Menos codificada, menos abstrata, mas não menos tocante. A coleção de inverno 23/24 resgatou uma linha de raciocínio bem intrínseca à marca: reunir em um mesmo universo o feminino e masculino – o desfile apresentado mês passado entregava os principais caminhos que foram replicados na apresentação de hoje.
O convite-livro-catálogo “Recycling Beauty” reflete essa tentativa de olhar para seu passado (“Recycling Beauty é um estudo inédito inteiramente dedicado ao reaproveitamento de antiguidades gregas e romanas em contextos pós-antiguidade, desde a Idade Média ao Barroco. A exposição tem curadoria de Salvatore Settis e Anna Anguissola com Denise La Monica, design de Rem Koolhaas/OMA”, pode-se ler no site da Fondazione Prada).
A flor copo-de-leite feita em tecido que acompanhava o convite apareceu nas aplicações 3D como protagonistas em saias brancas de diferentes modelos e comprimentos. A roupa-uniforme tão prezada pela Prada também apareceu, assim como o efeito acolchoado, mostrando que o excesso de realidade nos faz querer sonhar – The Kinks tocando “I Go to Sleep” sincronizada ao bloco cocoon não deixa espaço para dúvidas.
As parkas, sinônimos de utilitarismo e funcionalidade ganharam costas arredondadas, acolhedoras, envolventes. Em tempos obscuros, nada melhor do que trazer à luz sua característica estranheza, o ugly chic deu as caras especialmente nas estampas inesperadas. A camisaria evoluída para longos noturnos demonstra o desejo de unir funcionalidade e fantasia. Desde a entrada de Raf, essa foi a coleção em que mais se viu Miuccia – pois apesar da mulher Prada estar mais gélida e distante, percebe-se uma presença bem italiana, quase nostálgica. Sonhos são bem vindos até diante de momentos adversos.