Não preciso nem refrescar a memória, acho que todo mundo tem bem clara a imagem de Ivete Sangalo descendo a rampa sinuosa do prédio da Bienal, em versão apoteótica no último desfile da Misci, em maio. No desfile de hoje (12.11), a imagem se deu de outra forma. Em “O Culto a Si”, Airon mostra que seu olhar ufanista pode estar em outro espaço e tempo. Num antigo convento, curiosamente, o designer quis falar sobre identidade pessoal. O que se mantém: clientes-fãs que apostam sempre no look total da marca.
O que vimos nesse desfile de Inverno 2025 foi antecipado em seu primeiro showroom internacional, em Milão, o que nos ajuda a entender algumas das peças encorpadas e destoantes do calor de 30 graus que fazia em São Paulo – Airon agora passa a seguir um novo calendário de apresentação focado no atacado, que visa ter maior organização tanto fora, quanto em terras brasilis.
Para os que acompanham a marca desde os primórdios pode soar repetitivo em alguns momentos, mas o exercício do designer foi mostrar o que já domina e ir adicionando novos elementos e experimentações – o styling mesmo foi cheio delas. Teve upcycling em parceria com a artista Vivi Rosa e uma cartela bem terrosa, que foi interrompida de forma interessante por um bloco pontuado por azul esmaecido e off-white). Saem as estampas e entra a forma como protagonista. Os olhos – e as mãos – de Airon parecem ir cada vez mais longe e não se limitar aos nossos limites demográficos. Falar com quem já conhece e com quem não conhece, ainda mais.