Mais do que um couturier, Pierpaolo é um pintor, mestre das cores – quando se dedica a um único tom, o mostra toda em sua essência e vivacidade, quando compõem cartelas cria paisagens e obras de arte. Dessa vez não foi diferente. Bordôs, roxos, verdes cítricos, laranjas, azuis, amarelos, seu indefectível pink, que conseguiu roubar o posto do vermelho-assinatura da marca, parecia flutuar.
Sobre luz e sombra, magnetismo, encantamento e aparições dramáticas, envolventes, imagens que mais parecem miragens. Saias sereias, camisas bufantes, luvas justíssimas subindo pelos cotovelos, fendas de tirar o fôlego, balonês, capas – a roupa em seu estado máximo de protagonismo. Metalizados que parecem ouro, prata e cobre derretidos, com movimentos que inundam o olhar. Rendas finíssimas, texturas felpudas, ombros arredondados, costas arquitetonicamente construídas, bordados que remetem a candelabros.
Daqueles desfiles que te fazem sentir tesão, prazer e desejo pelo belo em seu sentido literário. Sabemos que a alta-costura é uma vitrine luxuosa para a venda de perfumes, mas em momentos como esse, lembramos do seu papel vital, em que as roupas ganham um status para além do ordinário, afinal o ordinário jamais tem espaço quando falamos da Valentino idealizada por Pierpaolo. “Numa época obcecada pelo artificial, o extraordinário, aqui é real”, podia-se ler no release. A máxima se referia às sedas transformadas em plumas e materiais transmutados em texturas de pele. Mas, claro, vale também para tudo que foi visto ali.