emissões atmosféricas, consumo de água e justiça social. Os produtos ou materiais podem receber pontuações nos níveis básico, bronze, prata, ouro e platina. A iniciativa também possui um braço de certificação totalmente focado em moda, o Fashion Positive. O site funciona como uma biblioteca de fios, tecidos, tingimentos, aviamentos e peças de roupa feitos de materiais orgânicos, biodegradáveis e de baixo impacto.

    Na lógica circular, os materiais de alto valor agregado poderão ter “passaportes”, ou um ID, que identifiquem a sua composição exata, de onde vieram e para onde continuarão a viajar. Bancos de materiais poderão gerenciar essas transações ou mesmo órgãos dos próprios governos.

    Segundo ele, a exploração de recursos naturais, especialmente metais escassos como o cobre, deveria cessar. Os países poderiam alugar esses recursos como serviços, na forma de componentes industriais ou diluídos, e acabar com um sistema que “privatiza os lucros e socializa os riscos”.

    De volta à palestra, quando perguntado sobre o uso de roupas de segunda-mão como uma opção para os problemas da indústria da moda, Michael respondeu: “Eu tenho dois irmãos mais velhos e sempre tive que usar as roupas usadas deles, mas tenho que dizer que odeio usar roupas com tecidos antiquados e fora de moda. Muitas marcas já estão fazendo um excelente trabalho na pesquisa de materiais eficazes. Adoro a moda e reconheço o valor que ela oferece ao permitir que as pessoas se expressem e sejam mais felizes.”

     

    Gabriela Machado André é jornalista especializada em Comunicação e Educação Ambiental pela IUSC-Barcelona, e Comunicação e Marketing de Moda pelo IED-SP. Criou em 2016 o blog Roupartilhei/@roupartilhei, onde escreve sobre o cenário e inovações na área de moda e sustentabilidade. Oferece o workshop “Comunica-ação para a Moda Consciente” e consultorias estratégicas e de conteúdo para iniciativas na área. Integrou em 2018 a equipe do projeto Índice de Transparência da Moda Fashion Revolution, e atualmente é parte da equipe do Instituto Ecotece.

    *Os artigos assinados são de exclusiva responsabilidade dos autores e não refletem necessariamente a opinião deste site.

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