Luminárias em cascata, iguais às do hotel Intercontinental – locação dos desfiles da Saint Laurent durante décadas –, além delas um encorpado carpete, uma parede espelhada e nada mais. Por que? Porque as roupas se bastam. Era assim que Yves pensava. As cadeiras bem próximas a passarela elevada tinham motivo: até quem estava na terceira fila conseguia ver os detalhes com precisão – e isso foi repetido hoje.
Uma caixa preta construída aos pés da Torre Eiffel explicita um desejo latente: sai a pirotecnia, entram as roupas, elas são protagonistas, estrelas, musas. São passado, futuro e presente. Lembro de um trecho da biografia do Yves em que Loulou perguntava a Yves: “e esse look? luvas, colares, brincos ou tudo?” e ele respondia “mão livres, peito à mostra… apenas um broche, pois esse look se basta”. E foi essa a premissa seguida por Anthony Vaccarello para o inverno 23/24 apresentado hoje em Paris.
“Eu queria fazer algo em torno da elegância. É algo que talvez a gente não ligue hoje em dia ou talvez nem mesmo exista mais no mundo atual. Só sei que tinha esse desejo e de trazer de volta o significado de estar bem vestido”, disse Anthony após o desfile. Os looks com ombros exageradamente marcados e saia lápis surgem como um exército, ali não estão garotas, estão mulheres. Decididas, destemidas, opulentas.
Não para o outro, mas pra si, ou seja, nada de logos, mas cheia de aforismos, passos firmes. Cintura marcada, fendas frontais, no máximo a languidez de uma seda. Se em seus primeiros anos minicomprimentos e um desejo incessante de se comunicar com a Gen Z era lei, agora Vaccarello olha para uma mulher madura, misteriosa e criteriosa, afinal na aclamada recessão que vem por aí será ela que continuará a comprar.
A silhueta é dura, o xadrez tartan é sisudo, os ombros de aço, mas os laços, os laços desabam como flores, vaporosos, cheios de movimento. A regata (de seda) quase nadadora é a forma Laurent cochichar sensualmente: minimal-chic. O power dressing em seu sentido mais amplo. Para os que amam a moda, roupas e um quê de nostalgia.