A Handred abriu o último dia da #SPFW com show de referências artísticas e afetivas em coleção inspirada na tapeçaria, mostrada na galeria e antiquário Passado Composto, nos Jardins (SP). A apresentação, narrada pelo estilista André Namitala remetia aos primórdios dos desfiles de moda, quando eles eram feitos no ateliê do criador e narrados look a look para suas clientes. Mas o fundador da Handred atualizou esse conceito: ele alternou momentos em que pontuava detalhes técnicos da confecção das roupas, como o bordado de tapeçaria aplicado às peças ou a criação de vincos no tafetá e no cetim de seda, a passagens em que dividia histórias, pessoas e obras que o levaram a construir a coleção.
O desfile, então, se transformou quase numa conversa com tudo (ou quase tudo) o que você gostaria de saber do processo criativo de uma coleção, mas nunca teria tempo de perguntar num desfile. Criou-se aí um clima de proximidade, quase de troca de confidências. Quando o conjunto bordô com bordado floral aparece, André comenta que tinha dúvidas se a camisa de linho marrom, proposta pelo stylist Felipe Veloso, comporia bem com a calça e o colete, mas depois percebeu que sim. Já quando citou os desenhos do artista e ilustrador Filipe Jardim, que integram a coleção tanto em bordados quanto em estampas, o estilista lembra que, naquele exato momento, o artista deveria estar em algum lugar da sala fotografando tudo. Os desenhos abstratos, aliás, também aparecem interessantíssimos na beleza criada por Carla Biriba nos rostos dos modelos – entre eles Dudu Bertholini.
Além da arte de Filipe, há ainda referências a grandes tapeceiros brasileiros ou com histórias com o Brasil, como o pintor e tapeceiro francês Jacques Duchez, que morou no País. O patchwork criado em tons de marrom, azul e creme que aparece no vestido longo de saia abaulada e na jaqueta curta sequinha vem diretamente das cores e formas de uma obra de Duchez, exibida no segundo andar da Passado Composto. Antes de terminar e nos deixar com o último look, um longo de festa, André segue confidenciando impressões e uma fantasia que, para os 80 convidados presentes, provavelmente grudará na imagem da coleção: “imagine, nos anos 60 do Rio de Janeiro, Burle Marx voltando de uma festa a pé, pelo aterro do Flamengo”, ele diz (mais ou menos assim). Imaginaram?