Inverno 2013 – O FFW está na semana de moda de Paris a convite da Dona Santa Fashion Tour, projeto da multimarcas de Recife Dona Santa. Acompanhe também por meio dos blogs Ju Santos e Dona Santa|Santo Homem.
Looks do desfile grunge da Saint Laurent, em Paris ©Imaxtree
Mais uma vez, Hedi Slimane centralizou a semana de moda de Paris na apresentação da Saint Laurent, que aconteceu na segunda à noite (04.03).
Imediatamente após o desfile, e nos dias que se seguiram, Twitter, Facebook e Instagram não pouparam posts, fotos e comentários do tipo: “Pior que Topshop”, como foi deixado no Instagram de Anna Dello Russo; “Out Slimane”; ou o óbvio “Yves deve estar se revirando no túmulo”.
Para quem conseguiu escapar ileso de tamanha revolta fashion e não está acompanhando o enredo, explico: após uma estreia conturbada para a Saint Laurent, que envolveu brigas com editores e abuso de poder para uma coleção nada brilhante, Slimane apresenta uma coleção inspirada no grunge da Califórnia.
Saint Laurent grunge. Oi? Não foi apenas “a inspiração” que incomodou, mas a aparência “podrinha” de muitas peças que, se têm muito a ver com a estética grunge, nada tem a ver com YSL.
Os principais editores de moda fizeram o possível para serem educados e gentis com Slimane, afinal, ele é um profissional com uma visão que já rendeu muitos bons momentos na passarela, para a Dior Homme, e na fotografia.
Looks do desfile grunge da Saint Laurent, em Paris ©Imaxtree
Quando um estilista assume uma maison, espera-se sim que ele entre com ar fresco ao mesmo tempo que trabalhe com os principais elementos da marca e com a herança, transformando o antigo em novo e desejável.
Yves sempre foi um estilista visionário e moderno, assim como Slimane é considerado hoje. Mas nem mesmo tanta visão foi capaz de fazer uma conexão com o universo YSL. Ao contrário, o desfile foi um convite ao mundo de Slimane, com garotas de cabelos bagunçados, peças com cara de usada (mas que custam uma fortuna), a juventude cheia de frescor da Califórnia (onde ele vive) e uma pimenta rock’n’roll. Claro, tudo ao som de uma bandinha cool tocando, o Thee Oh Sees (Slimane tem uma forte ligação com música, em especial com bandas de rock).
“A coleção que Slimane mostrou não grita, não diz nem cochicha o nome Saint Laurent”, dispara o “WWD”. Minivestidos floridos ou pretos, usados com paletós, jaquetas de flanela ou cardigans com aspecto surrado, arrematado com meia arrastão e botas pesadas. Kurt & Courtney. “Muitos editores não pareciam morrer de amores pela coleção, mas vi peças que podem ser lucrativas comercialmente. Já a conexão de grunge com o senhor Saint Laurent é que não ficou clara”, escreveu Eric Wilson, do “The New York Times”.
Segundo Wilson, ao sair do desfile, ele ouviu frases assim: “Ele está brincando com toda a indústria de moda”; “o desfile que importa mesmo é amanhã às 10h30” (referindo-se a apresentação da Chanel).
Looks do desfile grunge da Saint Laurent, em Paris ©Imaxtree
Não houve o choque do novo, como diz o editor Tim Blanks ao FFW: “O meu ponto é que as peças não tinham o frescor que estamos acostumados a ver com Slimane. Quase nada parecia novo”.
Quem vai pagar milhares de euros por um cardigã velho, mesmo que sob o brasão da Saint Laurent? Segundo o “WWD” apurou, os executivos da maison querem que as coleções atraiam um público mais jovem. Marcas especiais e históricas, como YSL e Balenciaga, estão reformulando seu próprio DNA e esquecendo sua trajetória e os símbolos que as transformaram em referências de moda. Por trás dessas mudanças, estão planilhas e calculadoras, um mercado bilionário e altamente competitivo.
Resta saber se as tais jovens vão embarcar, afinal, Courtney Love não é exatamente uma musa Saint Laurent, certo? Que o grunge fique nos domínios de Marc Jacobs. E que Yves descanse em paz enquanto a moda cai de amores por Céline, Haider Ackermann e Givenchy.