01.06.2018 / Moda / por Augusto Mariotti
Exposição Margiela / Galliera, 1989 - 2009: as roupas falam, o criador não

O poster da exposição na frente do Museu Galliera / Fotos Augusto Mariotti
Silêncio sempre foi a regra de Martin Margiela, o estilista belga cujo approach conceitual desafiou as estéticas padrão da moda. Margiela criou sua marca, a Maison Martin Margiela em 1988 em Paris e nunca sequer apareceu ao final de seus desfiles para os aplausos nem deu entrevistas após a criação da marca.
Porém as roupas sempre falaram por Margiela, cujas criações foram tão transformadoras para a moda quantos as de Yves Saint Laurent e Cristóbal Balenciaga. Ele permaneceu à frente da marca por 21 anos, de 1988 a 2009, quando fez seu último desfile, com a marca já sob o comando de Renzo Rosso e seu grupo Only The Brave, também dono da Diesel e que comprou a Martin Margiela em 2002.
São esses 20 anos que são contados na exposição retrospectiva “Margiela / Galliera, 1989-2009” em exibição no Museu Galliera, em Paris (até 15 de julho) e se tornou programa indispensável para os amantes de moda, design e criatividade em passagem pela cidade.
Ao chegar ao museu me deparei logo de cara com um tapete branco criando uma passarela entre os jardins do antigo palacete e a entrada do prédio dando a sensação de que você estava chegando a um dos desfiles de Margiela. O branco sempre foi a cor marca registrada do designer. Todas suas lojas e os jalecos (uniforme usado por toda equipe) desde sempre foram brancos como em um laboratório de química.
Montada em ordem cronológica, a exposição emocionante exibe mais de 130 looks completos, vídeos de desfiles, objetos de arquivo e algumas instalações especiais com móveis, discos de vinil, fitas K7 (Margiela era fã de Iggy Pop) e moldes. Podemos ver de perto o primeiro lookbook, o suéter criado com meias brancas e o manual de instruções de como ele foi feito (DIY total) assim como os icônicos looks em que Margiela descontrói formas clássicas da moda expondo o interior, as costuras e acabamentos, relevando as diferentes partes como ombros e ombreiras (foco de muitas de suas coleções), pregas, estampas, forros e costuras.
Ali também estão expostos seus exercícios de proporção. Podemos dizer que Margiela foi o primeiro designer a criar roupas com medidas fora dos padrões da alta moda, aumentando as roupas em até 200% para sua coleção intitulada “Oversize Collection”. Ou mesmo o primeiro a questionar o desperdício das roupas com sua coleção ‘Artisanal”, criada com restos de materiais, tecidos vintage e materiais desprezados pela moda como plástico (ao menos naquela época). Mais tarde essa linha viraria sua linha de Alta Costura. Ironia pura.
Se hoje os desfiles das marcas de luxo acontecem em locais alternativos, como um balanço a tanta opulência, nos anos 90 Margiela já fazia seus desfiles em estacionamentos e galpões, terrenos abandonados. Tudo isso pode ser melhor entendido através dos muitos videos de desfiles, alguns deles raríssimos.
Um total paradoxo dos tempos atuais de máxima exposição, Margiela acreditava que a fama vinha do anonimato e mesmo assim segue influenciando toda uma nova geração de criadores e influenciadores digitais e super expostos, como Demna Gvasalia e Kanye West.
A exposição, que tem direção criativa do próprio Margiela, fica em cartaz no Museu Galliera até o próximo dia 15 de julho. Se for a Paris, não deixe de ver.
Abaixo alguns registros que fiz durante minha visita para dividir aqui com vocês.

O tapete branco extendido na frente da entrada

O sapato “tabi” com os dedos divididos, marca registrada da Margiela, aqui com fita adesiva

Uma das instalações de objetivos dos ateliers
