HomeNewsModa
ModaNotíciasStreet StyleRed CarpetShooting
ColeçõesBelezaCultura
CulturaArteMúsicaCinema & TVDesignGenteViagem
FFW AmaFFW Aprender

Selecione
Ordenar por


HomeNewsModa
ModaNotíciasStreet StyleRed CarpetShooting
ColeçõesBelezaCultura
CulturaArteMúsicaCinema & TVDesignGenteViagem
FFW AmaFFW Aprender

HomeNewsModaColeçõesBelezaCulturaFFW AmaFFW Aprender
ModaNotíciasStreet StyleRed CarpetShooting
CulturaArteMúsicaCinema & TVDesignGenteViagem
 

O que acontece com as roupas que somos encorajados a doar?

08.12.2017 / Sustentabilidade / por FFW
"Lixo" têxtil em Bangladesh / Reprodução
“Lixo” têxtil em Bangladesh / Reprodução

Por Larissa Roviezzo* 

Em países desenvolvidos, geralmente, o descarte de roupas indesejadas é feito em “lixos de roupas”, que são enviados para centros de seleção que as redirecionam. Nesse contexto, pequenas quantidades de roupa são revendidas por instituições de caridade e lojas de second hand (segunda mão ou, popularmente, brechó) no próprio país, enquanto o resto é exportado para países em desenvolvimento, sendo estes os principais importadores as nações africanas e asiáticas.

A roupa barata que entra nesses países é revendida no mercado local a preços acessíveis para a população, mas isso consequentemente afeta gravemente o crescimento econômico da indústria têxtil interna. Parece incrível mas, mesmo que os países africanos sejam produtores de algodão e têm capacidade de manufatura têxtil, o produto final importado é vendido por um menor preço do que o desenvolvido no próprio país.

Uma pesquisa recente publicada pelo CUTS International (Consumer Unity & Trust Society) revelou que o algodão produzido na Comunidade da África Oriental (EAC) é tecido e convertido em vestuário na Ásia e enviado para os Estados Unidos e Europa para ser usado, em média, por dois ou três anos. Depois, é enviado de volta à EAC como vestuário de segunda mão usado por até 70% da população africana. Em outras palavras, o que é considerado descartável para alguns, é primeira opção para muitos.

Com o objetivo de promover o crescimento da indústria têxtil local, a EAC apresentou uma proposta de lei para banir a importação de roupas usadas a partir de 2019, o que é passível de discussão porque, afinal de contas, a atual realidade é consequência de decisões políticas e comerciais. Além disso, é necessário frisar que o impacto social e cultural é grande. A falta de valorização interna ameaça técnicas tradicionais de artesanato que contribuem para a identidade cultural local e o desenvolvimento da comunidade.

Enquanto isso, roupas que não podem ser reutilizadas são recicladas mecanicamente, geralmente a partir do processo “downcycling”, virando matéria-prima para indústrias de materiais de limpeza, de geotêxteis, entre outras. Esse processo é comum na Índia, por exemplo, um dos países com o trabalho de reciclagem têxtil mais expressivo do mundo.

No Brasil, a jornada das roupas descartadas não é bem esclarecida. Apesar de existir a cultura de doar roupas para instituições, infelizmente nosso processo de descarte têxtil ainda não é bem organizado.

Por um lado temos a cultura do brechó, onde na perspectiva do impacto ao meio ambiente, optar por uma roupa já usada significa preservar o uso de água, diminuir a quantidade de produtos químicos, de matéria-prima e energia, e, principalmente, não contribuir para mais lixo em aterros.

As peças encontradas em brechós, não necessariamente vintage ou baratas, representam uma cultura que já está bem estabelecida no país, mas poderia ganhar ainda mais adeptos. Ganhando mais âmbito no mercado brasileiro, talvez motivada pela a recente situação econômica, a mudança de hábitos e consumo já faz parte do contexto atual da moda. Projetos que possibilitam essa realidade, como a troca de roupas organizada pelo Projeto Gaveta e Trocaria, são alguns dos sinais de uma mudança de costume.

Foto do livro Pèpè, do fotógrafo Paolo Woods, que mostra a realidade das roupas de segunda mão no Haiti e o fato de ser cada vez mais difícil ver um haitiano usando algo que não foi usado anteriormente por um americano
Foto do livro Pèpè, do fotógrafo Paolo Woods, que mostra a realidade das roupas de segunda mão no Haiti e o fato de ser cada vez mais difícil ver um haitiano usando algo que não foi usado anteriormente por um americano

Silenciosamente, a prática de abrir mão da posse exclusiva de alguns produtos específicos já está inserida no nosso cotidiano há bastante tempo. Alugar vestidos de festa é um ótimo exemplo, pois mostra que, para usufruir de um bem, nem sempre a posse é necessária.

Mas porque o mercado de segunda mão ainda se distancia da indústria da moda como se existisse uma certa hierarquia? A partir do momento em que comprar uma peça nova se tornou extremamente barato (fast fashion), o reuso de roupas perdeu ainda mais espaço para o consumo do novo.

Mesmo que o consumidor se adapte cada vez mais à roupa de segunda mão, a verdade é que existe uma indústria que precisa continuar produzindo e consumidores que desejam comprar ao mesmo tempo que há a necessidade de diminuir o impacto de nossas ações. A grande questão é como convencer uma indústria que gera bilhões de dólares por ano a acreditar e investir em um projeto a longo prazo que consiste em juntar um pouco de tudo isso – consumo do novo, reuso e reciclagem de roupas.

O recente relatório “A new textiles economy: redesigning fashion’s future” ( “A nova economia têxtil: recriando o futuro da moda”) publicado no último dia 28 pela Fundação Ellen Macarthur em parceria com a H&M, Nike e Fundação C&A , mostra que o aumento da reciclagem representa uma oportunidade para a indústria reaver mais de US$ 100 bilhões em materiais perdidos pelo sistema todos os anos, reduzindo o impacto negativo do descarte.

O documento, que tem como objetivo incentivar a economia circular como novo futuro da moda, cita a importância de estimular a demanda por materiais reciclados e a necessidade de aumentar a coleta de roupas e investir em tecnologias de reciclagem. Esse objetivo comum para a indústria da moda global pode ser melhor estimulado a partir do uso canais de comunicação da cadeia têxtil e da criação e participação de organizações políticas.

Cyndi Rhoades, fundadora da start-up WornAgain e que atualmente colabora com H&M e o Grupo Kering, trabalha no desenvolvimento tecnológico para separar e recuperar poliéster e algodão e reintroduzi-los na cadeia de suprimentos como novas matérias-primas. Para Cindy, “já temos roupas o suficiente para satisfazer nossa demanda anual de novas matérias-primas para novas peças – tudo o que temos a fazer é garantir que não acabe no aterro, e, além disso, processos como o nosso precisam ser incentivados o mais rápido possível”.

Sendo assim, fica o convite para a indústria têxtil brasileira conduzir discussões em torno deste tema. O processo de reciclagem têxtil ainda enfrenta obstáculos a fim de chegar à perfeição do resgate das fibras. Mas a verdade é que com a atual tecnologia, esse cenário já pode mudar drasticamente.

Inovação na moda hoje é, sem dúvidas, a real aplicação da sustentabilidade em vários âmbitos. Por isso, cada vez mais cresce o número de iniciativas e empresas que lideram processos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico para reutilizar e recuperar o que já temos. É preciso aceitar que, involuntariamente, aquela camiseta velha doada com boa intenção também pode atrapalhar o crescimento e a cultura de outros países.

OBS: Fotos do livro Pèpè, pelo fotógrafo Paolo Woods. O livro retrata a realidade das roupas de segunda mão no Haiti e o fato de ser cada vez mais difícil ver um haitiano usando algo que não foi usado anteriormente por um americano. A maioria dessas “pèpè”, como as roupas são chamadas pelos locais, foram recusadas pelas cadeias de varejo de segunda mão americanas.

* Larissa Roviezzo mora em Berlin e é mestre em sustentabilidade na moda. É formada em design de moda, com experiência em marketing e desenvolvimento de produto.

 


Galeria de Fotos

Ver fotos
Pepe T-shirt. Haiti 2013
Pepe T-shirt. Haiti 2013
Compartilhe este conteúdo

Relacionados

Ver todos
captura-de-tela-2022-05-09-as-11-46-53
Sustentabilidade

Conheça a New Division, o oásis da moda vintage brasileira

Foto: @xxeyce
Moda

Saiba o que rolou na Semana Fashion Revolution 2022

Foto: George Cereca / Cortesia Fashion Revolution
Sustentabilidade

Semana Fashion Revolution 2022 começa com tema Dinheiro, Moda e Poder

metaverso-ffw-4
Sustentabilidade

Existe sustentabilidade no metaverso?

Mais Lidas
Mais Curtidas
1
TOP 10: As melhores faculdades de moda públicas do Brasil
2
Shein abre primeira loja física no Brasil
3
Balenciaga x Adidas: tudo sobre a você precisa saber sobre a collab
4
Top 10: as melhores faculdades de moda particulares do Brasil
5
Louis Vuitton e Nike fazem exposição para lançar a collab do Air Force 1
6
Gisele Bündchen está de volta à moda
7
Quem é Anna Wintour por trás do mito?
8
SPFW N53: confira a data, locais e o calendário desta edição
9
Por que o crescimento vertiginoso da Shein não é uma boa notícia
10
FRANCESCA revela primeira coleção de roupas
1
Entenda a mudança que irá transformar o sistema de moda
2
"Coronavirus pode ser um recomeço", diz Li Edelkoort
3
Revista Bravo! é relançada em formato independente
4
LAB de Emicida traz a voz das ruas para passarela do SPFW
5
Dossiê FFW: Os 10 hits dos desfiles internacionais do Inverno 2017
6
Sem tabu: as revistas nacionais que retratam o nu masculino
7
Por que Stella McCartney está anos luz à frente de outras marcas de luxo
8
A influência dos Peaky Blinders no mercado masculino
9
Reveja o desfile da Louis Vuitton que aconteceu no Rio de Janeiro
10
Lagerfeld lança estojo de desenho com a Faber Castell

Veja Também

Peça da coleção Casa Rosa, de Rodrigo Evangelista | Cortesia
Moda

Com a coleção SUPERNOVA, Rodrigo Evangelista prepara novos passos para a marca

burberry-ffw-2022-its-new-tb-summer-monogram-collection-with-a-campaign-starring-gisele-bsndchen_007
Moda

Gisele Bündchen estrela de campanha de verão da Burberry

Imagem do DFB Festival 2019 / Foto: Davi Magalhães/ Cortesia
Moda

DFB Festival começa nesta quarta em Fortaleza com desfiles, oficinas e mesas redondas

1
Moda

SPFW N53: confira a data, locais e o calendário desta edição

Colagem / Foto: Reprodução
Moda

Balenciaga x Adidas: saiba tudo sobre a collab

o desfile de resort 2023 da chanel em Monaco. foto: cortesia
Moda

O que é uma coleção de Resort e por que são tão importantes para a moda atual

Colagem / Foto: Reprodução
Moda

Conheça Eli Russel Linnetz, o estilista por trás de ERL

louis-vuitton-nike-air-force-1-low-white-blue
Moda

Louis Vuitton e Nike fazem exposição para lançar a collab do Air Force 1

robot-used-robot-robot-and-art-robot-controller-future-and-robotic-solution-a-3d-printed-dress-by-iris-van-herpen-robotic-industry
Moda

Designers de moda têm apostado na Impressão 3D para criar peças únicas

captura-de-tela-2022-05-18-as-16-30-53
Moda

Gisele Bündchen está de volta à moda

Foto: Cortesia
Moda

Isaac Silva lança coleção com Casa Neon em prol da causa LGBTQIA+

Foto: Reprodução
Beleza

Conheça Half Magic, a linha de maquiagens vegana de Euphoria


Sobre a plataforma FFWApoieSeja um ColaboradorAnunciePolítica de Privacidade
Sobre a plataforma FFWApoieSeja um ColaboradorAnunciePolítica de Privacidade
© 2022 FFW Media. Todos os direitos reservados | site parceiro do UOL Universa | design ps.2

Assine a newsletter do FFW

Seja o primeiro a ter acesso a conteúdos exclusivos. Nós chegaremos ao seu email semanalmente quando tivermos algo realmente cool e relevante para dividir.

×