via @coolintheheat

O primeiro dia do “Pense Moda”, especial para o MMI, foi uma oportunidade única para se aprender como é feita, uma publicação tão singular no mercado editorial brasileiro: a revista “MAG!”. Em duas mesas/sabatinas intituladas “O processo criativo por trás da FFW Mag!”, o editor de moda Paulo Martinez e a diretora de arte Graziela Peres compartilharam todas as suas experiências com a plateia. As duas mesas tiveram a apresentação de Marina Dias. Na primeira Paulo Borges foi o mediador, com participação da jornalista Simone Esmanhoto. Na segunda rodada de conversas, a empresária, “embaixadora” da Bahia, Lícia Fábio foi a mediadora com colaboração de Camila Yahn, idealizadora do Pense Moda em São Paulo.

A história dos 4 anos da “MAG!” foi repassada e o seu publisher Paulo Borges, logo no ínicio da sabatina, deixou claro a visão da moda que a revista possui: “Moda não é roupa. Fazer moda é fazer política”. O discurso foi reforçado por Martinez e Peres, que deixaram claro que a “MAG!” usa as roupas como um instrumento para inspirar e provocar seus leitores. Tendências e regras rígidas do que vestir passam muito longe do centro da publicação, como seu editor de moda fez questão de ressaltar: “A maior tendência é o espelho da sua casa”.

A publicação da “MAG!” fica a cargo da Luminosidade, que por não ser uma editora, se desafia a ousar produzindo edições elaboradas, caras e praticamente impossíveis de serem reproduzidas por outras revistas nacionais. Simone Esmanhoto resumiu bem o papel da revista: “Ela é significativa, porque traz um tratamento de moda além do consumo, com uma inteligência por trás”.

Essa inteligência começa a se manisfestar quando é pensado o conceito de cada edição. Graziela Peres se orgulha ao dizer que as edições bimestrais possuem cada uma um tema específico, onde o design tem papel fundamental assim como o “respeito pela imagem e pelo texto”. Em seu primeiro ano, a “MAG!” mergulhou nas raízes brasileiras, como que desejando investigar suas origens. No ano seguite a sustentabilidade pautou as edições. Conectada sempre ao espiríto do seu tempo, o seu terceiro ano foi dedicado às capitais globais (Los Angeles, Berlim, Tóquio, Londres), depois as grandes emoções, ou temas que nos motiva intuitivamente, mas tudo sempre com forte ironia e desconstrução de clichês (alegrias,crenças,paixão, erotismo, liberdades e luxo).

Em 2010, a revista revela a busca por novos rumos e experimentações, por isso os conceitos são as direções (Centro, Norte, futuro e a próxima edição deve ser o Sul). Além dessas edições principais, existem as especiais como a “MAG! Coleções”, lançada em Salvador e que traz registros das coleções das principais grifes brasileiras que desfilam no Calendário Oficial e tem suas fotos expostas no 3º piso do Shopping Iguatemi Salvador.

Criar cada edição é um processo laborioso, artesanal e isso depende da grande sintonia existente entre as duas principais cabeças pensantes da revista, Paulo Martinez e Graziela Peres. Nos bastidores, as discussões para se chegar a um resultado final passam por experimentação, acertos e erros. Ambos concordam que “não existe uma precisão imediata na feitura das matérias, elas envolvem as referências de cada um”. O momento de finalizar o trabalho é uma decisão proveniente da experiência e intuição.

“Eu quero fazer história com a MAG!”. É um desejo compartilhado por todos os envolvidos. Paulo Borges completou afirmando que a “MAG!” educa o olhar e seu papel é provocar. A revista já deixa a sua marca. É uma publicação que expõe majoritariamente criações nacionais, se tornou objeto de colecionador, é vendida na prestigiosa Colette de Paris, tem Karl Lagerfeld.

Agora as mentes por trás da “MAG!” enfrentam o desafio do futuro, de se reinventar num cenário da moda mundial tão conturbado onde existe uma hiperoferta de produtos, de imagens, referências e revistas. Onde o desejo das pessoas pode se perder em meio ao tédio e a repetição. Algumas clareiras já se revelam graças a revistas como a “MAG!”, que sempre deu espaço, liberdade criativa e demonstra que o futuro está na mudança de discurso, como assinalou Paulo Borges. Para ele as palavras “moda” e “tendência” vão desaparecer e o “design” é que vai prevalecer como o grande despertador do desejo pelo consumo. Martinez reforça que os editorias precisam construir histórias complexas, atraentes, que envolvam afetividade, inspirem cada pessoa a criar seu jeito próprio de se vestir. A roupa passa a ser uma ideia que se veste.

Nessa discussão, elementos contraditórios duelam _como o mundo virtual vs. editorial impresso,  o mercado emergente do fast-fashion vs. a busca pela singularidade das roupas dos brechós_, quando na verdade precisam ser encarados como complementares, porque eles devem agregar valor e não excluir um ao outro. Esse debate foi ficando cada vez mais acalorado e algumas revelações foram feitas por Paulo Borges. Uma foi que a “MAG!” em 2011 precisa se tornar uma nova revista dentro desse panorama de renovação e até o São Paulo Fashion Week (nossa semana de moda mais importante) será afetado, não haverá apenas desfiles de roupas, o design será o elemento central. Bons ventos parecem soprar no futuro da “MAG!” e da moda nacional.