Enquanto vimos muitas marcas e diretores criativos expressando suas angústias e agonias com visuais distópicos e roupas como armaduras, Rick Owens, que sempre teve essa estética quase como sua assinatura, opta por outro caminho, não o que pavimentou. Para os designer, quando momentos sombrios e tensos como o que vive a Europa atualmente batem na porta, a beleza e a moda podem servir como uma forma de escapismo. Vemos uma silhueta um pouco diferente nessa temporada de Owens, mais seca, com menos aspectos destroyed e um visual, em geral, menos distópico, apesar da fumaça que ocupa a passarela. Talvez Rick Owens esteja cansado de pensar sobre o fim do mundo e queira buscar algum tipo de esperança em seu ofício. Talvez a realidade disso o tenha feito mudar de direção e levado a fazer uma coleção mais palatável ao olhar médio para atingir também o consumidor mainstream da moda de luxo.
A questão é que cores, longos vestidos glamourosos e brilhos aparecem na passarela, relativamente solar, para a surpresa de muitos. Owens reinterpreta o Old Hollywood Glamour, mas claro, à sua própria maneira: as silhuetas são desconstruídas, os brilhos ainda contidos e as formas não são nada comuns. As ombreiras continuam presentes, em formato de vales, como se duas montanhas pousassem sobre os ombros das modelos. Longos casacos e sobretudos aparecem, um outerwear formado de material inflável e puffer jackets com mangas que se arrastam até o chão. É uma das coleções mais coloridas do designer nos últimos tempos – talvez tão colorida quanto à sua coleção de “retorno” às passarelas físicas, no ano passado, quando a esperança pairava no ar. Apesar disso, as modelagens oversized, túnicas e peças com tom sombrio em preto-e-branco e cinza ainda pontuam a passarela, para o contentamento dos amantes de Rick Owens.
Na passarela, modelos desfilam com turíbulos e incensários modernizados, espalhando a fumaça e o aroma de sua nova colaboração com a Aesop. Em comunicado à imprensa, o designer conta que a inspiração para isso foi sua criação em uma escola católica, em que a “moral e os bons costumes” foram determinantes na formação de sua estética e modo de pensar nos dias de hoje. Irônico – ou não – como pensar que um designer que cresceu neste meio seja um dos que mais questiona a tal moral, a religiosidade e os tabus nos dias de hoje – vale lembrar da camiseta Urinal, apresentada na última coleção, em referência a um Golden Shower.